Buenas!
Saiu no noticiário da semana passada que a Holanda resolveu proibir o uso de celulares em sala de aula. Notícia que gerou alguns comentários, a maioria de apoio. Pesquisando, soube que a França, Itália e estados com São Paulo, aqui no Brasil, também adotam práticas similares. E você, caro leitor desta missiva eletrônica, que pode estar lendo isso em seu aparelho portátil, concorda com isso?
Não que eles sejam radicais ao extremo, para alunos com alguma deficiência ou doentes, há liberação. Mas só em casos estudados previamente. Já em uma cidadezinha da Irlanda, a proibição vai até o ensino médio! Eles estão certos?
Assunto polêmico, tenho certeza, mas necessário trazer ao debate e, quanto mais rápido, melhor.
Se este texto fosse escrito por um jovem com no máximo vinte anos, que teve o tal aparelhinho no seu bolso ao longo de toda a sua adolescência – claro, dependendo da estrutura familiar e das condições financeiras – penso que o tom seria condescendente com o tal objeto.
Como quem vos fala é um cinquentão que não cresceu com o aparelho, mas convive diariamente com um pelos últimos 15 anos, ao menos, o tom não será o mesmo, garanto.
E não adianta querer usar com os jovens o argumento de que “no meu tempo era assim, era assado”, eles não aceitam, como também tínhamos dificuldades de aceitar as orientações ou ordens paternas, tenho de confessar.
Focando nos exemplos contemporâneos, há pesquisas na Inglaterra, o país que mais pesquisa o comportamento humano, que jovens com baixo aproveitamento escolar, ao deixar o smartphone de lado nas aulas e nos estudos caseiros, ampliaram suas notas em 15%. Isso que a pesquisa tem mais de seis anos, se fosse atualizar daria bem mais!
Porém – claro que há os poréns –, o celular, quando usado para o bem, pode ser muito útil. Se o professor planejar, pode ser uma excelente ferramenta de pesquisa. Durante a pandemia, salvou o ano escolar de muita gente.
Como eu disse, sendo bem utilizado, com orientação, eles são tão valorosos quanto os livros. Mas sendo usados durante as aulas, nos horários de estudos para, geralmente, o estudante se perder em redes sociais vendo vídeos de dancinhas ou de gente fazendo bobagens para ganhar dinheiro, eles são nocivos demais!
Agora segue a opinião do cronista que vos fala, a parte mais valiosa do texto, não concordam?
O celular deve, como a bola de futebol nos anos 1980, ser utilizado, mas de modo controlado. Lembram do nosso tempo de escola pública? Não estudaram em escola pública? Muito menos nos anos 1980? Então deixe-me contar um pouco como foi a minha.
A escola em que estudei o ensino fundamental não tinha dinheiro nem para comprar uma bola de futebol decente. Em geral, liberava umas de borrachas no recreio ou na educação física que, quando acertava alguém com alguma força, ficava decalcada a marca da bola por uma semana na paleta do vivente.
As escolas particulares eram poucas e as públicas de então eram frequentadas por estudantes oriundos de famílias de classe média, também. Eles compravam bolas melhores, inclusive as cobiçadas bolas de couro. Quem foi dono de uma sabe o poder que exercia sobre os outros meninos, eram, literalmente, “os donos da bola”!
Começaram a levar para a aula, esperando o tão aguardado recreio para exercer seu poder, para alegria da turba de estudantes, que aguardavam com ansiedade a liberação dos portais da sala de aula para entregar-se às contendas do esporte bretão sem nenhuma galhardia, mas com energia muitas vezes superior aquela que entregavam aos livros.
Algumas vezes, entre as trocas de professores, iniciavam pelejas dentro da sala de aula, gerando brigas, discussões e professores mais estressados ainda do que o habitual.
Eis que foi proibido levar a bola particular para o colégio. Após alguma negociação, a direção permitiu, porém um dia ou dois por semana, e deixando a bola sob a administração do professor, que iria liberar o uso no horário combinado, caso se comportassem! Um santo remédio!
Com este exemplo do século passado, penso que podemos nos adaptar aos novos tempos. Não podemos rejeitar as novidades, como fizeram muitas pessoas que, por exemplo, eram contra a construção da Torre Eiffel, no final do século XIX, em Paris. Muitos intelectuais fizeram campanha para derrubar a dita, vejam vocês.
O novo não é fácil de lidar, mas devemos isso mesmo, lidar com o novo, não podemos rejeitar as novidades.
Mas, concluindo, penso ser assunto bastante complexo. Inclusive, eu poderia ter terminado esta crônica na metade do tempo, não tivesse vez ou outra que dar uma olhada neste maldito celular e suas mensagens, pouquíssimas delas úteis, diga-se de passagem…