seg, 28 de abril de 2025

Variedades Digital | 26 e 27.04.25

ENCONTRO LITERÁRIO COM SARAMAGO

Ano novo está aí, repleto de propostas oferecidas àqueles que se permitem aproveitar o bom da vida. Infelizmente, o rol de oportunidades que surgem nos recomenda atividades cautelosas. Apesar do veraneio, os cuidados ainda são os mesmos desde março.

Essa crônica se propõe à leveza, sem esquecer a turbulência que esse mundo vive na saúde e na política. Pretendo sugerir algumas leituras, sempre bem vindas para começar um ano ganhando conhecimento.

Recomendo esse autor pela relevância de sua obra e porque me é pessoalmente caro, explicarei maia adiante. José Saramago foi o primeiro autor de língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel de Literatura,  em 1998. Sua escrita original, somente com pontos e vírgulas como sinais gráficos de pontuação e o crítico narrador-comentarista, já merecem valorização. Falarei um pouco de minhas obras  preferidas.

Li na faculdade “Memorial do Convento“. Início pesado, lento, depois, uma grata surpresa. Até hoje lembro da cena final, envolvendo Blimunda Sete Luas e Baltazar Sete Sóis, emocionante! Esse romance se passa no séc. XVIII em Portugal, apresentando personagens reais,  como o padre Bartolomeu de Gusmão, e alguma realidade fantástica, além de uma história ímpar de amor..

O ano da morte de Ricardo Reis” é um romance que mistura Fernando Pessoa, seu heterônimo mais isento, Ricardo Reis, e um mal que começava a ganhar a Europa em 1936: o fascismo. Reis não quer se envolver com os problemas do mundo, repleto de ditadores: Salazar em Portugal, Mussolini na Itália, Hitler na Alemanha, Franco bombardeando cidades espanholas. História, ironia, poesia e muita inteligência nessa narrativa espetacular.

Antes de falar do livro mais importante, relato um episódio de 1997. Saramago era levemente famoso e daria uma palestra na UFRGS. 300 estudantes e professores estavam lá, prestando atenção às palavras soltas no ar, não às presas no papel. Antes da fala, esse estudante que vos fala, pediu um autógrafo. Perguntou meu nome, assinou e voltou-se para seus pensamentos. Nunca mais devolvi a edição emprestada de um amigo de “O evangelho segundo Jesus Cristo“, sua obra-prima. Devorei-o nos cincos dias seguintes, criando uma paixão eterna por essa obra que apresenta a vida de um Jesus Cristo humanizado, despido da capa divina, que um Deus suspeito insiste em lhe impingir. Uma obra que nos faz repensar diversos conceitos pessoais e religiosos.

Poderia citar muitos outros, como “A Caverna”, “Caim”,História do cerco Lisboa” ou o famoso “Ensaio sobre a cegueira”, uma alegoria que virou filme. Aborda nossa incapacidade de “enxergar” diante de adversidades.

Outro episódio interessante ocorreu em abril de 1999, após o Nobel. Saramago receberia o título de “Doutor Honoris Causa”, ele que não fizera faculdade alguma. Dessa vez,  três mil pessoas se aglomeravam no salão de Atos da UFRGS. Após o discurso, ele foi levado por um corredor escondido para o sexto andar, onde haveria um coquetel reservado para autoridades. Não houve sessão de autógrafos, era gente demais com guardanapos, que nem sabiam quem ele era, além de uma celebridade.

Eu, que ainda cursava a graduação, viera direto do trabalho e não consegui entrar. Comprei um livro na hora; o mais barato, os tempos eram difíceis, na vã esperança de novo contato. Quando já preparava minha frustração para partir, eis que vejo uma professora conhecida na fila de engravatados para o elevador.  Munido de minha cara de pau ímpar, pedi para mentir que eu era seu namorado. “Já recusei duas propostas de noivado e uma de casamento, vou aceitar uma de namoro?”, respondeu, rindo. “Mas entra na fila, tenta!”, incentivou. E agora?, perguntei-me.

Guia dos incautos e dos venturosos, iluminaste meu caminho. Os seguranças não me barraram e fui recebido na porta pela magnífica reitora, com sorrisos. Senti como se adentrasse uma sessão do Olimpo, tal a constelação de divindades culturais que encontrei. Salgados especiais e vinho de qualidade faziam a alegria do jovem estudante. Mas o alvo era a celebridade ali presente, cara fechada e distante como um Zeus onipotente, para manter a linha metafórica.

Ninguém se aproximava muito com receio de incomodar um ganhador de Nobel, algo inédito para a intelectualidade gaúcha. Após um recital de violoncelo tocando Bach, inédito para mim, resolvi dar um passo digno de Prometeu e roubar o fogo da sabedoria. Ao vê-lo sentado, parti, armado somente com livro, caneta e algumas taças de vinho na cabeça. Titubiei, fui lento, chegando em terceiro lugar. Outros tiveram a mesma ideia. Logo a fila era bem grande…

Aproveitei a oportunidade para comentar uma fala da palestra enquanto ele autografava o livro “In Nomine Dei“: “Somos seres amputados: cada um de nós tem três metros de altura. Não percebemos ou não acreditamos nisto. E há algo acima de nós que poderíamos tocar com os dedos e que deveria ser o trabalho de nossa vida: nós próprios!”, dissera e eu concordei, no auge de minha empolgação.

O livro citado trata das atrocidades praticadas aos borbotões no início da Reforma Protestante e da Contrarreforma, todas realizadas “em nome de Deus”. Esse foi um caso, dentre tantos, retratados a partir da ótica crítica de um ateu, como eu.

O escritor de origem humilde, que trabalhava desde cedo, que enfrentou períodos ditatoriais, que só conseguiu escrever e ser publicado após a demissão do jornal que atuava, já com quase 60 anos, escreveu mais que um autógrafo para o jovem questionador diante dele, fez um resumo de sua fala: “seja grande, tenha três metros!”

Não precisaria, mas vou concluir, apesar de bons livros como os de Saramago deixarem para o leitor suas conclusões. O que depreendi desse momento que ficou marcado na memória, apesar do tempo transcorrido, é que não precisamos esperar ajudas divinas. Sejamos aquilo que queremos ser, acreditando em uma coisa só: nossa grandiosidade humana.

Bora ler um livro, garanto que eles nos engrandecem!

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