Há mais de duas décadas, o Natal ganhou um significado ainda mais especial para Flávio da Silva Arnez, mais conhecido como Bekão. Foi em 2003 que ele vestiu a roupa de Papai Noel pela primeira vez, quase por acaso, atendendo a um pedido urgente do Projeto Tchê, quando o personagem oficial adoeceu e não poderia participar das ações daquele ano. “Se é para fazer o bem para as crianças, é para fazer”, respondeu Bekão. Desde então, ele nunca mais deixou o papel.
O que começou como um gesto pontual se transformou em uma missão de vida. Bekão passou a ir além dos eventos e apresentações, motivado pela realidade que encontrou ao longo do caminho. “A miséria bate na porta das pessoas e não escolhe. Falta oportunidade, falta comida, falta roupa, falta calçado”, relata. Foi esse contato direto com a necessidade que o impulsionou a transformar o personagem em instrumento de solidariedade.
Ao longo desses anos, Bekão percorreu inúmeros locais da cidade e da região: projetos sociais, escolas infantis, colégios, CTGs, praças, asilos como Mário Motta e Sebastião Pérez, além de instituições como a Paz, Assandef, Projeto Tchê, Creche Pai 7 e Meninos e Meninas de Rua. “Já fui em tantos lugares que nem sei dizer quantos”, conta.
Entre tantas histórias, uma marcou sua trajetória de forma profunda. Uma carta escrita por uma menina de nove anos pedia apenas comida. Ela morava com a avó, que não tinha condições de sustentar a família. Na véspera de Natal, Bekão levou alimentos para casa. Ao chegar, por volta das 11h da manhã do dia 24, encontrou a família almoçando pão com refresco, por não ter mais nada. “Aquilo me partiu o coração. Essa história ficou para sempre comigo”, relembra, emocionado.
Vestido de Papai Noel, Bekão diz que o que mais o toca é a pureza com que é recebido. Crianças que aguardam ansiosas, que entregam cartinhas, que abraçam, beijam, sobem no colo ou, tímidas, se escondem. “Alguns nem acreditam que o Papai Noel está ali. É gratificante demais”, afirma.
Entre os adultos, a reação não é diferente e muitas vezes é ainda mais intensa. “Eles se emocionam, querem tirar fotos, guardar aquele momento para mostrar para um neto, um filho, alguém da família. Quando veem o Papai Noel, algo muda dentro deles”, observa.
Para Bekão, o Natal vai muito além dos presentes. Representa amor, carinho, fé e atenção ao próximo. “É perguntar se a pessoa está bem, se precisa de alguma coisa. É fazer o bem sem olhar a quem”, define. Ele também reflete sobre as desigualdades que presencia: enquanto alguns vivem a fartura, outros não têm o que comer. “Às vezes eu me pergunto se isso é justo”, confessa.
Se pudesse deixar uma mensagem neste Natal, Bekão resume em poucas palavras aquilo que pratica há mais de 20 anos: mais amor. “Estamos perdendo o amor pelas pessoas, pensando só no material. Precisamos olhar mais para o nosso semelhante, ajudar quando for possível. Deus nos amou do jeito que somos, e a gente precisa aprender a amar mais também.”
E finaliza com o desejo que carrega em cada visita, cada abraço e cada cartinha recebida: “Tenha mais amor, mais carinho, mais afeto. Que Deus abençoe a todos neste Natal”.

