seg, 15 de setembro de 2025

Variedades Digital | 13 e 14.09.25

Pessoas invisíveis

Em 5 de fevereiro passado a polícia de Como, na região da Lombardia, na Itália, encontrou o corpo de Marinella Beretta, de 70 anos. Vizinhos ligaram para o telefone de emergência para reclamar que algumas árvores do pátio da idosa ameaçavam cair e que o mato tomara conta do terreno.
Depois de bater à porta sem sucesso, os agentes chamaram o dono da casa que abriu o imóvel e encontraram Marinella morta, sentada em uma ca-deira de balanço. Legistas calculam ela estava morta há pelo menos dois anos. Vizinhos corroboraram a versão, dizendo que desde setembro de 2019 não a viam. Apesar da caixa do correio abarrotada de correspondências e do matagal ninguém teve a iniciativa de procurar a moradora.
A notícia estarrecedora reflete a individualização que assola o mundo por ironia numa época de multicomunicação da onipresença da tecnologia e inúmeras ferramentas de contato. Em janeiro um fotógrafo foi encontrado morto por hipotermia, ou seja, morreu de frio na rua. O episódio não foi registrado em algum país do terceiro mundo, mas no centro de Paris, um dos países mais desenvolvidos do mundo.
A solidão, a depressão e o sentimento de abandono é um dos grandes males modernos. A ausência de solidariedade, os conflitos familiares tão co-muns no cotidiano e o medo decorrente da insegurança que prolifera mundo afora.
Educação financeira, filosofia, direitos humanos e outros conteúdos são invocados com frequência para inclusão no currículo escolar. Talvez fosse o momento de acrescentar conteúdos humanistas, onde a empatia (capacidade de projetar a personalidade de alguém num objeto, de forma que este pareça como que impregnado dela) tenha tanta relevância quanto o manejo da tecnologia.
Certamente o episódio da Itália não é isolado, mas se não tivesse reper-cussão internacional pareceria enredo de filme ou peça de teatro. A vida é mais cruel que qualquer script de ficção porque é protagonizada por seres humanos, ou seja, gente, “de verdade”.
É incrível, mas vivemos na época das “pessoas invisíveis”, de persona-gens que fazem parte do nosso cotidiano, mas que em determinado momento e repentinamente desaparecem. Apesar das relações, o fato é incapaz de provocar iniciativas de busca. O protagonismo humano definitivamente está em baixa.

 

Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]

 

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Programação Especial em Homenagem ao Mês Tradicionalista

Jornalista/gilbertojasper@gmail.com

Por Gilberto Jasper: MUDANÇA DE HÁBITOS

Jornalista/[email protected] Frequento o Litoral norte do Rio Grande do Sul desde a mais tenra idade. Meu avô, Bruno Kirst, tinha uma grande casa de madeira na praia de Tramandaí, outrora conhecida como “A Capital das Praias”. Era uma época heróica perto das facilidades de hoje. O imóvel – casarão de madeira com muitos quartos – ficava perto das dunas, paisagem