Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Um ex-professor de matemática – que com o passar do tempo se tornou um grande amigo e leitor – há poucos dias chamou a minha atenção para o hábito que cultivo de falar da velhice. Ponderei a ele que, aos 65 anos, considero “normal” fazer balanços de vida com alguma frequência, muitas vezes em tom crítico.
Também costumo falar com realismo das agruras desta fase da vida que laboratórios e farmácias, de maneiras sorrateira, consagraram como a “melhor idade”. Conceito, aliás, que gera controvérsias com razão.
Há pouco tempo, minha filha veio me visitar. Enquanto sorvíamos um chimarrão cevado no capricho, ela queixou-se de cólicas. Perguntou se tinha algum medicamento em casa. Pedi que fosse à “farmacinha” do banheiro para procurar o que achasse melhor para o caso. Minutos depois ela chegou indignada à sala:
– Pai… que vergonha! Tu tens um único envelope de Dorflex e que está vencido há seis meses! Como tu consegue?
Calmamente respondi que no raio de duas quadras do meu apartamento existem três farmácias, uma delas que funciona 24 horas ininterruptas.
– Quando eu preciso, vou até lá para comprar o necessário, sem precisar estocar a ponto de passar o prazo de validade – respondi para a incredulidade dela.
Além de evitar o consumo de medicamentos sem indicação médica, em caso de necessidade sempre compro a menor embalagem disponível nas lojas. Isso, no entanto, é cada vez mais difícil porque envelopes e caixas de drogas quase sempre vêm com, no mínimo, 20 unidades. As indústrias do segmento adotam uma estratégia de marketing que nos faz “reféns do remédio”.
Além disso, a compra desenfreada gera um “estoque” desnecessário dentro de casa. Pouca gente lembra de entregar o excedente nas farmácias ou estabelecimentos que mantêm dispensadores de remédios vencidos.
Hoje, sexagenário assumido, me considero um escravo dos laboratórios. Diferente de antes, uso continuamente medicamentos para combater a hipertensão e o colesterol, além de outros dois indicados pelo urologista.
Apesar da vacina feita, neste inverno já contraí duas gripes. Uma delas me deixou de cama por três dias, algo inédito para mim. Portanto, resta conviver com maturidade com as agruras desta fase da vida. Estar vivo é mais importante!