A visita dos ministros ligados às pastas da agropecuária à Expointer foi importante para manter o diálogo com o setor produtivo. O anúncio de R$ 12 bilhões para renegociar dívidas representa um passo, mas não resolve o problema estrutural do endividamento rural e da falta de recursos para o plantio.
Concluímos, mais uma vez, que o modelo de securitização não funciona. Ele foi concebido há 25 anos, quando o endividamento estava concentrado no Banco do Brasil, e cumpriu um papel decisivo no crescimento do agronegócio brasileiro. Participei diretamente desse processo, como assessor do ministro Marcus Vinícius Pratini de Moraes, na elaboração da medida que agora chega ao fim do seu prazo. Foi um instrumento histórico, mas que não se aplica mais à realidade atual.
Hoje, a dívida do produtor rural não está mais centralizada em um único banco. Ela está pulverizada em instituições privadas, cooperativas, cerealistas e revendas. Por isso, insistimos que o modelo adequado precisa unificar a dívida e permitir o seu alongamento. A saída passa pela criação de um fundo de aval e pela utilização de recursos equalizados do BNDES. Assim, o produtor terá acesso a recursos para reduzir e consolidar sua dívida, alongar prazos e, com juros menores, recuperar a capacidade de crédito e recompor sua renda.
Essa é a proposta que defendemos desde 2018, quando presidi a Comissão Externa de Endividamento Agropecuário. Infelizmente, ainda não foi acolhida. Todas as tentativas apresentadas até agora são limitadas e não enfrentam a raiz do problema.
Os recursos anunciados pelo governo, mais uma vez, são importantes, mas insuficientes. Não mexem na estrutura da dívida. O fundamental é que o diálogo continue aberto e que se compreenda a gravidade da situação. O agro brasileiro não é homogêneo: enquanto algumas regiões avançam, o Rio Grande do Sul vive um cenário muito mais severo, com juros elevados e crises climáticas recorrentes que vêm devastando a produção.
