ter, 16 de abril de 2024

Aplateia Digital | 13 e 14.04.23

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SETEMBRO, TEMPO DE RENOVAÇÃO

Buenas!,

Certos assuntos são tratados como tabu, evitando-se até alusões ou comentários. Acontece que, com o passar dos tempos, ocorrem mudanças conceituais, permitindo interpretações diferenciadas de assuntos capitais. Ouviram falar do “Setembro Amarelo”? Pois saibam que essa campanha existe desde 2003 e foi uma espécie de marca criada para referendar o dia 10 de setembro como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
Tenho certeza que todos os meus leitores conhecem a atual tendência de colorir os meses, mesmo não sendo brincadeira de criança. A cada mês, um certo número de cores é utilizado para marcar campanhas que servem de alerta às questões de saúde, como o novembro azul, que avisa do câncer de próstata, e o maio amarelo, voltado para a redução dos acidentes de trânsito.
São tantos os matizes e só doze meses, contudo, não podemos deixá-los cair na banalização. Cada campanha tem por objetivo alertar e conscientizar acerca de temáticas específicas, disseminando informações básicas referentes à elas e, o mais importante, visando implementar ações preventivas.
O tema do setembro amarelo é por demais sensível. Na imprensa, existe uma norma interna que prediz a omissão de informar sobre suicídios. Há um temor que uma notícia sobre o assunto possa incitar outros. É um temor pertinente, afinal, nunca sabemos como funciona a cabeça de uma pessoa sadia, que dizer daqueles que enfrentam algum tipo de transtorno mental, não importa o nível.
Escrever sobre isto é como caminhar em lava quente, preciso escolher as palavras com cuidado, respeitando as individualidades. Por sinal, cuidados conosco e com o outro são sempre necessários, pois nunca sabemos quando um gatilho, metaforicamente falando, pode ser acionado. O gatilho mais conhecido dos transtornos mentais (e que pode ser monitorado por terceiros) é a depressão, sabiam?
Se vocês vivem neste planeta e, para complicar, habitam o território conhecido como Brasil, saibam que quase dobrou o número de casos de depressão registrados em tempos pandêmicos. Óbvio que esse crescimento não foi privilégio nosso, é uma tendência mundial. O isolamento social, que já era grande devido ao uso das redes sociais, só piorou com a pandemia.
Todos sabem da importância das redes, pois elas nos permitem socializar virtualmente, o que foi excelente no período pré-vacinação. Hoje vivemos tempos melhores, começando a sair de casa e viver a vida de verdade. Tem gente que desaprendeu, pelo visto, “maquiando virtualmente” seus sentimentos, sem contar o visual. Nas fotos e vídeos, a maioria das pessoas apresenta-se feliz e sorridente, mas fora das telas, quanta diferença, ainda mais com aqueles que carecem de estabilidade emocional.
Dela é que estou falando, da tão valiosa vida, que muitos perderam para um vírus ou para a violência urbana. A música “Paciência”, do cantor Lenine, diz: “A vida é tão rara, A vida não para…”. E abrir mão dela não é uma coisa boa a ser feita, por mais difícil que ela pareça.
O suicídio não pode ser tratado como um esqueleto no armário, pois eles não desaparecem sozinhos. De acordo com a OMS, a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo. Segundo a OMS, 90% dos suicídios podem ser prevenidos. O que deve ficar claro para todos, com estas informações, é que o fundamental é conversarmos a respeito.
Os suicídios podem ser evitados desde que tenhamos conhecimentos básicos sobre os seus alertas sintomáticos. É neste campo que a campanha se insere. Há um site do Setembro Amarelo que tem farto material informativo que pode – direi melhor – deve ser acessado não só por quem se sente só no mundo, mas por parentes e amigos daqueles que amamos. Identificar avisos podem ajudar àqueles que não conseguem lidar com esta verdadeira doença.
Infelizmente, o mundo perdeu de maneira hedionda personalidades como os escritores Ernest Hemingway, Florbela Espanca e Virginia Woolf, além de artistas do quilate de Kurt Cobain e Robin Williams. Mas os anônimos são tantos e são a maioria. Não sei vocês, mas já perdi colegas de trabalho e um tio desta maneira. Seus flagelos poderiam ser evitados? Não há como saber, não tratamos aqui de um cálculo matemático.
Desde que me conheço por gente, soube que vidas não são números frios a serviço de estatísticas, mas sim pessoas. Raramente saberemos se algo que fizermos hoje poderá evitar um ato impensado no futuro, entretanto, uma palavra de apoio dita na hora certa pode amparar toda uma vida.
Já que falei dela, quero lembrá-los de que a vida é uma dádiva, não resta a menor dúvida quanto a isto. Ganhamos este presente sem pedir, mas, já que o temos, não nos custa muito valorizar. Se ela possui uma origem divina ou é fruto da evolução das espécies, considero indiferente. O que tenho certeza é do seu valor e beleza. Por mais que estejamos em momentos difíceis, saibamos identificar o que nos afeta e, principalmente, como lidar com estas dificuldades.
Pedir ajuda não é feio, olhar para um conhecido e perguntar se ele está bem também não. Muito mais poderia ser dito, mas apresento aqui as palavras do poema parnasiano “Mal Secreto”, de Raimundo Corrêa. Seus versos deixam claro que não precisamos viver de “fachada”. Sejamos simples, admitindo nossas fragilidades, agindo assim, iremos nos tornar o que somos de melhor, humanos…