Buenas!
No primeiro mês do ano que se ora inicia, gozei de um período sabático de férias. Não de todo, tão-somente dos escritos. A cabeça estava um tanto ocupada com alguns dilemas, não consegui escrever nada além de posts nas redes sociais, vício que domina onze de cada dez pessoas no planeta. O afastamento não foi voluntário, foi provocado pelo momento histórico que vivenciei neste janeiro: eu cinquentei!
Sim, caríssimos e admirados leitores, para espanto geral da nação, confesso, sem pesar algum e nenhuma culpa, que completei meu primeiro cinquentenário de vida. Não que eu quisesse maquiar os números, longe de mim, minha identidade me entregaria com facilidade.
É algo natural fazer aniversário, uma marca em nossa carreira por sobre este planeta azul, que serve como garantia de que estamos vivos! E, no meu caso, há cinquenta longos anos… No embate com meu botões, atividade relevante em qualquer momento, mais ainda em data tão emblemática, questionei-me: o que significa fazer cinquenta anos de idade?
Muita coisa, posso dizer. Ao mesmo tempo, lembrei-me de, quando adolescente, da ansiedade e da expectativa de completar 15 anos. Não sei vocês, mas, naqueles tempos de outrora, a insegurança aliada à inexperiência eram uma garantia de taquicardia sadia. Hoje, se sentir isso, corre para o médico!
Agora, maduro, pero no mucho!, como lidar com data tão diferenciada? Uma tática seria o distanciamento. Vendo o número cinquenta vindo em tua direção, finge que não é contigo. Quando ele chegar perto, não faz contato visual, finge que não conhece, atravessa a rua e dá um pinote. Depois, questionado, alega que teu óculos multifocal – que ajuda a entregar a idade – está desregulado. Ignora os chamados!
Outra técnica prega o contrário. Quando ele chegar perto, receba-o com um abraço cheio de calor humano, acolha-o como se fizesse parte de tua família. A primeira estratégia não dará certo, o cinquenta pode ir atrás de ti, nem tenta correr, vai ficar com dor no joelho. Já o segundo procedimento pode facilitar a aceitação do inevitável.
Pensando melhor, é o melhor e único método, pois vocês irão conviver por pelo menos um ano!
E as mudanças corporais? Lembram quando tinham 30 ou 40, e comiam de um tudo? Hoje, falar em rodízio de pizza é quase um insulto à memória saudosa de um glutão que era magrelo e hoje está brigando para perder três persistentes quilos…
Naquela época, me quebrava em disputas futebolísticas semanais, mantendo a silhueta de ponta esquerda avançado, esguio. Com o passar do tempo, tive que abandonar as peleias, devido às lesões. Enveredei para a natação e, mesmo praticando com intensidade e regularidade, os três quilos não me largam. E, pelo visto, já se apegaram ao recém chegado cinquenta que agora carrego na paleta, com algum esforço e cuidado para não sentir o ciático.
Além da questão física, penso que devemos aproveitar momentos como esse para fazer algum balanço da vida. Parar de tempos em tempos para refletir sobre o que foi feito ao longo da vida, colocar na balança, avaliar os contra, procurar os eventos a favor, isso deveria ser rotina humana.
Brás Cubas que, em suas Memórias Póstumas, concluiu sua obra com um capítulo de negativas: “Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa…” Apesar de ter feito o balanço somente após sua partida definitiva, também viu o lado positivo, já que, diferente de mim, ele diz: “não precisei comprar o pão com o suor do meu rosto”…
Não temos a vida ficcional do personagem machadiano, porém – e esse porém vale bastante, pois remete ao debate reflexivo – não precisamos esperar chegar o fim da vida para fazer um levantamento de feitos e fatos.
Não irei aqui encher o espaço que tenho com um relato de meus acertos ou erros. Não vou encher a paciência de meus dedicados leitores com minhas peripécias. Um dos motivos é que iria embelezar as conquistas e deixar meio que de lado as derrotas. Outro é que necessito de muito espaço para narrar cinquenta anos de vida, no caso, da minha vida.
Fiquemos com a letra da música do Belchior, de que “eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”. É clichê, eu sei, inclusive já devo ter usado esta frase em crônicas passadas. Mas que ela encaixa bem para momentos reflexivos e balanços de vida, ela combina sim!
Então, já que chegamos até aqui, quer dizer que encaramos o tal de cinquenta com alguma coragem, diversos tropeções e, pelo visto, algumas conquistas. Fiz o meu balanço, sopesei a balança e saí satisfeito com o resultado. Não fiz tudo que quis, é fato, mas me diverti bastante tentando!
No processo, aprendi que agradecer também faz parte. Não precisa ser para nenhuma entidade mística ou religiosa, pode ser para você mesmo, o principal responsável por te trazer até aqui e apresentar teu atual amigo íntimo: o cinquenta.
E vocês, já fizeram suas ponderações de nova idade ou novo ano? A pessoa deu umas férias para a cabeça, mas, se prestaram atenção, encerrei o processo e voltei empolgado, retomando o controle do rebanho de palavras que insisto em lidar diariamente.
Depois deste período reflexivo e ponderativo, bora brindar a nova idade e maltratar o teclado! Afinal, ano que vem tem mais!