qui, 10 de outubro de 2024

Variedades Digital | 05 e 06.10.24

Foi um terremoto que passou por sobre vidas…

Buenas!

 

Caso você não tenha assistido televisão nos últimos dias – poderia muito bem estar em férias nas ilhas Cayman ou na paradisíaca praia de Cidreira –, saiba que houve um terremoto de proporções devastadoras na região leste da Turquia e norte da Síria. Escrevo quase duas semanas após o ocorrido e, segundo as autoridades, quase 50 mil pessoas pereceram sob escombros. O número poderá aumentar, nos próximos dias, infelizmente.

Lamentável a perda de tantas vidas para uma tragédia natural e inesperada, que não é novidade no calendário mundial. Em 1755, Lisboa foi assolada por um gigantesco “terramoto”, como eles chamam por lá. Ocasionou, além de desmoronamento de prédios, maremotos e incêndios, que destruiu quase toda a cidade, ceifando entre 10 mil e 90 mil pessoas. Os números nunca foram consolidados. 

Em 1995, a cidade de Kyoto, no Japão, foi arrasada por um terremoto, com perda de quase dez mil vidas e destruição da estrutura de prédios e viadutos. Alguns anos depois, em 2011, um terremoto violento arrasou o Japão, seguido por um Tsunami devastador, que destruiu uma usina nuclear. Quase 20 mil pessoas perderam suas vidas, fora as sequelas da radiação. 

Falando em tsunami, não podemos esquecer do maior desastre natural do século XXI e um dos maiores da história, provocado por um terremoto subaquático em 2004. Atingiu diversos países do oceano Índico, com ondas que dizimaram quase 400 mil pessoas. O filme “O impossível” é tão impactante quanto obrigatório, caso não tenha assistido.

Debatendo sobre uma jovem ter sido resgatada viva após onze dias sob escombros de milhares de prédios que ruíram na Turquia, ouvi de uma colega de trabalho que ela foi salva porque Deus é bom. 

Do alto de minha disfarçada ignorância eu perguntei para a moçoila: – Deus é bom porque salvou uma vida? Então, partindo dessa premissa, posso afirmar que Deus é mau porque eliminou da face da Terra quase 50 mil outras vidas na mesma operação? 

Sem vontade de replicar meu questionamento, ela voltou a falar de como estava empolgante o último paredão do BBB e de como os sobreviventes se comportam na casa mais vigiada do país. 

E eu ali, tentando compreender como paredes outrora tão sólidas puderam ruir com tamanha facilidade sobre as cabeças de tantas pessoas. Perguntei-me, com sincera incerteza, como alguém consegue sobreviver por tanto tempo com paredes de tijolos e concretos sobre seus corpos tão frágeis, sem comida e água, contrariando expectativas científicas…

Sem as respostas adequadas, perguntei-me também, como lidar com tamanha fragilidade? Seria possível prever tais hecatombes naturais? O homem já foi até a Lua, mas impedir catástrofes como as citadas acima soa impossível. O que nos resta? Precisaria de muito espaço para comentar, mas alguns parágrafos já ajudam. 

Recomeçar. Ponto, já poderia encerrar o debate por aqui e poupar sua leitura, porém, cabe aqui alguns argumentos. Vou arrazoar um pouco mais.

O recomeço em Portugal foi renovador. Depois da destruição provocada pelo terremoto de 1755, o Marquês de Pombal, primeiro-ministro do país, fez uma ambiciosa remodelação da área central da capital. Hoje, a gente anda deslumbrado por entre a Baixa e pelo calçadão da rua Augusta, apreciando os prédios uniformes da região. Sua reforma inspirou a reestruturação de Paris no século seguinte. 

Não pode ser esquecido que o esforço que propriciou a retomada da terrinha foi patrocinada pelo ouro brasileiro e do tráfico de escravos. Mas foram muito bem feitas, as reformas, no caso.

Também os japoneses souberam se superar, como de costume. Eu lembro das imagens de rodovias e viadutos arrasados e, em menos de um ano, reconstruídos, após o terremoto de Kyoto e em 2011.

E assim ocorreu em praticamente todo grande desastre em países mais organizados e com algum lastro financeiro. O Haiti é o exemplo contrário. Em 2010, um grande terremoto matou 300 mil pessoas e deixou mais de 1,5 milhão de pessoas desabrigadas. Até hoje o pequeno país sofre as consequências, sem conseguir se reestruturar, muito por causa dos desgovernos que lá surgiram.

Como será o caso da Turquia, que não é dos mais ricos? E a Síria, que está em uma guerra civil interminável? Há locais que até agora não chegou ajuda ou socorro na Síria, as pessoas estão sem água, luz e comida, em pleno inverno rigoroso.

Nós, brasileiros de norte a sul, não estamos acostumados com isso. Vez ou outra temos amostras de tragédias naturais, com deslizamentos de barreiras ou inundações, que lamentamos profundamente, mas diminutas, se comparadas a um terremoto ou maremoto…

Logo, devemos comemorar nosso privilégio ou ter empatia e sofrer pelos nossos vizinhos de planeta azul? Planeta instável desde sempre, mas não por acaso. Ele é vivo e, por isso, se movimenta. Logo, precisamos saber lidar com suas idiossincrasias.

Deixo aqui duas sugestões: conhecer cada vez mais para poder cuidar dele. Fazendo o básico, já corremos riscos, imagine se não fizermos nossa parte, evitando poluir suas águas e terras, começando em casa, reciclando o lixo, e não jogando sofás nos riachos urbanos, né brasileiro? 

A outra sugestão é aproveitar a vida. Esta tão bela e frágil vida, que damos tão pouco valor cotidianamente, pois achamos que vai durar, no mínimo, 80 anos. Contudo, quem sabe deadline? (não gosto de usar expressões em inglês, mas esta é irrefutável!) Ninguém. 

Na mitologia grega, dizem que os ciclopes negociaram um olho em troca de prever o futuro. O único futuro que conseguiam ver era o dia e a forma de sua morte. Eles não gostaram da brincadeira.

Logo, não recomendo trocar nenhum dos nossos olhos por tal conhecimento. E como não sabemos se Deus é bom por salvar uma vida ou mau por eliminar milhares, fiquemos com o que está diante de nossos olhos: a vida, com todas suas fragilidades e surpresas, ainda que resgatada sob escombros…

Opiniões

“En 1931 Perico Chicote fundo en este local su histórico bar para mezclar bebidas, vidas y opiniones … para que opiniones, vidas y bebidas convivan”. Caminhando a esmo pela Gran Via, em Madri, passei na frente deste marcante pub. Numa parada rápida olhei, não vi ninguém falando baixo, ninguém triste, muito menos tomando leite. Era o contraste da rua e

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