Jornal A Plateia – Rádio RCC – Santana do Livramento

qua, 10 de dezembro de 2025

Fábula do tempo – Artigo de Eduardo Battaglia Krause

Eduardo Battaglia Krause
O texto abaixo está em

Eles foram consultar o leão, o rei da floresta. O burro teimava que a grama era azul, já o tigre dizia que era verde. O leão foi breve, deu razão ao burro e castigou o tigre por querer discutir com um tolo. Havia um outro mundo onde um rei reinava um reino que não existia. Como tal, pouco ouvia e pouco se importava, a não ser preservar o poder. Tinha adotado uma fórmula parecida com aquelas conhecidas pirâmides, ia emitindo dinheiro e multiplicando a divisão. Quando faltava, emitia mais. A corte ficou descontente, não participava, não tinha voz, não discutia nem mesmo os projetos do governo, até porque não havia governo. Então o rei estendeu a fórmula que vinha dando certo, emitiu mais dinheiro, aumentou o tamanho do governo, criou mais empregos que não geravam trabalho, sem necessidade de prestar contas, e o povo acreditando. Como não havia perigo de guerra, nem mesmo invasão, começou o descontentamento nas tropas. Só dinheiro não resolveria. Então o rei juntou os conselheiros próximos e instalou uma rede de intrigas e discórdias, colocou parte do povo contra a outra parte. Embora sem motivação, um início de rebelião tomou conta da plebe. A solução foi chamar os sábios, afinal o rei era o poder moderador. Acostumados a nada fazerem, nada decidirem, a não ser em benefício próprio, resolveram arvorar pra si todos os poderes de polícia, de julgar, de absolver, de imputar crimes e penalizar.
Eram sábios supremos e como tal, se diziam acima de tudo. Descobriram que era só escrever e declarar o que entendiam e o rei continuaria a governar emitindo dinheiro. Ciclo formado, a corte recebendo as benesses, as tropas acomodadas e o povo, bem o povo, povo, povo. Um dia o dinheiro acaba. Bom ai, o burro vai se dar conta que é burro, o tigre vai se dar conta que deveria ter cortado o mal pela raiz e o leão vai continuar sendo o rei da floresta. Quanto ao outro rei, os sábios e a corte, eles vão passar. E o país? Como disse, ele não existe, ou existe? Utopias? Mas o povo não está capturado nem dormindo, não discute com tolos, sabe que a grama não é azul, em algum momento, sem armas, sem brigas e dono do seu tempo e do seu voto, saberá levantar sua voz. Será sua vez. Fábulas.
Eduardo Battaglia Krause
Advogado e escritor.

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