O que eu faria se não tivesse a profissão atual?
Todos já fizeram esta pergunta alguma vez na vida. Ou várias vezes. Esta reação nem sempre é motivada por alguma desilusão profissional, frustração, desânimo ou desavença com um colega. Talvez seja um exercício de futurologia, bastante comum quando somos crianças ou adolescentes.
Com frequência temos chance de mudar o rumo da nossa vida. Muitas vezes, porém, não temos clareza disso. Esta consciência é despertada algum tempo depois. Quando isso acontece, somos tomados por arrependimento. A sensação de ter perdido uma grande oportunidade dói.
Mas também é possível vislumbrar com nitidez que o “cavalo encilhado” está passando diante de nós. Temerosos de fazer mudanças radicais, fingimos cegueira artificial. Sair da zona de conforto, trocar o certo pelo duvidoso e arriscar paralisa.
Desde os meus primeiros estudos o pendor pela escrita se manifestou nos famosos – para a nossa geração – “testes vocacionais”. Os testes consistiam em um calhamaço de infindáveis perguntas objetivas e subjetivas.
No outrora Segundo Grau – hoje algo como Ensino Médio – os questionamentos sobre futuro, profissão e planos se intensificavam. Era, ao mesmo tempo, uma época de ansiedade, insegurança e muito medo para decidir nossos rumos de vida. Escolher um ofício naqueles tempos de poucas opções profissionais e sem as facilidades de pesquisa que temos hoje gerava apreensão, além de um sentimento de solidão.
Aos 63 anos e gozando de boa saúde, me pego fitando o vazio. Penso não no que poderia ter feito lá atrás, mas o que ainda posso mudar na minha rotina capaz de gerar desafios para estimular mudanças e sentir emoções.
Apesar da intenção, no entanto, como na adolescência, há hesitação. É preciso coragem para arriscar. Existem inúmeras alternativas, seja no âmbito profissional quanto no pessoal. Como lá atrás, é preciso desapego de algumas situações já consolidadas pelo tempo.
Também se impõe abrir mão do conforto proporcionado pela segurança, além de disponibilidade para mudar de verdade, e não apenas superficialmente.
Pensar, ousar, mudar, usufruir. Escolher alguma alternativa errada certamente deve doer menos que a dor da frustração de jamais ter tentado.
Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]