ter, 16 de abril de 2024

Aplateia Digital | 13 e 14.04.23

Última Edição

A SOCIALIZAÇÃO EM CAPITÃO FANTÁSTICO

Um grande amigo sugeriu que eu comentasse sobre esse filme, pois, segundo ele, é um daqueles filmes muito bons que tem pouca repercussão. Eu concordei e aqui estamos. Vivemos tempos difíceis. A Pandemia que estamos enfrentando fez com que a sociedade revisse sua maneira de viver. Não só procurar se proteger, e proteger os outros, mas procurar formas de socialização que evitassem aglomerações. E por conta disso “inventamos” formas de se relacionar. À distância, usamos das ferramentas tecnológicas para nos comunicarmos, de certa forma, fora possível estabelecer contato com as pessoas, mesmo que de forma afastada. Em Capitão Fantástico, isso vai além. A socialização é completamente desconstruída e a forma como as relações vão se dando para as pessoas do filme, nos faz refletir sobre o que é educação e convívio em sociedade.

No filme, uma família inteira resolve se afastar da sociedade para viver fora da urbanização, ou seja, moram, verdadeiramente, como uma comunidade, na selva. Para isso ser possível, os pais da família de seis filhos, educam seus filhos de uma forma diferente. Eles são ensinados desde muito cedo a cozinhar, a sobreviver na selva, realizam exercícios rústicos com o que há à disposição e sua educação formal se dá mediante os livros que os pais escolheram para que fossem lidos por eles. Ocorre que a mãe dessa família adquire depressão e resolve que precisa cuidar de sua doença na civilização e retorna para o convívio urbano. Infelizmente ela não consegue se curar. Os filhos, sabendo da morte da mãe, provocam o pai para irem até a cidade, para poderem participar do enterro.

Esse conflito, entre o que pai entende como certo e a sociedade entende como certo, é o ponto do filme, é o ponto que causa reflexão, é o ponto em que a socialização entre em questão. Os filhos foram sim muito bem educados, são inteligentes, tem uma ótima composição física, além do conhecimento de aspectos naturais da vida, mesmo “não tendo idade”. Por diversos momentos os filhos dessa família são comparados com os filhos que vivem em sociedade e, intelectualmente, se demonstram muito mais versados. É evidente, porém, que nenhum daqueles filhos tiveram contato com instituições “normais” da sociedade. Nunca foram à escola, nunca tiveram contato com qualquer instituição religiosa, e acerca de convívio social conhecem muito pouco. Tanto é verdade que, em determinado momento se tornam incapazes de seguirem com a vida, pois precisam se relacionar com as demais pessoas, os próprios avós, inclusive.

O vínculo que esta família possui é muito forte. Eles possuem uma afetividade bastante presente, mas o conflito ocorre quando a socialização se faz necessária. Até que ponto as instituições sociais são importantes e até que ponto elas são necessárias? O controle sobre o que ocorre de bom e ruim é, por muitas vezes, decidido em sociedade. Regras sociais existem de forma a equilibrar o convívio entre as pessoas e se alguém as desconhece, como as crianças do filme, passam a ter problemas. Ao mesmo tempo, o convívio em sociedade pode enclausurar as pessoas, pelo simples fato de ser uma convenção social. E isso também é prejudicial. Poder falar sobre os mais diversos assuntos cientificamente, são deveria ser tabu, inclusive os tabus, com o passar do tempo, deveriam ser quebrados. E essa é uma mensagem importante. Por outro lado afastar-se do convívio com as pessoas não traz benefícios e o equilíbrio entre essas duas formas de pensar é o grande tema desse filme, que, pra mim, como o próprio nome diz, é fantástico.