Lideranças negras e movimentos jovens trazem o debate à Fronteira da Paz
Há algumas semanas, no estado americano do Minnesota, George Floyd, um homem negro, foi morto asfixiado pelo policial Derek Chauvin. A polícia foi chamada porque, de acordo com a imprensa local, Floyd tentou usar uma nota falsa de U$ 20,00 para comprar alimentos.
A cena foi gravada e ganhou o mundo rapidamente através da internet. Nos Estados Unidos uma série de manifestações tomaram todo o país pedindo um ponto final à violência policial, principalmente contra a parte negra da população. No Brasil, diversas pessoas engajaram-se através das redes sociais, muitas delas traçando um paralelo entre as recentes mortes de homens e crianças negras em ações policiais.
Para entender os efeitos dessa onda de protestos ao redor do mundo e como ela pode colaborar para o combate ao racismo em um âmbito local, a reportagem do jornal A Plateia ouviu representantes de movimentos negros da cidade.
Um deles foi Jeferson Costa, Coordenador do grupo República Negra em Sant’Ana do Livramento e membro do Coletivo Negros e Negras, que disse que o tema é bastante extenso, mas o racismo já é algo estrutural no Brasil. “A gente vive em um sistema onde o negro está colocado em um lugar já pré-determinado e ele não pode sair daquele espaço. Todo o sistema comunga para que o negro não ascenda socialmente, economicamente, e isso já vem desde a escravidão”.
Ainda sobre o tema, Costa apontou a banalização do racismo como um dos maiores obstáculos para que a discriminação acabe. “O branco não entende o que o negro sofre, por isso que eles ainda tratam, toda a vez que tu vai discutir o racismo, como mimimi, ou (propõem) aquela situação do racismo reverso, é uma coisa que não existe”.
Costa também lembrou alguns casos onde pessoas negras foram mortas em ações policiais no Brasil e os classificou como exemplos de que um sistema de opressão realmente existe. “Há pouco tempo, aqui no Rio Grande do Sul, a polícia atirou em um Uber, que, teoricamente fugiu. Dispararam rajadas, mataram uma mulher e, obviamente tinha um negro acompanhando essa mulher. […] Quer dizer, o sistema é assim, essa política de caça às drogas, de política antidrogas entra nas favelas e mata corpos negros a todo momento. Toda a bala já tem um corpo negro como destino e esse corpo é negro”.
A HORA É AGORA
Também através das redes sociais, um grupo de jovens santanenses se mobilizou com o intuito de endossar o movimento mundial. De acordo com Dandara Perez, uma das integrantes do grupo, a ideia surgiu entre amigos que, através das redes sociais decidiram que estava na hora de se posicionar.
Entretanto, a ideia de realizar uma manifestação na cidade foi descartada para evitar aglomerações, mas o grupo ainda estuda outros meios de protestar. “A gente quer mudança, pelo menos que as pessoas tenham consciência, que eles vejam que tem alguém, que tem pessoas que estão ali, que vão falar e que não vai passar impune nunca. E aqueles que passam por isso (racismo), que eles vejam que tem alguém por eles. […] Esperamos que as pessoas abram os olhos para tudo o que está acontecendo […] na fase em que a gente está, nenhuma vida está valendo menos do que a outra”, pontua.