qui, 25 de abril de 2024

Construtora Sotrin comemora 45 anos de progresso

VÃO CANCELAR DOSTOIÉVSKI?

Buenas! 

         Pronto, resolvemos o problema da invasão da Ucrânia pela Rússia: basta cancelar Dostoiévski! Senhor, em que mundo vivemos?, questionaria um crente prestes a tornar-se um incrédulo ferrenho. Como Ele, eu também não saberia responder com precisão. Mas, como sempre, tentarei apresentar alguns argumentos para o debate que ora toma conta de nossos dias.

A pandemia está recrudescendo – não podia perder a oportunidade de usar essa palavra, compreendam! -, começou a liberação do uso das máscaras mundo afora com a maioria da população vacinada, com o término de diversas restrições. As coisas vão acalmar em nossas rodas de debates. Não, caras pálidas, agora temos outro assunto: geopolítica!

Até bem pouco tempo, tínhamos em cada grupo de whats, especialistas em infectologia e gênios da medicina capazes de receitar remédios milagrosos para a cura do vírus que assolou – ops, ainda assola, com menor ferocidade, ao menos – famílias inteiras Brasil e mundo afora. De uma hora para outra, ganhamos especialistas na Rússia, Otan, Ucrânia, EUA e suas jogatinas políticas…

Tenho um grupo em que um “entendido” dita regras estratégicas e políticas, porém, quando perguntei quando o muro de Berlim caiu ele retrucou: que muro? Ou seja, não dá para levar muita fé nos teóricos de redes sociais. O atual processo dicotômico que o mundo enfrenta permitiu o surgimento de outra guerra – inútil, por sinal, pois não apresenta vencedores, só perdedores de tempo – implacável e cada vez mais intensa: a guerra da desinformação.

O atual sistema de comunicação é implacável e dominante. Se alguém quiser ficar sem informação, precisa fazer muito esforço. No mundo em que vivemos, muitos se esforçam para tirar a importância dos antigos meios de comunicação, redes de TV, rádio e jornais, para dar crédito aos franco-atiradores de redes sociais. Uso essa expressão, pois é assim que vivemos essa guerra da informação.

Do recôndito do quarto em que mora com sua mãe, que o sustenta, este especialista em qualquer coisa, com seu computador, celular e rede de internet, passa a jorrar teses em profusão, não importando se estapafúrdias ou não – aliás, se forem mirabolantes, mais adeptos conquistam – com o único intuito de ganhar likes ou curtidas em suas redes. Se o que diz é certo ou errado pouco importa, o que interessa é gerar o tal engajamento, que faz com que outros cliquem no tal canal, gerando fonte de renda para esse franco-atirador inescrupuloso, podendo enfim, permitir que ele abandone a casa da mãe, porém a maioria prefere o calor e a segurança do ninho materno…

Deveriam, isto sim, irem lutar na guerra de verdade, defender a democracia e a soberania de um país independente como a Ucrânia. Foi o que disse que ia fazer o deputado paulista conhecido como “Mamãe, falei” (Por que esse nome?). Mas, como bons falastrão, preferiu incitar o caos nas redes para se locupletar de curtidas. Disse que foi “ajudar” na guerra fazendo coquetéis molotov, porém, o que mais fez foi julgar os nativos, sendo preconceituoso e misógino. Ele se elegeu com este método, não pegou em armas, voltou o mais rápido que pôde, mas fez fotos, muitas, e mandou áudios infames para amigos, só esqueceu que no mundo em que ele vive, não há nada velado, tudo é passível de publicidade.

Afirmar que “as mulheres ucranianas são fáceis porque são pobres” é de uma baixeza indefensável e facilitou que mais pessoas conheçam seu verdadeiro caráter. As mesmas redes que o alavancaram do anonimato ao sucesso acabaram com sua carreira pública.

Diversas grandes empresas com filiais na Rússia estão fechando suas lojas como forma de protesto. Atitude nobre, diria eu, uma parca tentativa de frear a guerra, mesmo com prejuízo financeiro. Porém, vocês hão de convir, ler que tem gente, melhor, universidades querendo boicotar a leitura de obras literárias russas como as de Dostoiévski, Tolstoi ou Gorki como forma de protesto já é um exagero. Primeiro demonstra um desconhecimento, pois esses mesmos escritores lutaram contra as injustiças em seu tempo. Segundo, como isso iria atingir o mandatário russo?

Eu tenho uns 25% de origem russa ou ucraniana, depende do ponto de vista. Conforme minha mãe, um de meus bisavôs saiu de Kiev em 1917, pois o país estava em guerra para saber se seria independente ou ficaria sob o domínio soviético. Casou com uma alemã, e veio para as bandas gaúchas, parando nas terras vermelhas da região das Missões.

Ela conta que sua mãe, nascida nos 1920, teve que cortar o sobrenome ao meio, para não ser identificada com a Alemanha nazista, pois as pessoas de então não sabiam diferenciar um país do outro. O sobrenome se perdeu nos labirintos da história por falta de discernimento e por uma errônea guerra de desinformação.

Já nos dias de hoje, sofremos de um certo processo de envenenamento por excesso de remédio. Temos informações por todos os lados, o que nos falta é filtro para interpretar e selecionar o que pode ser valoroso ou o que pode ser somente iscas para likes.

Para ampliar nossa capacidade de filtro, recomendo a leitura dos russos. Leia “O Idiota”, de Dostoiévski, mas não seja um. Ou “Crime e Castigo”, do mesmo autor. Também pode ler o clássico “Guerra e Paz”, de Tolstoi, mas é pesado, penso que pode ser para um segundo momento. Anton Tchecov e seus contos de atmosfera seriam uma bela introdução para o mundo literário dos russos e as dificuldades do século XIX, quando guerras entre países independentes dominavam os jornais, quando pessoas faziam atrocidades em nome de governantes despóticos e ensandecidos, sempre em busca do dinheiro, poder e uma glória miserável, um tanto similar ao que vemos nas redes sociais…

Como diria Dostoiévski, “Tudo é pó e vaidade” Todos labutamos, nos esforçamos, rebaixamo-nos, e tudo para quê? Morremos, e tudo fica para trás!”