Entre as buzinas apressadas e os passos indiferentes das pessoas que cruzam a Rua Duque de Caxias, em meio à pressa de quem mal olha para o lado, está João Alves, 72 anos, com um olhar tranquilo e um crachá no peito. Há quase 20 anos, ele cuida dos carros que passam por ali e da sua dignidade.
“Comecei a cuidar de carro por necessidade”, diz, sem rodeios. João entrou nessa vida quando a esposa ficou doente e o neto, ainda pequeno, precisava de fraldas. “Hoje meu neto está no quartel. Mas naquela época, eu precisava garantir o básico pra ele… e pra minha senhora”, hoje, falecida.
Sem alternativas, ocupou a rua com o que pôde oferecer: zelo, educação e respeito. “O que eu ganho aqui, 90% vai pro mercado. É o que me ajuda a viver.”
Todos os dias ele sai do bairro Simón Bolívar, a pé, levando sua marmita simples. Almoça em um banco da rua, sob o sol, ou sob a sombra de alguma árvore. E volta a trabalhar. Das 8h às 17h30, sem descanso. “Aqui é todo dia. Porque todo dia que a gente levanta com saúde, é dia de trabalhar.” Não reclama do caminho. Lamenta, sim, a falta de respeito de alguns. “Tem gente que nem responde o bom dia. Olha por cima, como se a gente não fosse nada”. Mas também se emociona ao falar dos que o ajudam com doações de roupas e cestas básicas. “Têm pessoas muito boas.”
Com crachá no peito que, segundo ele, poucos têm, João fala com orgulho da profissão e dos princípios que carrega: educação, respeito e responsabilidade. “Tem que saber trabalhar. Não é só pegar o dinheiro. Tem que saber respeitar.”
Apesar dos anos, João ainda sonha alto. “Meu sonho mesmo é ter minha casa. Minha, minha. Com banheiro, tudo certinho. Quero deixar uma casa pros meus filhos, pras minhas filhas, pros meus netos.”
No Dia do Trabalhador, sua fala carrega um recado simples e poderoso: “Todo dia é dia de trabalho. O dia que você levantou e o Homem te deu saúde, tem que vir trabalhar.”
