O crime que chocou a Fronteira Oeste, onde um adolescente de 16 anos confessou ter matado o pai, Mauro Kiper Miotti, de 56 anos, e ocultado o corpo em uma área rural, ganhou um novo e doloroso capítulo com o depoimento de Schaiane Beutler, 32 anos, mãe do menor.
Em entrevista ao vivo ao Jornal A Plateia, na Delegacia de Repressão às Organizações Criminosas (DRACO), Schaiane expôs um histórico familiar de violência e abuso que, segundo ela, culminou na tragédia. Na entrevista, a mãe aponta o passado de abusos sexuais cometidos pela vítima, Mauro, contra ela. A história revelada por Schaiane remonta à sua infância em Livramento. Ela relata que Mauro, que era seu padrasto e foi condenado por estupro contra ela, é o pai biológico do adolescente.
O adolescente, que convivia com o pai desde os 12 anos, confessou ter cometido o homicídio e enterrado o corpo em uma área rural. A vítima, Mauro Kiper havia sido condenado recentemente em setembro a 33 anos de prisão por estupro, justamente em um processo movido por Schaiane, que relatou anos de abusos sofridos ainda na adolescência.
“Não era mais o meu filho”
Schaiane recorda que o filho foi morar com o pai aos 12 anos e que, a partir daí, começou a mudar de comportamento: “Dos 12 aos 16 ele se transformou em uma pessoa que eu já não conhecia mais. Quando morava comigo, era um menino querido, me ajudava sempre, mas depois que foi viver com o Mauro, mudou completamente.”
Segundo a mãe, o ambiente com o pai foi determinante para essa mudança: “Ele começou a ir em festas com o pai, a fumar, beber… O Mauro contava coisas terríveis para ele sobre mim, os abusos que cometeu. Isso acabou destruindo a cabeça do meu filho.”
Durante a entrevista, Schaiane contou que o filho sabia desde cedo que era fruto de um abuso, mas que a convivência com o pai agravou a situação.“Ele sempre soube da verdade, mas não entendo porque quis morar com o pai. Acho que era pelas promessas de bens e dinheiro. Só que depois o Mauro falava na frente dele sobre o que tinha feito comigo, dizia detalhes. Isso foi o pior: ouvir do próprio pai o que ele tinha feito com a mãe.”
O caso ganha contornos ainda mais dramáticos porque, poucos dias antes do crime, a Justiça havia condenado Mauro Kiper a 33 anos de prisão pelos abusos cometidos contra Schaiane. O processo ainda permitia recurso, mas a sentença já havia sido publicada. “Eu esperei quase dez anos por justiça. Ele tinha sido condenado, mas ainda podia recorrer. Eu preferia que tivesse cumprido a pena, que fosse preso, mas não que meu filho tivesse que carregar isso nas costas.”
Schaiane também revelou que não foi a única vítima: “Toda a família sabia quem ele era. Meus irmãos, vizinhos, até familiares dele. Eu sei que ele fez isso com outras meninas também, mas muitas não tiveram coragem de denunciar.”
Ela recordou que só conseguiu sair desse ciclo de abusos graças ao apoio de uma professora, que a encaminhou ao conselho tutelar e à polícia. Ao final da entrevista, mesmo em meio à dor, Schaiane deixou um recado às mulheres que enfrentam situações de violência doméstica e abusos: “Denunciem. Procurem ajuda. Cuidem das crianças, conversem com elas. Muitas vezes achamos que conhecemos a pessoa que está dentro da nossa casa, mas não conhecemos. Eu digo às mães: ensinem os filhos a contar tudo, a não guardar segredo.”
Hoje, Schaiane acompanha o filho no trâmite judicial. Apesar de ser menor de idade, o adolescente responderá por ato infracional análogo a homicídio e deverá cumprir medida socioeducativa. Com a voz embargada, ela resume o sentimento de uma mãe diante da tragédia: “É muito triste ver um filho nessa situação. Ele se revoltou porque não suportou mais. Na cabeça dele, era a única saída. Eu só peço a Deus força para seguir e para que meu filho encontre paz.”
Por Matias Moura – Jornal A Plateia