qui, 28 de março de 2024

Aplateia Digital | 23 e 24.03.24

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PICHAÇÃO, GRAFITE, ARTE. COMO EVOLUIR?

Buenas!,

Na semana que passou, a imprensa gaúcha destacou a detenção de um jovem por pichar o calçadão da orla do gasômetro, em Porto Alegre. Ele recém completou dezoito anos e, agora, possui ficha policial por depredação de local público. E sabem o motivo? Resolveu ostentar seu nome na calçada pública. Entre meus benevolentes leitores, há alguém que enxergue sentido nisto?
Sou obrigado a admitir que estou ficando velho, não tenho mais tolerância para este tipo de atitude. Acredito que alguns de vocês, os menos pacientes, irão compreender meu destempero. Vejamos a dimensão da manobra: uma boa lata de tinta custa quase cinquenta reais, ir de madrugada até o local exige deslocamento, perda de sono e bastante tempo livre, logo, ele não poderia estar trabalhando pela manhã. Agora, com a ficha suja, vai ser muito difícil arrumar um emprego, ainda mais em momentos bicudos pós-pandemia. O que passa na cabeça deste e de outros tantos jovens que fazem isto rotineiramente, arriscam o pescoço quando, sem poderes aracnídeos, escalam prédios para pichar seu nome ou símbolo?
Está bem, como estou pegando muito pesado com o rapaz, vou relativizar. Ele é jovem e pode aprender com seu erro – espero. Há exemplos positivos de aprendizado, como os dados pelos chamados grafiteiros. Eles são os antigos pichadores que evoluíram para a arte do grafite, tão bem quista nas grandes cidades. É quase a mesma coisa, mas com um Himalaia de diferença. No grafite, a pintura é artística, não só um nome, além de ser autorizada ou paga pelo proprietário do muro que serve como tela.
O mais famoso deles na atualidade é o brasileiro Kobra. Ele pinta painéis belíssimos, enchendo de cores prédios outrora cinzentos mundo afora. E é muito bem pago por isso. Por méritos, grafitou suas releituras artísticas no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Nova Iorque, entre outras tantas cidades.
Disse que ia relativizar o caso do rapaz e o farei. Do mesmo modo que o jovem, Kobra começou pichando seu nome em paredes públicas, segundo ele, por pura necessidade de reconhecimento entre os amigos, contudo – aqui espero que entre o aprendizado -, entendeu que seu nome escrito numa parede de nada adiantava. Precisava, isto sim, criar uma obra que representasse seu nome.
Agindo assim, criou um estilo inconfundível, espalhando arco-íris metafóricos permeados por figuras geométricas, mas não só isto, representou personalidades ou imagens com representatividade social em cada uma de suas obras. O grafite que ele fez no Porto do Rio de Janeiro, que já foi considerado o maior do mundo, é um dos meus preferidos, ao lado das imagens vitoriosas de Ayrton Senna em Imola e também em Interlagos. Pesquisa aí!
Mas não pensem que o desejo de deixar seu nome numa parede vem de hoje, esta sanha acomete o homem desde os tempos das cavernas! Entretanto, eles não estavam simplesmente assinando: “João, morador da caverna depois da curva do rio, com cabelo no peito e com tacape marrom”. Eles criavam, isto sim, registros do que viam e viviam, legando às gerações vindouras sua leitura de seu tempo.
Falando nisso, sabiam que até o fim da idade média, não existia o costume de assinar as obras de arte? Um dos motivos principais é que, em geral, as obras eram produzidas nas oficinas com a ajuda de aprendizes. Ao grande mestre cabia o acabamento, mas sem a vaidade de colocar seu nome na obra. Eles não costumavam “pichar” seu nome nas pinturas, como torna-se comum entre os impressionistas, no século XIX, por exemplo.
Porém, nem todos comungavam dessa segurança artística. Contam as lendas que Michelangelo, após ouvir comentários maldosos de que um jovem de pouco mais de 20 anos, não poderia ser o autor da magistral escultura Pietá, teria escalado os muros da oficina onde estava a escultura já entregue ao devido mecenas, e “pichado”, digo, esculpido seu nome no peito da mãe de Jesus, disfarçado em uma faixa transversal.
Podemos creditar esta atitude a um arroubo da juventude, como o que acometeu o jovem pichador de Porto Alegre? Certo que não, pois, diferente do grafiteiro Kobra e do Il Divino – como seus conterrâneos costumavam chamar o escultor – ele não realizou nada, quis simplesmente deixar seu nome no asfalto.
Mas sempre é tempo! Sugiro ao rapaz aproveitar-se das benesses da internet para conhecer a obra desses dois artistas. E não só deles, tem tantos outros para serem admirados e, porque não, servirem de inspiração.
No mundo da arte, não é proibido copiar como forma de aprendizado, que fique claro. Michelangelo só ganhou a encomenda da Pietá após ser desmascarado. Sim, ele esculpiu uma cópia de uma escultura romana e vendeu como se ela tivesse quinze séculos para um apreciador de arte! Ao descobrir o golpe, ficou tão admirado do talento do jovem que o indicou para esculpir a esplendorosa Pietá.
Se pudesse, diria ao jovem rapaz que não há quem não tenha uma mancha em seu passado formativo, basta usar a lupa adequada para enxergarmos. Porém, pecado mesmo é deixar que a ficha policial suja de tinta preta, aquela mesma que usou para pichar a calçada, manche o resto de sua carreira. Do mesmo modo que Kobra e Michelangelo, ele pode transformar seu erro em um trampolim para saltar mais alto, criando algo neste mundo tão profícuo de novidades, não sendo somente um nome no chão, mesmo que seja um chão virtual…

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