A direção da Cardio Nefroclínica de Sant’Ana do Livramento divulgou, nesta terça-feira (12), uma carta aberta sobre a requisição feita pela Prefeitura do município no serviço de hemodiálise. A medida, determinada pela prefeita Ana Tarouco (PL), em 2022, foi classificada pela direção como “agressiva” e enumera 10 colocações que fazem uma retrospectiva do serviço instalado junto ao hospital Santa Casa em 1978.
“O que ocorreu no dia três de dezembro de 2022 foi uma ação truculenta e abusiva. Um desrespeito a história do nosso serviço, aos colaboradores e principalmente aos pacientes”, diz a carta.
“Encerramos nossa missão como prestadores de serviço de diálise com a consciência tranquila, sabendo que o tempo apontará onde erramos e onde acertamos”, complementa o documento.
Confira a carta na íntegra:
Passados 12 meses da agressiva intervenção no serviço de hemodiálise da Cardio Nefroclínica (CNC), gostaríamos de lembrar e esclarecer a comunidade santanense que:
- Desde 1978, quando iniciamos nosso serviço, mantivemos um atendimento de excelência aos pacientes em nossa região. Nos tornamos referência no Brasil por oferecer aos portadores de doença renal do SUS uma assistência com a mesma qualidade da oferecida aos convênios privados.
- Apesar do valor repassado pelo SUS nas últimas décadas ser insuficiente para cobrir o alto custo do tratamento, administramos bem os desafios e conseguimos atingir nossa missão de promover segurança em saúde. Nosso foco sempre foi o melhor para o paciente.
- A partir de 2019, essa realidade mudou e passamos dois anos trabalhando de forma deficitária. Estávamos em crise e precisávamos agir. Algo devia ser feito para não comprometer o atendimento digno e de qualidade que hávíamos conquistado. Desde esta época já notificávamos à gestão municipal sobre as dificuldades enfrentadas.
- A carta entregue ao poder público em julho de 2021, não comunicou o desinteresse de atender os pacientes do SUS, narrativa amplamente propalada na comunidade, e sim apontou o desinteresse na “continuidade da referida relação contratual” que possuíamos. A falta de reajuste da tabela SUS preconizada no contrato, estava inviabilizando nossa instituição. Era necessário uma repactuação.
- Previamente a denúncia do contrato, nos reunimos com a administração municipal e seu comitê de crise, secretaria municipal da saúde e Santa Casa. Debatemos alternativas para remediar a situação. Nós estávamos pedindo ajuda, a qual nos foi negada.
- A partir daí, o executivo não mediu esforços para encaminhar nossos pacientes SUS para tratamento fora de Livramento, conforme demostra a ação judicial nº 500492-45.2021.8.21-0025, movida pela Prefeitura contra o Estado do RS. Felizmente, essa estratégia não obteve sucesso, mas serviu para demonstrar o descaso do poder público com o cuidado aos pacientes.
- Todos aqueles que se encontravam em tratamento em nosso serviço na ocasião, tiveram garantida a continuidade de sua assistência, mesmo sem a atualização do contrato denunciado com o município. Isso só foi possível graças a redução de nossa equipe em 40% e a consequente redução de custos. Este foi o motivo da redução de vagas para novos pacientes.
- A administração municipal só abandonou o descaso com a saúde dos doentes renais quando foi pressionada pelos pacientes que não encontravam vagas na Cardio Nefroclínica. Vagas essas reduzidas pela diminuição de nossa equipe de enfermagem.
- Entretanto, nunca houve desassistência ao paciente com insuficiência renal. Todos os pacientes que aguardavam vaga na CNC estavam em tratamento conservador ambulatorial, dialisando na Santa Casa ou fora do município.
- A transição pacífica do serviço de diálise da CNC para a Santa Casa foi buscada por nós desde julho de 2021. Tal mudança foi quebrada ao retirarem da equipe da UTI, de maneira súbita, ilegal e antiética, o nefrologista responsável técnico e fundador da UTI e do serviço de diálise de agudos do hospital, Dr. Freitas. Isso tudo quando ainda iniciávamos as negociações. Essa atitude trouxe insegurança à equipe e inviabilizou a transferência harmônica a que nos propúnhamos naquele momento.
Essa é a verdade dos fatos.
O que ocorreu no dia três de dezembro de 2022 foi uma ação truculenta e abusiva. Um desrespeito a história do nosso serviço, aos colaboradores e principalmente aos pacientes.
Cabe agora a Sociedade Santanense e seus representantes zelar para que não haja o retrocesso em todas as conquistas obtidas, como também garantir a manutenção do ambiente de trabalho que construímos.
Encerramos nossa missão como prestadores de serviço de diálise com a consciência tranquila, sabendo que o tempo apontará onde erramos e onde acertamos. Agradecemos a todos pelo apoio e damos por concluída nossa manifestação a respeito do ocorrido.
Atenciosamente,
Direção da Cardio Nefroclínica.
Sant’Ana do Livramento, 12 de dezembro de 2023