Buenas!
Apostar sempre foi uma tentação para o ser humano. Vivemos apostando. Apostamos que vamos ganhar na mega sena, que meu time vai ganhar o grenal, apostar que vou ganhar no jogo do tigrinho (SIC), etc.
Agora, com as chamadas Bets, apostar virou não só uma fonte de diversão, tornou-se um negócio imensamente rentável, movimentando bilhões de dólares mundo afora. Quase não há time grande no mundo que não estampe uma casa de apostas em sua camiseta. E elas são e serão sempre vencedoras. Já você…
Eu disse que o filme “Ainda estou aqui” ia ganhar o Oscar. Mas como não faço apostas além do par ou ímpar, não ganhei nada além do sorriso de satisfação ao compartilhar com uma imensa massa de brasileiros – e estrangeiros – a admiração por um filme ser, ao mesmo tempo, obra de arte e uma fonte de memória.
Antes do Oscar já era sucesso internacional. Ganhou o Globo de Ouro, para Fernanda, ganhou o Goya, na Espanha, e foi aplaudido por oito minutos pela plateia extasiada e em pé no Festival de Veneza, um dos mais importantes do mundo! Foram mais de dez prêmios internacionais!
O Brasil não precisa de um prêmio inventado e direcionado para a indústria cinematográfica norte-americana. Nem a Fernanda Torres precisava ganhar este prêmio para a gente saber que ela é uma das maiores atrizes da história. Nós já sabíamos. Não foi ela que perdeu o prêmio, foi o próprio prêmio que perdeu a Fernanda.
O Oscar comprovou suas falhas ao não premiar a outra favorita da noite, Demi Moore. Ela é visceral, criativa, cômica, dramática, uma atuação diferenciada. A Academia preteriu a qualidade, a experiência e o talento em prol de uma guriazinha em início de carreira fazendo um papel banal em um filme estilo sessão da tarde. Ou seja, The Academy foi, de novo, a academia.
Basta lembrar que quando a Gwyneth Paltrow ganhou o Oscar, em 1999, ela “superou” Não só a Fernanda Montenegro, também Meryl Streep e a Cate Blanchett que, em “Elizabeth”, entrega uma atuação deslumbrante.
Ou seja, não havia porque a gente criar expectativas, não é? Mas a gente criou, a gente é brasileiro e aposta até no jogo do tigrinho, ninguém nos supera em expectativas e apostas.
Quer dizer, tem quem nos supere: o todo poderoso Donald é o maior apostador do mundo nos dias atuais. Ele sempre foi um apostador, um investidor em negócios imobiliários complicados, desde a origem paterna, e na mídia. Ganhou muito dinheiro. Sonegou bastante, é verdade, mas quem fica bilionário pagando impostos honestamente?
Ele apostou bastante durante seu primeiro governo, principalmente quando acusou as eleições de fraudulentas e incentivou a invasão do congresso, a primeira vez que o congresso norte-americano foi invadido. Apostou pesado e se deu mal. Contudo, apostou de novo na falta de memória e na capacidade de o eleitor acreditar em bravatas de uma falastrão e se deu bem de novo!
É um apostador nato, mas com o dinheiro, valores e almas alheias, melhor ainda. E não são almas só de seus eleitores, mas de todo o mundo! A economia é globalizada e integrada. Uma decisão açodada no Turquistão pode afetar economias na Malásia. Imagine uma guerra comercial para agradar eleitores do Iowa!
O todo poderoso pequeno Donald suspende o apoio ao país invadido porque é governado por um ditador – no caso, eleito pelo povo – e, se não bastasse, marca reuniões com o ditador russo, há duas décadas no poder, para quem manda sorrisos e afagos, além de ameaças leves.
Ameaças que, no vocabulário dele, chamam-se apostas. Contra o México, Canadá, Panamá fala grosso, vou “taxar, eu que mando”. Ou diz: “eu tenho as cartas”, como falou para Zelensky em pleno salão oval, quando o tratou como se fosse um de seus empregados, não o presidente de um país invadido por um ditador.
“Eu tenho as cartas” é o vocabulário de quem? De um apostador, Bingo! Ele está apostando alto, não tem nada a perder, o máximo que pode acontecer é deixar o cargo e ir para uma de suas tantas mansões.
Ele pode fazer o que der vontade, tem a caneta mais poderosa na mão, mas esquece que uma guerra comercial afetaria o mundo todo, inclusive os seus eleitores do Iowa. Mesmo que pegue leve com a Rússia ou com a China – afinal, eles estão bem preparados economicamente, não só no quesito militar –, o transtorno será gigantesco.
E nós não precisávamos de mais nada. Já temos o aquecimento global ameaçando o planeta, não precisamos do Trump empoderando o Putin. Agora, a Europa vai investir bilhões em armamentos, preterindo investimentos sociais ou ecológicos.
A coisa está tão complicada que até o calmo presidente francês já colocou suas cartas na mesa, dizendo que pode usar seu armamento nuclear! E o russo ameaçou com sua arma não tão secreta, o poderoso inverno russo que lascou com Napoleão no século XIX…
Em resumo, nesta guerra de quem tem o arsenal militar ou maior capacidade de impor tarifas econômicas, ninguém que ganhar, vai ganhar, e todo mundo que perder, vai perder!, parafraseando nossa ex-presidenta.
Precisamos de mais inteligência emocional, de mais obras de arte, como o filme “Ainda estou aqui”. Precisamos de mais sorrisos iluminados e vitoriosos, como os da Fernanda, do Selton e do Walter. E menos apostas no jogo de poder e no jogo do tigrinho, principalmente!