SEM VOTANDE PRÓPRI
Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Depois de mais de seis décadas de vida, eu ainda consigo me surpreender. E isso acontece quase todos os dias, nos mais diversos ambientes que frequento.
Na minha adolescência e vida adulta jovem, a tecnologia era artigo raro, assustador. Falava-se no “bug do milênio”, quando 2000 surgisse no horizonte pelo excesso de máquinas e robôs. Era voz corrente que a esta altura da humanidade – 2025 – teríamos o céu congestionado de carros voadores. Isto não aconteceu, a China projeta que dentro de três anos haverá 100 mil veículos voadores transitando por lá.
Quando virei adulto, o contato humano dominava todos os segmentos de atividade. Hoje é difícil encontrar alguma ação do nosso cotidiano que não tenha a tecnologia como fator determinante. As relações humanas estão cada vez mais escassas. E complicadas.
Entre tantos fenômenos pitorescos é o sucesso dos “influencers”. É, de longe, uma das coisas mais bizarras da modernidade. Tento imaginar o cotidiano de uma pessoa que ganha a vida recomendando todo tipo de hábito, produto ou comportamento para uma legião de fãs.
Além disso, soa surrealista a fortuna acumulada por boa parte destes charlatões, a partir da dependência que tomou conta de boa parte da humanidade. A personalidade sucumbiu aos modismos, à ditadura da opinião pública. O sucesso é garantido. Afinal não faltam patrocinadores para bancar os palpiteiros das redes sociais.
O “moderno”, atualmente, exige integrar uma espécie de manada, exército da repetição, onde músicas, comidas, termos/expressões, roupas, acessórios e hábitos são ditados por um influenciador, dono da verdade absoluta. Conheço muita gente que não sai de casa sem antes consultar seus arautos preferidos. Em suas mensagens, eles dirão o que vestir, se é aconselhável sair de casa ou trabalho em “home office”, qual o alimento mais aconselhável, o perfume do dia.
Um significativo contingente de seres humanos sobrevive graças ao auxílio de uma muleta psicológica, incapaz de ter vontade própria ou de assumir suas vontades, gostos e preferências. Um velho ditado reza: “O que está na moda não incomoda”, mas este modismo tornou as pessoas subalternos de espertalhões que faturam bilhões com a ingenuidade de tantos.
