No quadro “Ponto da Carne”, especialista destacou a lógica de oferta e demanda, analisou preços do boi e apontou valorização do terneiro como sinal de virada de ciclo
Na última edição de 2025 do Panorama Agropecuário, da Rádio RCC FM 95.3, o quadro “Ponto da Carne” recebeu o consultor Roberto Grecellé, da Prado Estratégias para Agronegócio, para uma análise aprofundada do ano pecuário e as perspectivas para 2026. A entrevista, conduzida pelo jornalista Matias Moura, trouxe um balanço detalhado de preços, mercado, produtividade e do posicionamento do Brasil no cenário mundial da carne bovina.
Segundo Grecellé, 2025 foi um ano intenso e desafiador, marcado por oscilações significativas nas cotações, reforçando a lógica clássica da oferta e demanda que rege a cadeia da carne bovina. “A pecuária é uma atividade de longo prazo, e este foi um ano que precisa ficar na memória para que o produtor entenda como o mercado se comporta”, avaliou.
Preços do boi e comportamento do mercado
Ao detalhar os números, o analista destacou que o boi gordo em São Paulo iniciou o ciclo em torno de R$ 314/@, chegou a R$ 327 em fevereiro, caiu para patamares próximos de R$ 297 em agosto e encerrou o ano em cerca de R$ 320/@, abaixo da expectativa inicial de R$ 325. No Rio Grande do Sul, o quilo do boi gordo fechou o ano em R$ 11,15, após ter alcançado o melhor momento em julho.
Apesar de não atingir o teto projetado, Grecellé ressaltou pontos positivos, como a valorização da vaca gorda, que subiu para R$ 9,70, e, principalmente, do terneiro, que saltou de R$ 12,15 para quase R$ 13,00 em apenas duas semanas. Para ele, esse movimento é um claro termômetro de virada de ciclo.
“Depois do pico de abate de fêmeas, quem dispara primeiro é o terneiro. Isso mostra que 2026 deve começar com forte aceleração nas categorias de reposição, pois o rebanho precisa ser recomposto”, explicou.
Brasil líder mundial em carne bovina
Outro ponto central da entrevista foi a confirmação de que o Brasil se tornou, em dezembro de 2025, o maior produtor de carne bovina do mundo, além de já ser, há anos, o maior exportador. Grecellé destacou que a marca veio antes do previsto e reforça o peso do país nas negociações internacionais.
“O Brasil era a maior loja de carne do mundo, agora também é a maior fábrica. Isso é um título que agrega reputação e força nas mesas de negociação”, afirmou. Ele ressaltou que, embora os Estados Unidos ainda sejam referência em eficiência produtiva, o Brasil tem avançado de forma consistente em produtividade, especialmente nas últimas décadas.
Produtividade, confinamento e carne a pasto
Durante o programa, Grecellé também comentou o crescimento do confinamento no Brasil, que já responde por cerca de 15% dos abates, contra índices muito menores no passado. Ainda assim, reforçou que o país segue sendo um grande produtor de gado a pasto, com diversidade de sistemas e sabores.
“O sabor da carne carrega a memória do que o animal comeu. Confinamento, pastagem nativa, braquiária, milho… não existe melhor ou pior, existem produtos diferentes”, explicou, destacando que a preferência do consumidor está muito ligada à cultura regional.
Consumo interno e economia
Ao justificar por que os preços não avançaram mais em 2025, Grecellé chamou atenção para o consumo interno. Apesar do recorde de exportações, o analista observou que a economia brasileira limitou o poder de compra da população.
“O consumidor brasileiro não pode ser desprezado. São mais de 200 milhões de pessoas que consomem carne, mas grande parte depende diretamente da renda. Quando a renda aperta, o consumo de carne bovina diminui”, analisou.
Expectativa para 2026
Encerrando a última participação do ano, Grecellé demonstrou cauteloso otimismo para 2026, especialmente com foco na valorização do terneiro e na recomposição do rebanho. Ele afirmou que o retorno do quadro em fevereiro será decisivo para avaliar a consolidação dessa tendência.
“Olhando para o copo meio cheio, o produtor brasileiro evoluiu muito. Temos motivos para reconhecer os avanços e entrar em 2026 com atenção redobrada, mas também com esperança”, concluiu.
O Ponto da Carne, oferecido pela Prado Estratégias para Agronegócio, encerrou 2025 com mais de 40 edições ao longo do ano, consolidando-se como um dos espaços mais acompanhados pelos ouvintes do Panorama Agropecuário nas manhãs de sábado da RCC FM.
