Jesus de Nazaré, filho primogênito de José e Maria — ele carpinteiro; ela, dedicada ao lar — nasceu em Belém, na Judeia, sob o reinado de Herodes, nomeado por Otávio Augusto, imperador romano.
Morador de Nazaré, vilarejo da Galileia, José viajou por cerca de quatro dias para Belém com a esposa grávida. Roma convocara o recenseamento e cada um deveria estar em sua cidade natal. Natural de Belém, José pertencia à casa e família de Davi e, para lá, retornou.
Como dito nos Evangelhos, no dia seguinte ao nascimento José participou do recenseamento para os devidos registros. Tais censos visavam à contagem do povo e ao respectivo recolhimento de impostos para Roma. Espertamente, os judeus se opunham às tentativas de aferição. Por essa razão, o levantamento ocorreu um ano depois de concluído nos povos vizinhos.
O Império mantinha a paz e dava certo grau de autonomia à Judeia. Mesmo assim, havia taxações elevadas, confiscos de grãos, animais, suprimentos, cavalos e carroças para transporte. O roubo de bens particulares e atos de violência contra mulheres judias eram comuns, além de constantes e graves ofensas religiosas.
Mesmo assim, o mundo judeu seguia à parte dentro da órbita romana. Nenhuma outra região sobrevivia com tamanha identidade cultural e religiosa.
O censo, por sua vez, confirma erros nos calendários, que são contados a partir do ano em que se supõe ter nascido Jesus. Os cálculos foram equivocados quanto às datas. Vários acontecimentos registrados e documentados ajudam a estimar a data exata do nascimento. Como Herodes morreu no ano 4 a.C., e o último censo realizado na Judeia enquanto esse esteve vivo aconteceu três anos antes de sua morte, o nascimento teria acontecido no ano 7 a.C.
O evento anunciado pelo profeta Isaías 9:1-7, setecentos e cinquenta anos antes nas Escrituras Sagradas, certamente ocorreu no fim de agosto, próximo à Festa dos Tabernáculos, quando eram comuns viagens para comemorações em Belém.
Os judeus mantinham rigorosas tradições religiosas. O dia a dia era submetido à essas tradições, e a circuncisão acontecia pouco tempo depois do nascimento. A desobediência a essa regra era considerada atitude profana e impura. Assim, Jesus foi apresentado ao templo de Zacarias, após a purificação da mãe, vinte e um dias depois do parto. O mês de setembro do ano 7 a.C. teve quatro sábados: 4, 11, 18 e 25. Como o censo em Belém ocorreu entre 10 e 24 de agosto, o sábado de apresentação foi o de 11 de setembro. Logo, o nascimento aconteceu em torno de 21 de agosto do ano 7 a.C. Vinte e cinco de dezembro, portanto, seria a data da concepção, quando Maria engravidou. O Verbo se fez carne (João 1:14).
Por outra razão, desde o século IV, os cristãos festejam o Natal no dia 25 de dezembro, data que o Papa Júlio I (280-352) designou como a do nascimento de Cristo para exaltar a importância da natividade do Filho de Deus. Na verdade, foi uma adaptação das festas ao deus Sol dos povos pagãos, a Saturnália, dia que comemorava a volta do sol após o solstício de inverno, 21 de dezembro. Desse modo, sem maiores traumas ou inconveniências, Júlio I manteve a data e a festa.
Também diz o evangelho de Marcos que o filho de Maria tinha irmãos e irmãs mais jovens. Foi carpinteiro de ofício, e o trabalho artesanal lhe rendia ganhos razoáveis se comparados aos da maioria da população.
Considerava a riqueza pessoal um fardo e um perigo. “Ai daquele que é rico!”. As posses materiais representam ameaça moral, sinal de egoísmo e fonte de orgulho. Jesus disse que seria mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. Em seu Sermão da Montanha, foi além, insistindo que os humildes e oprimidos eram favoritos de Deus. Respeitava a simplicidade, desprezava o ódio e rejeitava a hipocrisia, como os velhos profetas judeus. Sua mensagem se baseava predominantemente na verdade, na compaixão e no amor a Deus.
De todas as pessoas conhecidas, vivas ou mortas, Jesus é a mais influente. Sua mensagem é fortemente social: no reino de Deus, prevalece a justiça e os mesmos princípios devem valer aqui na Terra. A melhor maneira de o ser humano servir a Deus é ajudando os mais fracos, os idosos e as crianças.
O filósofo existencialista alemão Friedrich Nietzsche, no século XIX, de forma impetuosa e febril, concluiu que a ideia de “homem” do cristianismo nos enfraquece. E, além do mais, Deus está morto!
Prefiro a versão de Dostoiévski, mais adequada à minha realidade: “Se Deus não existe, então tudo é permitido”.
Por Alcides Stumpf: O nascimento de Jesus de Nazaré
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