qui, 28 de março de 2024

Aplateia Digital | 23 e 24.03.24

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Estiagem causa prejuízo milionário aos produtores do município

Segundo laudo divulgado pela Prefeitura Municipal somente os sojicultores estimam um impacto financeiro de 60 milhões

A Prefeitura Municipal decretou, no dia 6 de março, situação de emergência em Sant’Ana do Livramento em razão da rigorosa estiagem que atinge toda a fronteira. O município não registra chuvas significativas desde dezembro do ano passado. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) demonstram o agravamento da crise hídrica na cidade. Em janeiro, o município alcançou apenas 84,4 mm de chuvas acumuladas, quando a expectativa era de 95,5 mm.
Em fevereiro, a escassez de chuvas fez com que somente 44,2 dos 170 mm esperados fossem atingidos. Quanto ao mês de março ainda não temos dados, pois embora com alguma chuva o volume acumulado ainda não foi suficiente para atenuar a situação. A média para o mês, em tempos “normais”, é de 138 mm.
Os quase 7.000 km² que nos conferem o título de maior cidade gaúcha em extensão territorial se apresentam como enorme desafio quando se trata de suprimento de água potável para a zona rural em tempos de seca.
Apenas nos dois primeiros meses deste ano o Departamento de Água e Esgotos percorreu mais de 6.000 km, realizando o abastecimento de aproximadamente 300.000 L de água potável para consumo humano em mais de 12 assentamentos da reforma agrária (mais de 100 famílias) e seis escolas rurais com distâncias médias de 30 km em relação ao centro urbano.
O fornecimento de água por meio de caminhão pipa nessas localidades foi a resposta imediata oferecida pelo município diante da escassez dos recursos hídricos e o esvaziamento dos poços, açudes e bebedouros locais que serviam para o abastecimento humano e também para a dessedentação animal.
A diminuição dos espelhos d’água cria lodo nas margens dos açudes, comprometendo a qualidade da água, impedindo o acesso dos animais que se atolam no barro e não conseguem realizar a dessedentação (matar a sede).
De janeiro até o momento, o Departamento Técnico da Secretaria Municipal da Agricultura concluiu 11 processos de licenciamento de novos açudes e a Patrulha Agrícola, programa de parceria que oferece serviços de açudagem com custos subsidiados, realizou 10 limpezas e a construção de um novo açude.
Conforme o Departamento de Meio Ambiente – DEMA, com a decretação de Situação de Emergência, as condições para licenciamento de açudes estão ocorrendo em condições diferenciadas permitindo mais agilidade frente aos desafios da crise.
Na agricultura, as culturas mais afetadas foram as da soja e do milho e danos importantes já são percebidos na apicultura e no cultivo de legumes e hortifrútis.
Conforme dados da EMATER, dos 55.000 ha semeados de soja, estima-se que aproximadamente 35% já estejam comprometidos pela falta d’água e calcula-se um prejuízo financeiro superior a R$ 60.000.000,00.
Conforme a mesma entidade, a situação relativa à produção de milho não é muito diferente. O prejuízo financeiro previsto se aproxima de R$ 3.500.000,00. Calcula-se que dos 3.500 ha plantados cerca de 40% já estejam comprometidos.
Na bovinocultura leiteira as perdas, até o momento, chegam a 50%. A produção esperada de 900.000 litros no período alcançou apenas metade disso, gerando um déficit financeiro de quase R$ 500.000,00.
Na pecuária de corte, os prejuízos serão sentidos mais a médio e longo prazo quando serão percebidos os impactos da desidratação no desenvolvimento dos rebanhos em crescimento na capacidade reprodutiva das matrizes.
Segundo o IBGE o rebanho bovino do município é de quase 600.000 mil cabeças (575.447), dessas estima-se que 30% (172.634 matrizes) sejam matrizes reprodutoras com taxa média de natalidade ao redor dos 70% (120.843 terneiros), até o período projeta-se uma queda de 30% nesse índice no futuro (-36.252 terneiros), o que deve gerar um prejuízo próximo a R$ 50.000.00,00 para o setor pecuário.
Excluídos os gastos públicos, a soma dos prejuízos na agricultura e na pecuária já ultrapassa a casa dos R$ 110.000.000,00 e por certo terá forte impacto negativo na economia e arrecadação da cidade.