Um estudo divulgado nesta semana revela uma mudança significativa no comportamento dos brasileiros dentro de grupos de WhatsApp: o compartilhamento de notícias e opiniões políticas está cada vez menos frequente em ambientes familiares, de amizade e de trabalho. O motivo principal não é a falta de interesse, mas o receio de conflitos. Mais da metade dos participantes desses grupos afirma ter medo de emitir opinião política, diante de um ambiente considerado agressivo e intolerante.
A constatação faz parte do estudo “Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens”, realizado pelo centro independente de pesquisa InternetLab em parceria com a Rede Conhecimento Social, ambas instituições sem fins lucrativos. A pesquisa mostra que 54% dos usuários participam de grupos de família e 53% de grupos de amigos no WhatsApp. Já os grupos de trabalho reúnem 38% dos entrevistados. Em contraste, apenas 6% dizem integrar grupos voltados especificamente ao debate político.
Os dados permitem leituras distintas. Por um lado, podem representar um alívio para quem se sente exausto diante do embate permanente e radicalizado entre posições políticas antagônicas — simbolizadas, sobretudo, pela polarização entre Lula e Bolsonaro. Esse cenário já produziu consequências conhecidas, como rompimentos familiares, desgaste em ambientes profissionais, afastamento entre amigos e até conflitos entre vizinhos.
Por outro lado, os números expõem uma fragilidade mais profunda da sociedade brasileira: a dificuldade de conviver com o dissenso. Em um país onde discutir política frequentemente resulta em ataques pessoais, ofensas e até manifestações de cunho racista, o silêncio passa a ser visto como uma estratégia de autopreservação. Em plena era da informação abundante e da conectividade permanente, falar e ouvir, discordar com respeito e sustentar argumentos fundamentados seguem sendo exercícios raros.
O estudo aponta que 56% dos entrevistados têm medo de expressar opinião política porque consideram o ambiente “muito agressivo”. Segundo os pesquisadores, consolidou-se um comportamento de evitação de conflitos dentro dos grupos. Cerca de 65% afirmam evitar o compartilhamento de mensagens que possam confrontar os valores de outras pessoas, enquanto 29% dizem já ter saído de grupos por não se sentirem à vontade para opinar politicamente.
Os números dizem muito sobre a precariedade da educação política no país, frequentemente moldada por conteúdos superficiais e polarizados das redes sociais. Em vez de aprender a debater ideias de forma crítica e respeitosa, uma parcela significativa da população prefere se retirar do espaço de diálogo.
O silêncio, nesse contexto, não significa consenso — mas cansaço, medo e, sobretudo, a incapacidade coletiva de transformar divergência em diálogo.
