Enquanto muitas famílias se reúnem em volta da mesa na noite de Natal, há quem viva a data de prontidão, atento ao toque do telefone e ao som da sirene. Há 18 anos no Corpo de Bombeiros, Christianne Teixeira Albuquerque, 38 anos, conhece bem essa realidade. Ao longo da carreira, já trabalhou diversas vezes nos dias 24 e 25 de dezembro, em escalas de 24 horas, tanto na sua cidade quanto em outras regiões do Estado, como Montenegro e Tramandaí, durante a Operação Verão.
Para ela, estar de serviço nessas datas traz um sentimento claro: dever cumprido. “Sabemos que estamos ali para proteger e servir a comunidade, independentemente da situação ou da data”, afirma. Ainda assim, a ausência da família é sentida. A saudade é amenizada por mensagens e ligações, e, com o tempo, a própria família aprendeu a lidar com essa rotina. Muitas vezes, a celebração acontece em outro dia, quando é possível estar juntos.
Mãe da pequena Isabella, de 8 anos, Christianne conta que, como toda criança, a filha sente a distância. “Ela não gosta da ideia de passar longe, mas sempre explico a importância do trabalho dos Bombeiros e que no outro dia a mamãe estará em casa para comemorar”, diz.
Durante o Natal, as ocorrências seguem acontecendo, acidentes, incêndios e situações de risco não escolhem data. Entre tantos atendimentos, um momento em especial ficou marcado. Na volta de uma ocorrência, à meia-noite do dia 24, a equipe estava dentro do caminhão quando o Natal chegou. “Comemoramos ali mesmo, e, pelas ruas, as pessoas nas frente de suas casas nos desejaram Feliz Natal. Aquilo foi muito marcante pelo carinho recebido”, relembra. Não é raro, segundo ela, que moradores liguem para o quartel apenas para desejar boas festas à guarnição.
O clima no quartel também muda. Apesar do alerta redobrado e da imprevisibilidade do serviço, o espírito de união se fortalece. “Somos amigos, uma segunda família. Tentamos fazer uma ceia ou um almoço juntos. Esses momentos reforçam nossos laços de camaradagem”, explica.
Com os anos, viver o Natal em serviço transforma o olhar sobre a data. Christianne reconhece que há um misto de sentimentos: a ausência de casa e, ao mesmo tempo, a profunda satisfação de cumprir uma missão maior. “Salvar e proteger passa a ter um significado ainda mais forte nessas datas”, resume.
O que muitas pessoas talvez não imaginem é que, mesmo longe da família, os bombeiros seguem carregando o espírito do Natal, não apenas na confraternização interna, mas principalmente no compromisso silencioso de estar disponível quando alguém mais precisa.

O esposo Felipe Torres, a mãe Denise Ortiz, o pai Roberto Albuquerque e a filha Isabella Albuquerque.

