➤ MANCHETES DO DIA
Folha: Trump ameaça reação militar diante de onda de protestos
Globo: Ibope: 90% querem regras para conter notícias falsas
Estadão: Um terço dos casos de covid já ocorre fora de grandes centros
Valor: Governo dará crédito barato mesmo à firma que demitir
Correio: STF vai julgar fake news. Radicais debocham da PF
➤ CENÁRIO NACIONAL
A aproximação do Planalto com o centrão vai, ainda aos poucos, desembocando para a disputa do comando da Câmara. Um breve registro da Folha diz que, para Eduardo Bolsonaro, é legítimo que o pai influencie na escolha e que o centrão tem boas chances de vitória. Ele acrescentou que o governo pode votar no bloco no segundo turno, citando nomes como Artur Lira e Aguinaldo Ribeiro. Ambos vão se consolidando como pré-candidatos, o que os expõe cada vez mais.
➤ FORÇAS
Essa exposição inclui a cobertura em tom de denúncia dos cargos ocupados pelo bloco. O Jornal Nacional faz reportagem de destaque sobre a negociação de cargos. O Estadão coloca na capa que o empenho de emendas em abril, de R$ 6,2 bilhões, foi recorde.
O noticiário traz ainda a indicação de Marcelo Lopes da Ponte para o FNDE, por meio de Ciro Nogueira. O Correio afirma que o Dnocs foi cedido ao PL e ao Avante para reforçar a campanha de Lira para a presidência da Casa.
Enquanto o centrão e o Planalto buscam formar uma força coesa, o mantra da aglutinação de forças díspares contra o governo vai crescendo.
Os jornais insistem na comparação com as Diretas Já, como fazem os editorais do Globo e da Folha. Esta última coloca altas expectativas para os protestos convocados para domingo pelos grupos que se autodenominam antifascistas.
Mas o Valor traz o questionamento se esses atos de rua não teriam vindo cedo demais, já que desrespeitariam o isolamento e teriam surgido sem cálculo político, como em 2013, em que a agenda inicial se perdeu e deu margem à convulsão de episódios bastante conhecidos.
Seja como for, a estratégia antibolsonarista não passa apenas pelos atos. Continua sendo cautelosamente alimentada a tese da cassação no TSE. A Folha publica hoje que a ação no STF contra fake news reforças as suspeitas de disparos em massa na campanha de 2018.
➤TEXTOS SUGERIDOS
Folha: Governo quer participar da escolha do comando do Congresso, diz Eduardo Bolsonaro
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que o governo do presidente Jair Bolsonaro —seu pai— pretende influenciar na escolha dos próximos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, em fevereiro de 2021, e previu que nomes de partidos do centrão terão grandes possibilidades de vitória.
“O presidente Jair Bolsonaro sempre respeitou muito a independência dos Poderes e não participou ativamente dessa primeira eleição, desse biênio em que foi eleito o Rodrigo Maia. Atualmente, já ocorreu a maturidade para que seja necessária não a interferência, mas a participação do governo”, afirmou nesta segunda-feira (1º), durante participação no congresso online do Movimento Brasil Conservador.
Segundo ele, seria justo o Poder Executivo participar da eleição dos presidentes da Câmara e do Senado. “Há uma relação direta [do governo] com os parlamentares, os deputados vão aos ministérios”.
Instado a citar nomes que o governo poderia apoiar, Eduardo disse achar improvável que um representante da esquerda ou da direita bolsonarista tenha chance. Um deputado do centrão, indicou o filho do presidente, teria mais condições de amealhar apoio.
“Alguns nomes estão sendo ventilados. Ali dentro [da Câmara], o centrão pode ir para a esquerda ou para a direita. Eles são maleáveis suficientemente para esse ponto”, disse Eduardo.
O deputado não chegou a prometer apoio do presidente a um nome do centrão e deu a entender que isso poderá ocorrer num segundo turno. “Contra a esquerda a gente vota em qualquer um.”
O governo, descumprindo uma promessa de campanha, vem negociando cargos com este bloco, que reúne cerca de 200 deputados de partidos como PTB, PP, PL e Republicanos.
Eduardo citou como possíveis sucessores de Maia os deputados Artur Lira (PP-AL), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e “outras pessoas do PRB [atual Republicanos]”, ressalvando que isso ainda é “conversa de corredor”.
“Acredito que será eleito alguém não exatamente desse centrão, mas desse meio termo, nem do PT nem do PSL bolsonarista. É muito mais provável”, afirmou.
Hoje Bolsonaro tem uma relação tensa com Maia e com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que vêm criticando as investidas do chefe do Executivo contra outros Poderes.
Eduardo afirmou que espera que os próximos presidentes das duas Casas sejam mais comprometidos com pautas conservadoras.
“Eu tenho uma pequena esperança de que na eleição do novo presidente da Câmara e do Senado, talvez esteja aí o momento de nós conseguirmos fazer uma base de deputados unidos, falando e pedindo o comprometimento para essas matérias.”
Eduardo também justificou a realização de manifestações semanais em Brasília de apoio a seu pai, dizendo que há uma simbiose entre os ativistas e o presidente.
“Essas carreatas e manifestações são o que dão sustentação ao governo Bolsonaro. O governo só coloca adiante essas pautas e projetos porque sabe que essa parcela da sociedade vai defender”, afirmou.
Segundo ele, “se o Bolsonaro não tivesse apoio popular, já teriam colocado o impeachment dele para a frente há muito tempo”.
O deputado também criticou a CPMI das Fake News, mas desta vez não quis polemizar com o Supremo Tribunal Federal, que instaurou inquérito para apurar a disseminação de notícias falsas, atingindo aliados do governo.
