Buenas!
Há datas que precisam ser comemoradas. Diria mais, exaltadas como únicas, afinal, resgatam eventos ou personalidades incomparáveis de uma sociedade. Os americanos e europeus costumam celebrar eventos e ídolos, festejando a cada ano na data marcada.
Um exemplo que vem ao encontro do projeto que ora apresento é praticado pelos irlandeses. Anualmente, a cada 16 de junho, eles e o mundo festejam o Bloomsday. A data exalta Leopold Bloom que é, tão-somente, um personagem de um livro. Claro, não é qualquer livro, é o impraticável Ulisses, publicado pelo exilado James Joyce, em 1922. Apesar de ser um dos livros mais famosos da história, é um dos menos lidos, de tão complexo. Talvez por isso mesmo, o autor não tenha uma data para si, será,?
Eu, de maneira inédita e revolucionária (além de humilde, é claro), venho propor uma data inequívoca à cultura gaúcha, melhor direi, à cultura ocidental: O VERISSIMO’S DAY! A expressão em inglês foi usada para dar caráter internacional, visando atrair público diverso, mas poderá ser adotada a versão em português também: O DIA VERISSIMO!
Desculpem a empolgação, ela é tanta que esqueci de dizer a coisa mais importante: a data a ser comemorada é dia 26 de setembro, data em que ele, o mundialmente famoso e agora datado, Luis Fernando Verissimo, veio ao mundo na não menos famosa Porto Alegre. Na última semana de setembro ele comemorou em sua casa na capital gaúcha a passagem de seus 87 bem vividos e viajados anos.
Ele ainda não sabe, mas, nesta data, a partir de 2024, iremos celebrar não a sua discretíssima pessoa, famosa por proferir monossílabos antológicos como: sei, isso, aham!, mas sim, sua vasta obra e personagens antológicos. E teremos muito a comemorar, são mais de 80 livros publicados, fora as criações específicas para revistas e televisão.
As tratativas com o governo municipal, estadual e com a ONU já iniciaram. Os pontos turísticos e artísticos da cidade serão palco para receber as personificações de suas criações. Segue abaixo algumas das atividades já programadas.
Na Casa de Cultura do amigo de seu pai, o saudoso poeta Mário Quintana, teremos diversas apresentações teatrais retratando crônicas e contos que marcaram gerações.
No teatro lotado, o Analista de Bagé, terapeuta “mais ortodoxo que rótulo de Maizena” fará sessões de análise coletiva. A assistente de palco Lindaura, outrora secretária do consultório, irá selecionar os incautos barbados com complexo de Édipo para subir ao palco e receber o tratamento adequado e patenteado por ele: os joelhaços terapêuticos.
Noutra ala do prédio, a Velhinha de Taubaté irá atender as ligações de políticos e empresários brasileiros, todos em busca de conselhos para melhor administrar suas pendências. Ela não terá dificuldades em lidar com os governantes atuais, afinal, foi a única pessoa a acreditar no governo do Collor e do FHC…
Também na casa de cultura teremos, ao lado do quarto do poeta Mário Quintana, um apartamento da família Brasil. Ali veremos, através de uma redoma de vidro, o cotidiano de uma típica família brasileira. Marido que ronca, contas pendentes, dívidas acumuladas, filhos que não estudam, etc.
O público assistirá os embates, digo, diálogos para enfrentar o cotidiano, como: “Para enfrentar a situação, vamos estabelecer uma economia de guerra nesta casa. Qualquer pedido de dinheiro será recebido a tiro!”, diz o pai de família, diante do olhar atento da família, tentando gerenciar as contas de casa nos anos 1980 e 1990. Qualquer semelhança com a atualidade, não é mera coincidência, diria ele.
Enquanto isso, na Usina do Gasômetro, o centro cultural às margens do rio Guaíba, teremos aulas de investigação ministradas por Mort, Ed mort. Estará escrito na placa de entrada do palco, que irá reproduzir o escri (as letras complementares, tório, foram roubadas da porta e, acreditem, nunca devolvidas) de Copacabana.
O detetive Morte terá a parceria de baratas sazonais e de Voltaire, o rato albino que divide com ele o escri. O rato foi batizado em virtude de ir embora toda vez que falta comida, mas volta, pelo saudosismo.
As cobras serão um caso à parte. Elas estarão circulando pela cidade, em dupla ou trio, debatendo a existência humana, proferindo frases lapidares, como: “– Em política, tudo é negociável. – Inclusive princípios? – Começando pelos princípios!” Ou ainda, enquanto contemplam as estrelas: “- Como somos insignificantes, não é? – Vocês quem?” Profere a perplexa segunda cobra.
A plateia se aproximará delas ansiosas por respostas – após desistir das palestras de coaches messiânicos – e encontraram as respostas que procuram nas frases lapidares das cobras: “- O que é a vida afinal? – A vida é isso aí. (silêncio…) – Entre outras coisas…” ou “- Qual o significado de tudo? – Você não tem idade para entender. Aliás, ninguém tem.”
Claro, não faltarão as muitas “Comédias da vida privada”. São tantas que ocuparão o Theatro São Pedro durante todo o mês de setembro. Serão pequenas apresentações, muito diferentes dos atuais Stand-ups (febris mundo afora), mas com verdades incômodas sem serem agressivas como: “muitas vezes, a coisa mais importante para manter um casamento estável não é a fidelidade, a honestidade ou o amor – é o raciocínio rápido!”
Haverá revezamento com inopinadas “poesia numa hora destas?” Voluntários irão se revezar em declamações de preciosidades como: “Deus nos livre da burrice dos outros que a nossa até que é simpática” ou “Num país onde tudo é faz de conta, o passado é o que a gente escolher” e “A poesia o lixo limpo da linguagem”. Será marcante!
Em suma, não há como antecipar toda a programação aqui, ela ainda está em elaboração, com muitas surpresas. Fiquem com este pequeno resumo e preparem a agenda. O VERISSIMO’S DAY está chegando e ele, tenho certeza, estará lá, apreciando o movimento, de longe.
Caso peçam um autógrafo, garanto que ouvirão, sob suspiros de fãs do mundo todo, o clássico: “aham!”