É difícil livrarmo-nos de velhos hábitos. Hábitos tão velhos, tão arraigados que quase nem mais notamos. O hábito de acordar a mesma hora, precisando ou não. O hábito de fazer o mesmo trajeto embora haja uma série de opções (ou não, apenas mais uma já é suficiente), o hábito de tomar o mesmo vinho, embora nos digam que tal marca é melhor, o hábito de dormir a mesma hora, de escolher o mesmo tipo de roupa, o mesmo tipo de corte de cabelo – mesmo que nunca tenhamos experimentado algo diferente.
Mas o hábito deixa de ser hábito para virar cacoete. Lembram daquele ditado que diz: O hábito do cachimbo deixa a boca torta? O cacoete de enrolar a ponta do cabelo quando pensativa, ou coçar a cabeça quando preocupados. Ou entrar em uma determinada peça de nossa casa onde tenha relógio – na minha casa, é na cozinha – e olhar para ver que horas são. Certamente, muitas pessoas dirão: ah, mas é apenas uma referência! Uma colocação no tempo, mas mesmo que seja aquele dia especial, tipo domingo ou feriado – dia de relaxar e deixar tudo para lá ? Entro inúmeras vezes na cozinha e inúmeras vezes olho o relógio (no domingo) e sempre repito para mim mesma: hoje, sou livre. Hoje, não tenho compromisso! Hoje, sou mais eu… Hehehe – não, não sou, sou prisioneira do hábito, que já virou cacoete. Sempre achei superelegante aqueles relógios que estão dentro de um móvel, têm pêndulo, supercharmosos, que fazem tic-tac sem parar nos lembrando que o tempo não para, no entanto, quando fui comprar o meu megasimples relógio para colocar na cozinha, perguntei pra moça: faz um som alto no meio da noite, no silêncio? Ela me olhou com uma cara, tipo: esta mulher é estranha, para não dizer louca, e respondeu: é… sim, faz barulho… E faz, porque no silêncio da noite, escuto o relógio, a caixa d’água do prédio enchendo, o cachorro do vizinho arrastando a tigela de comida, ou seja, quem tem a pretensão de controlar tudo ao seu redor sofre deste cacoete: ouvir tudo. Aliás, uma benção que nos foi dada: a de ouvir, ver, cheirar, sentir e quase não valorizamos. Só quando perdemos ou estamos prestes a perder.

Recebendo o Título de Cidadão Matense do Vereador Ronaldo Kuhn.
Recebendo cesta de produtos da agroilndústria de Mata, Cidade da Madeira que virou Pedra,do Prefeito Sandro Savegnago Em 12 de junho de 2025