Buenas!,
Ser um escritor reconhecido e de renome internacional tem seu valor… Quer dizer, imagino que deve, porque não tenho como saber, somente conjecturar, por óbvio. Mesmo assim, devido às redes, alcançamos alguma relevância e somos agraciados com informações privilegiadas. Recebi pelo correio (sim, ele ainda existe) um documento manuscrito com tinta rubra e escura, redigido com caligrafia firme e ampla. O documento, além de anônimo, possui características apócrifos. Para meu espanto, ele se desfez logo após a leitura…
Não posso revelar a fonte, mas vou resumir o que apreendi da leitura rápida que consegui fazer. O autor afirma que há um número mágico e eu o atingi, por isso recebi essa missiva: Conquistei trinta e seis efetivos consumidores de minhas semanais reflexões. Escrevo isso não para me vangloriar – que não só poderia, como deveria, mas a modéstia ainda me consome. O faço, pois sem o saber, atingi um pseudo-estrelato e ele cobra um preço…
Citei noutra crônica que “os bons morrem jovens”, música que anteviu a morte de seu autor, Renato Russo, vocalista da Legião Urbana. Também comentei que Elis Regina nos deixou cedo demais. Contudo, o mais surpreendente não é isso, mas sim, ambos se foram aos 36 anos de idade. Perdas absurdas e precoces em excesso, vocês hão de concordar. Entretanto, a lista é bem maior. Abaixo seguem nomes e informações comprováveis no Google, entrementes, sem a real motivação que agora essa carta revelou-me.
Bob Marley nos deixou um pouco antes de Elis, em 1981, com a mesmíssima idade do inesquecível Ayrton Senna da Silva, o maior piloto de todos os tempos. Lady Dy, a inesquecível plebeia que ascendeu à nobreza, partiu aos 36 anos, assim como o cantor Leandro, da dupla sertaneja, além do maior ídolo dos colorados, o jogador Fernandão… Há outros e poderia citar aqui Mozart, dom Pedro I, João Paulo, da dupla sertaneja do Daniel, esses partiram faltando ou passando alguns dias para o cabalístico 36…
Alguns leitores mais atentos dirão que outras personalidades do rock morreram bem antes, aos 27 anos: Janes Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Kurt cobain, Amy Winehouse, etc. Eles também atingiram o estrelato e logo em seguida partiram, quase todos de forma drástica.
Mas há uma explicação lógica, segundo o manuscrito. Eles foram apressados, anteciparam o encerramento do contrato, não por culpa “dele”, o redator do texto. Todos estavam programados para partir um pouco mais adiante, sabiam?
Agora entrarei nas explicações necessárias…
Esses roqueiros apressados morreram 9 anos antes do número mágico. Porém, se invertermos o nove teremos o quê? O número 6. E o que isso quer dizer?, pergunta o mais ansioso dos meus trinta e seis leitores. Calma, explico na sequência, afinal, a numerologia é a ciência que mais cresce no mundo, deixando a quiromancia e a astrologia no chinelo.
O número mágico tem sua origem cabalística na aritmética. Qual o caminho mais rápido para atingi-lo? 6×6=36! Pronto, aí está! Não entenderam? Está bem, explicarei um pouco mais, espero poder concluir.
Nessa configuração, o número três participa da montagem visual que apresenta ao mundo o número seis por três vezes. Temos o impensável 666, o famoso número do capiroto, do coisa ruim, do inominável!
Ou seja, está tudo explícito, preto no branco, ops, tudo rubro no branco, como no documento que se desfez, entenderam? Bem, se ainda não, explico um pouco mais. Segundo o documento, estes grandes artistas venderam suas almas em troca do sucesso absoluto.
Sim, espantados leitores, temos almas e elas podem ser vendidas! Goethe afirmou isso no século XVIII em seu genial “Fausto”, através da voz de Mefistófoles: “desejo AQUI ficar como teu bom criado, mas quando nos acharmos do OUTRO LADO…” Os serviços oferecidos por esse “criado” cobram seu alto preço do outro lado…
Também nosso Machado de Assis afirmou que temos alma. Duas, na verdade: “uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro”, no conto “O espelho”, cujo subtítulo é a profética frase: “Esboço para uma nova teoria da alma humana”. Captaram esta obviedade nos textos do maior escritor alemão e do maior escritor brasileiro? Nossas almas existem e tem um preço.
Porém, como pudemos observar, algumas pessoas que atingiram o ápice cedo, tiveram que pagar seu ônus. Vão perguntar: por que outros foram tarde, como Michael Jackson, que partiu aos 50 anos, e Maradona, que virou pó aos 60? Esses detalhes são estabelecidos nas letras miúdas. Alguns conseguem conquistar sobrevida, digamos assim, outros antecipam suas contas.
Esqueci de comentar que o título do manuscrito diz em letras grandes e escorridas: ALERTA! Sou obrigado a concordar e considerar esse documento uma espécie de advertência, afinal, o sucesso não me pertence, mas, quem sabe um dia…
Penso que devemos, nesse e em todos os casos, ler as letras diminutas de nossos contratos, afinal, almejo o sucesso e estou perto (tenho trinta e seis leitores) mas nunca sabemos quando o conquistaremos de verdade. E, principalmente, o que “ele” poderá nos cobrar por isso…
