Uma grande operação da Polícia Federal, nessa semana, expôs um grupo investigado por evasão de divisas do Brasil para o Uruguai configurando. A estimativa da PF é de que o grupo tenha movimentado mais de R$ 60 milhões. Eles são investigados também por câmbio ilegal e lavagem de dinheiro.
Na ação, os policiais federais cumpriram dois mandados de prisão temporária, expedidos pela 22ª Vara Criminal da Justiça Federal em Porto Alegre, cinco de busca e apreensão, bloqueio de contas bancárias, disponibilização de bens e imóveis e sequestro e arresto de veículos. Em uma das diligências, os policiais estiveram vasculhando duas revendedoras de automóveis localizadas na Avenida João Goulart que pertencem a um dos investigados onde recolheram diversas provas.
Desvio milionário
Conforme divulgado pela Polícia Federal, as investigações apontaram que o grupo criminoso, alvo da Operação Hora da Ceifa, teria movimentado nos últimos cincos anos, pelo menos, R$ 60 milhões do Brasil para o Uruguai e que o núcleo da célula criminosa estava localizado em Livramento e em Rivera sob a liderança de um cidadão uruguaio que atuaria como “doleiro”. A PF estima que os valores movimentados pelos envolvidos seja muito maior, visto que existem indicativos de que a prática criminosa ocorra desde 2011.
A investigação apurou ainda que várias pessoas físicas residentes na região recebiam altas quantias em suas contas bancárias, oriundas de diferentes partes do Brasil e posteriormente realizavam o translado desses valores para o escritório do doleiro localizado em Rivera.
Prisão e apreensão de armas
Durante a operação, os agentes estiveram cumprindo os mandados de busca e apreensão em diversos pontos, nos dois lados da fronteira o que resultou na apreensão de dois revólveres, 25 munições (revólver), duas munições de fuzil 7,62 e na prisão de dois homens, um de 46 anos e outro de 52, sendo um brasileiro e o outro uruguaio, que teria envolvimento direto com a organização criminosa.
Após a operação, o Jornal A Plateia conversou com o delegado Alessandro Maciel Lopes, que embora não esteja atuando neste caso específico, conhece muito bem a realidade dos crimes transfronteiriços, pois esteve à frente da delegacia da Polícia Federal em Sant’Ana do Livramento por 10 anos. Atualmente, Alessandro é Delegado Regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado, mas em transição para exercer a função de Delegado Regional Executivo.
O delegado explica que os crimes transfronteiriços são aqueles que começam em um país e terminam em outro. “Ele envolve dois países, mas sempre em uma região de fronteira. Ele é diferente, por exemplo, de um tráfico de drogas para a Europa. Exatamente como em Livramento e Rivera. São os mais variados crimes, o fato que esse crime inicia em um país e termina no outro. Especificamente, o crime de evasão de divisas está previsto na lei do Sistema Financeiro Nacional que tem por finalidade proteger o sistema econômico brasileiro, evitando que sejam feitas práticas sem controle e que tenham um impacto direto na nossa economia. A evasão de divisas é o sujeito promover câmbio mandando dinheiro para fora do país, evadir é encaminhar para o exterior dinheiro brasileiro. E, muitas vezes, as organizações criminosas utilizam essa prática para lavagem de dinheiro onde são praticados crimes no Brasil ou até mesmo em outros países, e esta é uma forma encontrada por essas organizações para fazer a saída desse dinheiro, seja como pagamento, como lucro ou ocultação de bens”, destaca Alessandro Lopes.
O delegado encerra dizendo que apesar deste ser um crime bastante complexo de se desvendar por vários motivos, a polícia judiciária trabalha incessantemente para identificar essas ações.