ESPECIAL: FRONTEIRA DO ABIGEATO
Casos de abigeato envolvendo confrontos armados na Linha Divisória chamam a atenção na Fronteira
Tiroteios, confrontos, noites de ronda e incertezas são partes da rotina de pecuaristas da região da Coxilha Negra, linha divisória entre o Brasil e o Uruguai em Livramento e Rivera.
A tranquilidade do cair da noite, onde se escuta ao longe somente o mugido da gadaria que pasta livremente e o canto da saparia nas águas, deu lugar ao medo e ao terror na região da Coxilha Negra, linha divisória do Brasil e Uruguai, entre os marcos de Livramento e Rivera.
Uma extensa região de terra que mescla a paisagem típica dos campos nativos do Bioma Pampa, próprios para a atividade pecuária, emoldurada com os aerogeradores no lado brasileiro, que lentamente produzem energia com a força dos ventos e que trazem o progresso, contrastando com as coxilhas, cerros e florestas do lado uruguaio. Como é o caso da região do Platão, e sua gigantesca área de florestação que serve de “depósito de gado” para as quadrilhas que atuam na região.
O caso não é novo, mas recentemente tem chamado mais a atenção pela quantidade de animais furtados na região e pelos confrontos diretos entre pecuaristas e abigeatários nas noites escuras.
A reportagem do Jornal A Plateia vem acompanhando o caso desde o início de agosto, e a gravidade do problema, inclusive, chamou a atenção do repórter investigativo da RBS TV, Giovani Grizzotti, que esteve na região com sua equipe na última semana produzindo reportagem especial exibida em rede nacional, na noite deste domingo, 8 de setembro, no programa Fantástico, da Rede Globo de TV, mostrando a ação dos criminosos na região. O Jornal A Plateia acompanhou o trabalho de perto e ouviu os relatos de pecuaristas que estão no limite, tendo que trabalhar com o gado de dia e passar a noite em rondas noturnas na imensidão da campanha.
Na última semana de agosto, por exemplo, os próprios produtores evitaram um roubo de 19 animais que estavam sendo levados de uma propriedade da região. Graças ao uso de uma tecnologia de rastreamento houve uma grande mobilização de pecuaristas e seus veículos, e após troca de informações e confronto armado, os criminosos abandonaram o gado que foi recuperado. Em conversa com um dos produtores que participou da ação, o medo de ser morto enquanto trabalha no campo é diário. “A gente sai pro campo e não sabe se não vai sofrer uma tocaia. De um ano e meio pra cá, eu tenho vivido como um escravo. Não sei até quando vou aguentar. Está me custando muito o que o dinheiro não compra”, destacou.
Outro pecuarista disse que já sofreu intimidação com veículos utilizando holofotes na sua propriedade, e presença de homens a cavalo na volta das casas. “Não somos milicianos, nós só queremos defender o que é nosso. No cair da noite aqui na Coxilha é um terror, a gente liga para a cidade e houve dos nossos filhos: pai, pelo amor de Deus, volta com vida pra casa”.
IMAGENS GRAVADAS NA NOITE DO ROUBO
OPERAÇÕES INTEGRADAS
Segundo informações levantadas pela reportagem do Jornal A Plateia, o Comando Operacional da Jefatura de Policia de Rivera (Uruguay), no âmbito das ações conjuntas realizadas pela Brigada Departamental de Segurança Rural e efetivos da Patrulha Rural da Brigada Militar de Sant’Ana do Livramento (Brasil), realizou reunião de trabalho para troca de informações, análise de problemas, georreferenciamento de locais, logística e modus operandi realizados pelos possíveis abigeatários, prós e contras nos eventos que as unidades atuaram, também foram estabelecidas ações conjuntas para operações futuras. Ainda na noite da última quinta-feira (5), o efetivo da Patrulha Rural da Brigada Militar e do Departamento de Segurança Rural fizeram uma operação conjunta sobre a região da Coxilha Negra, finalizada sem incidentes. Também estão sendo realizadas ações em conjunto com a Polícia Civil, por meio da DECRAB de Bagé, que passou a abranger Sant’Ana do Livramento.
REPORTAGEM ESPECIAL MATIAS MOURA/AP