sex, 29 de março de 2024

Aplateia Digital | 23 e 24.03.24

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SNYDER’S CUT E A VISÃO DO DIRETOR

Em outros textos, já falei sobre a importância que a direção tem para a obra cinematográfica e afirmei que o diretor é o autor do filme. Jamais querendo ser repetitivo, mas acredito que isso tenha tamanha relevância no cinema que é preciso reiterar quantas vezes julgar-se necessário. Fiz algumas citações a alguns diretores e diretoras que admiro bastante, Alfred Hitchcock, Martin Scorsese, Greta Gerwig e outros, e procurei, nos meus textos, estabelecer a minha visão a partir do que os autores dos filmes procuraram transmitir e como isso foi capaz de me impactar e, por conseguinte, fez com que eu gostasse dos respectivos filmes. Essa semana, ficou muito claro como a visão do diretor é capaz de transformar um filme. Após uma campanha dos fãs de Liga da Justiça para que fosse produzido a versão do diretor Zack Snyder, uma outra visão foi entregue ao público e, apesar de ter a mesma história do filme lançado em 2017, esta versão é muito diferente.

Antes de qualquer menção ao trabalho do Snyder, faz-se importante destacar um pouco do que ocorreu frente ao lançamento da primeira versão do filme. Não há necessidade de entrar em detalhes dos bastidores, mas o que é preciso saber é que ele, Zack Snyder, não terminou o projeto por conta de uma tragédia pessoal e desavenças com os produtores encarregados do filme da Liga da Justiça, assim ele foi retirado do projeto. Joss Whedon, que já havia trabalhado anteriormente na Marvel, com Vingadores, Vingadores Era de Ultron e outros projetos, foi chamado para encerrar o filme. Whedon terminou o filme com base em seu entendimento sobre a história e sob a orientação dos executivos da Warner. O filme, em si, não é ruim, mas sofreu diversas críticas, principalmente pelos fãs da famosa equipe da DC, pois, em sua visão, o diretor ajustou cenas que antes não tinham sido gravadas e com um tom bastante diferente do que se esperava do filme do Zack Snyder, mais parecido, inclusive, com suas obras feitas na Marvel.

Tempos depois surgiram boatos, do próprio Zack Snyder, que haveria uma versão de corte de Liga da Justiça, feito na visão que ele havia planejado no início e não aceito pela Warner. Esse boato rendeu forte alvoroço por parte dos fãs que, chateados com que o tinham visto no trabalho de Joss Whedon, clamaram para que ocorresse a versão de Zack Snyder. Snyder’s Cut, como ficou conhecido o projeto, ganhou força nas redes sociais e o próprio diretor fazia campanha para que o filme saísse do papel, afinal se tratava de um trabalho de pós-produção, já que praticamente todo o filme já havia sido filmado, necessitando, nesse caso da adição dos efeitos especiais de imagem e som, mas ignorado pelos produtores em 2017. Cerca de quatro anos depois, finalmente o diretor pode lançar, em plataformas digitais, seu projeto e presenteando aos apreciadores de seu trabalho e do filme da Liga da Justiça, a sua versão final.

Não tenho interesse em comparar as versões para qualifica-las, ou seja, não quero dizer quem foi melhor ou não. Este texto serve como reflexão sobre a importância da visão do diretor e como os espectadores podem apreciar obras diferentes, de diferentes visões, optar pela que prefira, sem sequer se dar conta da relevância que a visão do diretor tem para o filme. O diretor, autor da obra, insere na aura de seu filme todos os elementos que ele acredita serem compatíveis com a história que vai contar e opta, assim, pelos movimentos de câmera, tons da fotografia, tons da atuação, estilo de design gráfico, efeitos visuais, trilha sonora, enfim… Elementos que em seu devido equilíbrio, contribuem para a apresentação da obra e transmitem a visão do diretor. Isso é facilmente encontrado na versão de Snyder. Livre para realizar seu projeto e colocar o tom que queria originalmente, vemos um filme com a “cara” dele. Repleto de slow-motion. Uma fotografia mais densa e escura. Uma trilha sonora mais melancólica. A atuação dos atores muito mais contida e madura, cuja participação dos personagens está muito mais equilibrada. De certa forma, um tom geral de escuridão, tensão e densidade típicas de filmes do Snyder e de sua forma de ver a Liga da Justiça e de como a história deveria ser contada.

O filme conta com mais de quatro horas de duração e diferente do primeiro, introduz os seus personagens, apresenta um vilão com razões mais claras e ainda propõe um vilão ainda mais poderoso por trás dos eventos do filme. Na apresentação dos personagens, é possível acreditar em seus objetivos e ser facilmente convencido de suas motivações. É possível entender a relevância de cada um dos personagens, em seu contexto, para formarem uma equipe capaz de enfrentar os adversários poderosos que tem adiante. Repare que, mesmo com uma história igual, com os mesmos personagens, mesmos objetivos e mesmo desenrolar, o filme, com a visão de Snyder, é totalmente diferente do filme com a visão de Whedon. Prefira um ao outro, goste dos dois ou não goste de nenhum, as visões de diretores diferentes de um filme com a mesma história, mudam completamente o seu contexto e isso destaca a importância desse artista, pois, em sua autoria, é capaz de transformar, uma história já contada, em uma obra cinematográfica com os elementos próprios, fazendo assim com que se destaque seus atributos de autoria. Resta evidente que as escolhas da direção afetam o resultado final, dessa forma é interessante analisar as duas obras sob suas diferentes perspectivas e perceber que todo o tom de uma cena pode ser modificado por essas escolhas.

Rodrigo Lorenzoni diz que falta transparência e questiona necessidade de aumentar impostos

Os dados divulgados pela Secretaria da Fazenda do RS essa semana mostram que nos dois primeiros meses de 2024, a arrecadação do estado aumentou 24% em relação ao mesmo período do ano passado. Ainda assim, o governador Eduardo Leite tem insistido na necessidade de aumentar impostos,  de forma direta, aumentando a alíquota base do ICMS, ou indiretamente, através das decretos