Um processo para extrair a substância inulina de resíduos de palmeiras foi patenteado por grupo de pesquisa formado pelo Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (DDPA/Seapdr) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). A inulina é uma fibra solúvel com propriedades adoçantes e espessantes. Como não é absorvida pelo organismo humano, é muito utilizada na indústria alimentícia para produção de sorvetes e iogurtes dietéticos, além de ser consumida como prebiótico, ou seja, para estimular e beneficiar a flora intestinal.
A patente é resultado de um projeto de pesquisa conduzido em 2004 pela então Fepagro e pela Ufrgs, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) liberados por intermédio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). “Era um edital específico para apoio à pesquisa nas empresas e, dos projetos vencedores, éramos o único da área agropecuária”, relembra a pesquisadora Maria Helena Fermino.
O grupo de pesquisa se associou à empresa Natusol, produtora de palmito em conserva, que apresentou o problema: o que fazer com os resíduos que sobram da extração do palmito? “Para se ter uma ideia, para conseguir 500 gramas de palmito, há uma sobra de 12 quilos de tronco, fora as folhas da palmeira”, exemplifica Maria Helena.
A meta inicial era passar os resíduos por uma hidrólise ácida para extração de um xarope de glicose, e as fibras restantes seriam utilizadas como substrato para plantas. Foi na análise química desse xarope, realizada na Ufrgs, que se descobriu uma quantidade de inulina muito superior ao que é conseguido no método tradicional para extração dessa substância, nas raízes da chicória ou da alcachofra.
“Com 100 gramas de matéria seca conseguimos extrair 30 gramas de inulina, enquanto em 100 gramas de chicória ou da alcachofra fica em menos de 1%. É um processo realmente inovador, com um material descartável, um lixo gerado pela extração do palmito, foi uma surpresa gratificante para nós”, afirma Reinaldo Simões Gonçalves, professor do departamento de Físico-Química da Ufrgs.
O grupo também conseguiu provar que resultados similares podem ser obtidos com outras plantas que tenham hemicelulose na sua composição, desde que sejam submetidas ao mesmo método de hidrólise ácida aplicado no resíduo das palmeiras. Os pesquisadores testaram o procedimento, com sucesso, utilizando capim elefante e bananeira.
Aproveitamento integral
O método para obtenção de inulina, motivo da patente conquistada, foi algo acidental para o projeto. Nas metas previstas, a pesquisa se mostrou bem-sucedida. “Com a hidrólise ácida conseguimos inulina, e as fibras secas que sobraram após a hidrólise funcionaram muito bem como substrato para plantas e cogumelos. Além disso, propusemos ao produtor a utilização das folhas da palmeira como ração animal e também deu certo, foi bem aceito pelo gado”, detalha Gonçalves.
O resultado final é um processo que aproveita integralmente os resíduos da extração do palmito. “Acho que a grande lição é que não existe projeto de pesquisa insignificante ou pequeno demais. Mesmo um estudo com metas simples, como foi o nosso, pode levar a grandes descobertas”, finaliza Maria Helena.