“A CPMI das Fake News é uma tentativa de calar os conservadores. A internet é o espaço para a pessoa mais livremente se expressar. Ela vai ali, extravasa, fala tudo mesmo”, afirmou Eduardo.
Valor: Protestos contra arbítrio dividem frente
A eclosão de protestos contra o governo Jair Bolsonaro no domingo desnorteou as lideranças dos manifestos que se tornaram públicos no fim de semana reunindo juristas e intelectuais. O adensamento de iniciativas contra a escalada do arbítrio não contava, neste momento, com a deflagração de manifestações de rua, uma vez que um dos crimes de responsabilidade pelos quais o presidente pode vir a ser acusado é o de desrespeitar o isolamento social. A pressão popular viria num momento posterior, quando a pandemia estivesse arrefecida, os temores da radicalização do regime afastados e um desfecho se fizesse necessário. Faltou combinar com os aliados.
Assim como em 2013, não há cálculo político envolvido na deflagração dessas manifestações. A primeira leva foi puxada pela Gaviões da Fiel, torcida organizada do Corinthians, em 9 de maio, quando George Floyd, cuja morte por policiais desencadeou os protestos americanos, ainda trabalhava como segurança num restaurante latino em Minneapolis. Os corintianos tentaram impedir uma manifestação bolsonarista na Avenida Paulista. Um terceiro protesto já está marcado para domingo sob o estigma de fantasmas.
O mais conhecido é o de sua apropriação autoritária. E como é Jair Bolsonaro o governante de plantão, o resultado pode não ser um impeachment como aquele que vitimou a ex-presidente Dilma Rousseff, vítima tardia de 2013, mas, sim, a afirmação no poder, pela força, de um presidente ainda mais radicalizado.
É bem verdade que as manifestações eclodem num movimento de distanciamento entre o presidente e o comando do Exército. No sábado, Bolsonaro encaixou, entre um passeio pelo comércio popular de Goiânia e uma ida à operação de apreensão de entorpecentes pela Polícia Rodoviária Federal, uma visita à Brigada de Operações Especiais naquela cidade. Trata-se de uma das duas brigadas do Exército que abriga tropas de mobilização imediata. A outra é a brigada paraquedista, no Rio, onde Bolsonaro serviu como capitão.
A visita, que não estava na agenda presidencial, não foi acompanhada pelo comandante do Exército, Edson Leal Pujol. Como a incursão presidencial incluía outras atividades, o general preferiu não seguir com a comitiva. É esta distância, simbolizada até aqui pelo cotovelo estendido pelo comandante ao presidente em cerimônia militar, que os protestos, sob ação de agentes infiltrados, teriam, no limite, o poder de encurtar.
Haja provocação para consegui-lo. O ex-ministro e general Carlos Alberto dos Santos Cruz, próximo de Pujol, já havia dado o recado em artigo na semana passada: as Forças Armadas optaram pela profissionalização depois do desgaste da ditadura e hoje se submetem aos ditames da Constituição. Em entrevista ao Valor, o vice-presidente Hamilton Mourão, adotou o mesmo tom.
Valeu-se de um velho ensinamento da caserna, “se te irrito, te domino”, para explicar os rompantes bolsonaristas e fiou-se no marechal Castello Branco para defender a despolitização dos quartéis. Na nota acrescentada à entrevista pelos eventos do domingo, deu uma no cravo (“é preciso respeitar a liberdade de expressão, de opinião e de pensamento no país”) e outra na ferradura (“sem usar a defesa da democracia para suprimir direitos ou causar instabilidade”).
Se não obtém demonstrações inequívocas de apoio militar à radicalização do regime, o presidente tem cultivado as boas relações que sempre manteve com policiais militares, a quem cabe a repressão de manifestantes. Já sob o orçamento de guerra da pandemia, editou, por exemplo, medida provisória para dar aumento aos policiais militares do Distrito Federal.
Mas parece apostar mesmo é na venezuelização do país, por meio da flexibilização do porte de armas e do afrouxamento do controle sobre a munição que entra no Brasil. Numa reação à formação de milícias bolsonaristas, a partir do acirramento dos confrontos de rua, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deu sinais de que pretende aprovar decreto legislativo sustando as iniciativas presidenciais. O único poder que, de fato, age mais aceleradamente no sentido de abreviar o mandato bolsonarista é o Supremo Tribunal Federal, que, esta semana, deve confirmar a procedência do inquérito das “fake news”, com repercussões que extrapolam a Corte e terão impacto sobre as ações contra o mandato presidencial no Tribunal Superior Eleitoral.
Como a responsabilidade pela atuação das PMs, em última instância, é dos governadores, e a de São Paulo foi acusada de agir de maneira desproporcionalmente mais truculenta contra os manifestantes antibolsonaristas, o presidente já conseguiu, no mínimo, causar uma fratura na frente que se arma contra si. Até aqui bem avaliados pela reação à pandemia, os governadores do Rio e de São Paulo correm o risco de desfalcar os movimentos pró-democracia. Wilson Witzel, pelas contas a prestar à Polícia Federal, e João Doria, pela atuação da polícia militar nas manifestações.
A outra fratura, anterior aos protestos, foi provocada pela decisão de Luiz Inácio Lula da Silva, de não assinar manifestos ao lado de personalidades que, na sua opinião, colaboraram para o ocaso petista e a ascensão de Bolsonaro. À perda de liderança do ex-presidente não sobreveio o surgimento de outras capazes de fazer a interlocução entre a política tradicional e os movimentos populares.
É delas que, sob a ofensiva bolsonarista, as frentes democráticas – de rua e de gabinete – dependem para buscar um diálogo capaz de potencializar o benefício das manifestações e minimizar seus riscos para a democracia.