seg, 30 de junho de 2025

Variedades Digital | 28 e 29.06.25

Gente é tudo de bom

Gilberto Jasper Jornalista/[email protected]
Gilberto Jasper - Foto: Divulgação

 

Uma das coisas mais apaixonantes do jornalismo é a possibilidade de conhecer pessoas interessantes e inteligentes, os chamados “fora curva”. Por isso, aos 65 anos e mais de 40 de atividade, continuo com a mesma.

A profissão permitiu conviver com gente que parecia esnobe e arrogante. De perto, porém, são introvertidas ou desconfiadas. Notei isso ao longo da minha vida na redação de jornais e emissoras de rádio.
Sexta-feira ao deitar, puxei o radinho de pilha para debaixo do travesseiro. Um hábito “de velho”, como dizem meus filhos. Antes de apagar a luz fui surpreendido com a notícia da morte de Ruy Carlos Ostermann.
Junto com o também falecido jornalista Carlos Urbim, Ostermann foi uma das pessoas mais generosas com quem trabalhei. Mesmo brilhante e com uma inteligência muito acima da média, era visto na redação da Zero Hora analisando texto de novatos, dando dicas de redação e fazendo ecoar sua inconfundível risada.
Quando meu pai morreu, em 31 de janeiro de 1988, de infarto, aos 52 anos, voltei a trabalhar uma semana depois. Enquanto degustava um cafez-nho na redação da Zero Hora, fui surpreendido por afetuoso abraço. Mal deu tempo de identificar o autor:
– Giba! É um momento de muita dor e indignação. Perder o pai, assim tão cedo, não tem explicação lógica. Mas lembra, sempre, que não importa a idade, todos somos órfãos! – disse o mestre.
Outro momento de convivência durante um curso de comentaristas idealizado por ele. Durante alguns meses, à noite, ele nos presentou com toda a sapiência, generosidade e experiência sobre como analisar o futebol.
Ostermann ensinou a elaborar planilhas, hoje um documento de fácil criação com a internet e inteligência artificial. Ele nos levou ao estádio, mos-trou o que observar numa disputa. Mais que o conteúdo do curso, a grande atração eram as histórias e episódios pitorescos, com tempero da presença de espírito única do “professor”.
Ruy Carlos Ostermann, além de professor, deputado, secretário de Estado e o maior comentarista de futebol do país. Abriu mão de ser integrante efetivo da equipe de esportes da Rede Globo. Gostava “da aldeia”, de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Como todo gênio, era generoso, Só isto bastaria.