O relatório da OCDE mais uma vez expõe a fragilidade da educação brasileira: o país investe cerca de um terço do que gastam, em média, os países desenvolvidos por aluno. No ensino fundamental, são pouco mais de US$ 3.600 anuais, contra quase US$ 12 mil da OCDE.
Numericamente, é pouco. Mas, para a realidade brasileira, é muito recurso para ser tão mal aproveitado. Não é a escassez de dinheiro, por si só, que explica nossos péssimos resultados. O problema é que somos obrigados a gastar, mas não aprendemos a investir.
A Constituição determina percentuais mínimos de aplicação em educação. Estados e municípios são forçados a empenhar valores para cumprir a lei. O resultado é que muitos gestores se preocupam mais em cumprir a regra contábil do que em garantir qualidade na aplicação do dinheiro. Gasta-se por obrigação legal, mas sem estratégia, sem avaliação de impacto e sem visão de futuro.
Essa lógica gera distorções. O Brasil concentra recursos no ensino superior, enquanto a educação básica permanece desestruturada. O professor continua mal remunerado, a infraestrutura escolar é precária e faltam investimentos em inovação pedagógica. Assim, a sociedade paga caro — mas colhe pouco.
É preciso virar essa chave. Não basta destinar mais recursos. É preciso transformar gasto em investimento, com metas claras de aprendizado, valorização real do professor, redução de desigualdades regionais e foco na base do sistema, que é onde se forma a cidadania e se define o futuro de qualquer país.
Educação não pode ser apenas uma rubrica constitucional. Tem de ser um projeto nacional, com planejamento de longo prazo e compromisso permanente. Gastar é obrigação; investir é decisão política. Enquanto não tivermos coragem de tratar a educação como prioridade de verdade, o Brasil seguirá preso ao círculo vicioso da baixa produtividade, da desigualdade e da frustração de gerações inteiras.
Jerônimo Goergen
Presidente do Instituto Liberdade Econômica
Advogado
