De mortandade de abelhas, a perdas milionárias em culturas com a uva e oliveiras conheça um problema grave que tem afetado produtores da região através da má aplicação de agrotóxicos em lavouras
A palavra “Deriva” pode soar um pouco estranha quando o assunto é agronegócio, mas ela tem sido o motivo de muita discussão em nosso estado e até de ações judiciais. A discussão entre o tema iniciou em 2015, quando o Ministério Público Estadual abriu inquérito para investigar a suposta deriva do herbicida 2,4-D em parreiras da região da Campanha. Ou seja através da má aplicação deste produto que é utilizado antes do plantio das lavouras de soja por via de pulverização aérea o produto acaba sendo espalhado pelo vento atingindo outras culturas como é o caso das uvas e oliveiras.
O caso vem sendo discutido entre os produtores da região que buscam uma solução para o problema que vem causando perdas financeiras milionárias de uns anos para cá na região da Campanha.
Por esta razão é que o sistema Farsul – Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul – realizou no dia 17 deste mês uma reunião entre produtores de culturas que estão sendo afetadas pelo uso do agroquímico 2,4-d. O objetivo foi estabelecer um ponto de equilíbrio para a utilização e aplicação terrestre do produto. Um laudo técnico elaborado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural e entregue ao Ministério Público do Estado, apontou que amostras coletadas estavam contaminadas pelo 2,4-d. As principais culturas prejudicadas foram as de uva, de oliveiras e de maçãs.
A sugestão do Ministério Público foi a de regulamentar o uso de todos os agroquímicos, não apenas o 2,4-d. Também ficou definido que o inquérito terá continuidade em Porto Alegre, saindo da Promotoria de Justiça de Bagé, o que não retira a possibilidade de um de consenso entre as partes. Caso não haja acordo o processo será encaminhado para a esfera judicial.
O diretor do Departamento de Defesa Agropecuária, Antonio Carlos de Quadros Ferreira Neto, disse que a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural irá assumir o papel de liderar os trabalhos, e que os técnicos das cadeias envolvidas serão convidados para uma nova reunião.
Vitivinicultura da região sofre com o problema
Em Sant’Ana do Livramento a situação não é diferente, existe hoje no município uma grande extensão de lavouras de soja plantadas e nos parreirais onde os sinais dos agroquímicos já foram encontrados por muitos produtores, como relata o técnico em agropecuário Odinei Cardoso que trabalha para uma vinícola da região há 28 anos e, segundo ele, o problema surgiu de uns anos para cá. “O que a gente nota aqui é a presença do 2,4 D que é utilizado na soja. Ele afeta diretamente o crescimento das plantas, nós estamos hoje com uma área de implantação onde as mudas são novas e a gente percebe que ela retarda um pouco o crescimento. A gente começou a notar de uns três anos para cá esse impacto. Nas uvas adultas que estão em produção a gente nota a dificuldade na maturação e no crescimento dos ramos que a utilização dele também prejudica”.
Matias Moura – [email protected]