ter, 29 de abril de 2025

Variedades Digital | 26 e 27.04.25

Quintana e Drummond na Feira Do Livro

Buenas!

Estava eu a perambular pela 69ª Feira do Livro de Porto Alegre, a mais longeva e aprazível feira de livros do país, famosa por ser numa praça que, em sua origem, era destinada à alfândega e ao comércio, e que há quase 70 anos acolhe em seus corredores cultura, conhecimento e amizades, quando, como ao acaso, ouço vozes.

Confesso que ouço vozes nesta praça desde a 39ª Feira do Livro, a minha primeira. Contudo, desta vez, não eram palavras proferidas por algumas das milhares de pessoas que ali transitam ao longo das três semanas do evento. Eram vozes longínquas, de outros tempos, proferidas por pessoas de muitos saberes…

À procura da origem, lembrei-me de grandes escritores que por ali vi circular com estes olhos que um dia a terra um dia irá devorar, como Caio Fernando Abreu, Lygia Fagundes Telles, João Ubaldo Ribeiro, Moacyr Scliar, Ariano Suassuna, Luis Fernando Verissimo, Alessandro Castro… Ops, desculpem o deslize, não resisti…

A lista é imensa, poderia preencher toda a crônica com nomes de escritores relevantes que pedi autógrafos na Feira, além daqueles que partiram antes da 39ª edição e não conheci pessoalmente, mas que estiveram ali e encararam a fila de fãs ávidos por uma foto e um autógrafo…

E as vozes que ouvi eram proferidas por dois deles.

Eles debatiam com discreta empolgação e resolvi não atrapalhar, fiquei só acompanhando, vendo que os passantes ignoravam aquele momento. Juro que é verdade este bilhete, tem até foto para comprovar. A conversa estava tão boa que vou aqui transcrever:

– Quintana, vamos trocar de lugar? Cansei de ficar em pé, lendo para ti.

– Dru, Dru, não exagera, és um jovem, não há do que cansar, continue a leitura…

– O zunzum de gente, atrapalha um pouco, a feira esta um agito só!

– Verdade, nem as pombas deram as caras hoje, mas a quantidade de pessoas que pediram para tirar uma selfie com a gente só aumenta, né Drummond?

–Sim, são tantos, cansa! E ficam querendo ler o que estou lendo…

– Carlos, tu que falou: “o que pode uma criatura, entre criaturas, senão amar?”, amar até a curiosidade de leitores, mesmo quando enxeridos…

– Também disse: “Para que tantas perna, meu Deus, pergunta meu coração, Porém meus olhos não perguntam nada”. Apesar de ser muita gente, é bom ver a praça cheia de novo…

– Sim, caro amigo, “nunca faça escândalos, ao menos, não os faça pequeno… O ridículo está é nas pequenas cousas”, eu falei outrora, lembras? Ainda bem que o povo que vem aqui não é de escândalos, só quando acha um bom livro em promoção!

– Ainda bem que não “há uma pedra no caminho de minhas retinas tão cansadas”, há uma feira do livro, com muitas barracas e gente ávida por voltar a ler!

– Vi ali num balaio um livro teu que adoro, Drummond, “A Rosa do Povo”, em promoção. Uma menina já estava com ele empacotado para levar. Gosto daquele trecho: “Este é tempo de partido, tempo de homens partidos.” Escreveste isso há mais de 80 anos e quase nada mudou…

– Nem me fale, as pessoas agindo como se não aprendessem nada com o que já foi dito e feito, Mário.

– E não lendo acabam por repetir os erros que os homens do passado cometeram, ainda que seja há 80 anos!

– Lembrei de um trecho de um poema teu que fala da leitura: “O leitor que mais admiro é aquele que não chegou na presente linha, interrompeu a leitura e continua a viagem por conta própria.” Afinal, inspirar é o papel do poeta, não é, Mário?

– Penso que palavras no papel são eternas, mas quando colocadas no bronze,  são infinitas, Drummond! O leitor pode fazer o que quiser com elas. Escreveste que: “Meu corpo não é meu corpo, é ilusão de outro ser”, soa à metáfora de nossas vidas…

– Como Fernando Pessoa, vivemos diversas vidas numa só, afinal, “tenho em mim, todos os sonhos do mundo!” Acho que por isso acabamos eternizados em papel.

– Quem diria que estaríamos aqui hoje, nesta praça, recebendo os visitantes bradando livros à mão cheia, como dissera Castro Alves…

– Sim, nosso caso remete ao que falou um dia, Mário, que um dia seríamos “poeira ou folha levada no vento da madrugada, sendo um pouco do nada, invisível, delicioso”…

– E hoje a cidade não é mais de nosso andar, já que não andamos, mas acho que nos encontramos, quando tu disseste, Carlos, que: “o ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo acha a razão de ser”. Encontramos o nosso ser em bronze aqui na praça…

Drummond e Quintana continuaram o seu embate poético e eu ali, embevecido, tentando não atrapalhar, mas já atrasado para uma sessão de autógrafos.

Voltarei, como voltará a feira ano após ano, assim como não dá para desperdiçar estes momentos e seus escritores. Esta feira não acabou e já estou ansioso pela 70ª!

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