Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
“Se a criatividade e a energia usadas para aplicar golpes e promover sacanagens fossem usadas para o bem, o mundo seria muito melhor, mais fácil, justo e menos violento”.
Esta frase era um verdadeiro mantra, usado com frequência por minha saudosa avó materna, dona Wilma Kirst. Ele usava a expressão indignada com as mentes malignas que, já naquela época, aplicavam o onipresente “conto do bilhete”. Isso acontecia também lá pelas bandas do bairro Bela Vista, no interior de Arroio do Meio, no Vale do Taquari, onde nasci e morei até a adolescência.
É claro que havia outros golpes conhecidos à época. Um deles, bastante comum, era a visita inesperada de um fotógrafo que passava uma manhã inteira fazendo imagens dos filhos pequenos das famílias locais. A promessa garantia que, em 30 dias, seriam entregues um álbum – contendo fotos coloridas e em preto e branco – com fino acabamento e qualidade inigualável, dignos de serem uma relíquia para o futuro.
Depois de muitas trocas de roupas – coisa que as crianças até hoje detestam -, finalmente a sessão de fotos chegava ao fim. Chegava, então, a hora de acertar o pagamento. O fotógrafo oferecia duas opções. Na primeira, pagava-se 50% à vista e o restante na entrega da publicação.
Muita gente, no entanto, não resistia à outra oferta, à primeira vista generosa, que previa um desconto de 50% do total para quem pagasse o débito à vista. Neste caso, muitas pessoas jamais voltaram a ver o pretenso fotógrafo na vida. E muito menos o tal “álbum e as sonhadas fotos de primeiríssima qualidade” que motivou a visita.
Lembro-me desse e de outros episódios parecidos quando leio e ouço notícias referentes aos golpes virtuais cada vez mais frequentes. Ao contrário do que se possa imaginar, a “ingenuidade” não acomete somente idosos, pouco entendidos em informática (como eu) ou desavisados ao acessar o telefone celular.
Os requintes empregados na elaboração das armadilhas digitais beiram à ficção científica de filmes concorrentes ao Oscar. Atualmente, a Inteligência Artificial multiplicou as falcatruas. É impossível discernir vozes e rostos legítimos das cópias criadas pela tecnologia. Apesar dos avanços, a mente malévola do ser humano supera qualquer boa intenção.