ter, 10 de dezembro de 2024

Variedades Aplateia | 30 e 01.12.24

Ligações interceptadas pela PF ligam o vereador Melado a empresários

Relatório final da Polícia Federal indiciou o parlamentar na investigação de fraude no transporte escolar
O vereador foi levado à Penitenciária, em 2017, durante a operação (Foto: Fabian Ribeiro)

O delegado de Polícia Federal Leonardo Nunes entregou ao Ministério Público Federal e à Justiça Federal o relatório final da operação Laranja Mecânica, desencadeada para investigar uma organização criminosa que tinha o objetivo de lesar os cofres públicos através da concessão dos serviços públicos de transporte escolar. No documento que o Jornal A Plateia teve acesso nessa semana, a PF transcreve inúmeras ligações entre o vereador Lídio Mendes, o Melado (PTB) e o empresário João Pedro Clavijo, proprietário de uma das empresas prestadora de serviço.
Nas gravações, o empresário solicita apoio de Melado que, segundo a Polícia Federal, já estava atento aos interesses de João Pedro, como ocorreu no dia 05 de abril de 2017, quando Melado telefona para o empresário e fala para ir na Câmara de Vereadores com urgência:
Ainda no relatório da PF, tem outra conversa entre João Pedro e Melado, ocorrida em 09 de abril de 2017, onde o empresário mostra-se indignado com as ações de fiscalização de Júlio Cesar Doze, então responsável pela fiscalização do transporte escolar. Melado ligou para João Pedro dizendo teriam que conversar com o COI. Segundo a PF, o COI, supostamente, seria o então Prefeito ICO Charopen (PDT), cujas sílabas são pronunciadas invertidas, como forma de dissimular o nome do então gestor municipal:

Vereador Lídio Mendes, Melado (PTB)
(Foto: Marcelo Pinto/AP)

Ainda de acordo com o relatório da PF, Melado teria ido até o gabinete de Ico e promovido uma reunião entre João Pedro e o prefeito para tentar parar a fiscalização feita por Doze. Para a PF, Melado, “servindo-se de sua função de Vereador Municipal, foi até o gabinete do então Prefeito Ico Charopen, para que este contivesse as fiscalizações de Júlio Cesar Doze”. Melado “utiliza-se de ampla rede de relacionamentos, não restrita à sua atividade de vereador, mas decorrente da vida pública que exerce há mais de duas décadas, para defender os interesses escusos dos empresários do setor de transporte escolar no município. Para tal, promove reuniões com o Prefeito Municipal e leva consigo os empresários do setor, repassa informações privilegiadas para os mesmos empresários, solicita vantagem para si, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função, ameaça funcionário público municipal que está cumprindo com seu dever funcional e utiliza-se do cargo para difamar a honra daqueles que buscam coibir as práticas ilícitas da organização criminosa”.
Em conversa interceptada pela PF com João Pedro Clavijo, Melado, em troca de seus préstimos, “solicitou favores em dinheiro. Fato ocorrido apenas dois dias depois de ter intercedido junto ao Prefeito em prol das empresas de João Pedro”, explica a PF. “Lídio, ao ignorar as funções típicas do poder legislativo, age tentando corromper a própria administração pública municipal a qual é constitucionalmente obrigado a fiscalizar… Pela análise das condutas praticadas pelos investigados, constatou-se que não se tratou de eventos pontuais em que os agentes se uniam para praticar os crimes arrolados acima, mas sim de grupo que mantinha estabilidade e perenidade para que pudessem, cada um desempenhando tarefas próprias, porém coordenadas, lograr êxito na prática de diversos crimes indistintamente”.
Melado é acusado de corrupção e organização criminosa. No relatório, entre os demais indiciados, estão ainda os crimes de vantagens ilícitas e fraude.

Confira o diálogo


 

CONTRAPONTO

Procurado pelo Jornal A Plateia, no sábado, o vereador Lídio Mendes disse que ainda não foi citado sobre o relatório final e que, por isso, não teria como se manifestar. Em reportagem de maio de 2018, Melado havia falado sobre o dia em que foi levado para depor, antes de sua prisão, no dia da deflagração da operação Laranja Mecânica. Ele relatou sobre a reunião que disse que tinha agendado entre o prefeito e os empresários do transporte escolar. “Eu disse que sim, que tinha agendado, inclusive no dia da reunião foram convidados os vereadores do partido do prefeito, mas eu não fui”, afirmou.
A Plateia entrou em contato com a empresa de propriedade de João Pedro Clavijo, mas não encontrou o empresário, tampouco foi fornecida outra forma de contatá-lo.

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