No coração de Sant’Ana do Livramento, algumas presenças permanecem firmes como pilares de memória e afeto. Uma dessas figuras é Dorival Quevedo Soares, de 80 anos, conhecido por gerações de estudantes como “o pipoqueiro da frente do colégio”. Mais do que um vendedor, Dorival é um contador de histórias, a sua própria história é marcada por luta, humildade, trabalho e amor à vida.
Nascido em 9 de agosto de 1944, Dorival enfrentou a dureza da vida desde cedo. “Comecei minha vida pobre, sem estudo. Trabalhei como leiteiro, vendi jornal, fui ajudante em olaria e pedreira. Passei muito sacrifício. A vida foi uma escola pra mim”, conta, com a sabedoria de quem aprendeu mais com a vida do que com qualquer sala de aula.
Natural de Madureira, de família humilde, ele precisou se reinventar inúmeras vezes. “Minha mãe dizia que eu era inteligente, mas a gente não tinha condição. Eu nem estudei. Mas sempre sonhei em ser adulto e mudar a minha história.”
A virada veio por acaso. Aos 22 anos, ao passar por um vendedor de pipoca, perguntou onde poderia comprar um carrinho. Foi assim que nasceu o ofício que o acompanha até hoje. “Na primeira vez que saí com o carrinho, virei ele e queimei tudo. Fiquei com vergonha, mas não desisti.”
Desde então, seu carrinho de pipocas, carrapinhadas, maçãs caramelizadas e pipocas com mel e açúcar virou ponto fixo na frente dos colégios General Neto e Santa Teresa de Jesus, onde conquistou uma clientela fiel. “Vi crianças crescerem, virarem pais e até avós. Hoje, me emociono vendo os netos deles vindo comprar pipoca comigo. Isso é gratificante demais.”
Dorival se emociona ao falar dos filhos, que trilharam bons caminhos graças aos valores que ele ensinou. “Tenho orgulho da minha história e dos meus filhos. Ensinei eles a trabalhar desde pequenos.” Ele conta emocionado.
Teve um episódio marcante em frente ao colégio Santa Teresa, que ele nunca esquece: “Logo quando iniciei a minha jornada, eu fiquei tão feliz com a fila de crianças que me atrapalhei e acabei soltando o carrinho de pipoca. Mas foi uma alegria enorme.”
Para Dorival, o Dia do Trabalhador tem um significado profundo. “É essencial para valorizar todos os trabalhadores, de qualquer área. Todo trabalho é digno.”
Hoje, aos 80 anos, pai de 13 filhos, netos e até tataranetos, Dorival não pensa em parar. Com seu avental, sua simpatia e a pipoca sempre quentinha, ele continua a ser um exemplo vivo de que o trabalho é mais do que sustento: é uma forma de deixar marca no mundo e no coração das pessoas.