sex, 29 de março de 2024

Aplateia Digital | 23 e 24.03.24

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A SEMANA DE 1922 E A ARTE NO BRASIL

Buenas!

Estamos na semana em que se comemora o centenário da semana mais famosa da cultura brasileira. O leitor mais atento – que não são todos, pois estamos cada dia mais distraídos: pandemia, celular, streamings, boletos – está a se perguntar: não deveria dizer que é a efeméride mais importante ao invés da mais famosa. Ou ambas? Vamos debater o assunto e tentar entender a diferença entre os dois conceitos e o que foram e fizeram aqueles dias…

O Brasil vive os renovadores tempos do início do século XX, principalmente São Paulo, que nadava em dinheiro cheirando a café. O grão crescia forte e fácil nas terras roxas que faziam parte da geografia paulista e paranaense. O dinheiro entrava com força, fomentando a industrialização da pujante capital paulista nos anos 1920. Ela contava com 4,6 milhões de habitantes, o dobro do que tinha na virada do século.

Porém – e meus leitores sabem que sempre haverá um porém em meus escritos -, a capital política e cultural do país ainda era a belíssima e formosa cidade do Rio de Janeiro. Lá estavam sediados os órgãos promotores de cultura, como a Academia Brasileira de Letras e a Escola Nacional de Belas Artes. Os intelectuais para lá migravam tentando conquistar seu quinhão e alguma publicidade de sua produção artística. 

Quem, naquela época, poderia produzir cultura?, pergunto do alto dos meus cem anos de vantagem. Somente os membros da alta elite brasileira. Como surge e se mantém uma elite, caros leitores? Com dinheiro, muito, bastante, de preferência. O suficiente para permitir ao candidato estudar com afinco e criar sua arte, sem preocupar-se com pagar os boletos ou lavar sua própria roupa. Onde o dinheiro estava concentrado naquele momento? Bingo! Agora ficou fácil de compreender um pouco o porquê da tal semana ocorrer em Sampa, há cem anos. Continuemos.

Com patrocínio e algumas ideias, alugaram o Teatro Municipal de São Paulo para realizar suas apresentações em pleno fevereiro. O que a publicidade não conta é que a “semana” aconteceu por tão-somente três noites. Eles não tinham atrações para muitos dias, muito menos público. Souberam mesclar o talento de intelectuais consagrados, como o escritor e diplomata Graça Aranha, autor de Canaã, e Villa-Lobos, com a juventude renovadora de Mário e Oswald de Andrade (não, eles não são parentes, inclusive tem origens distintas, o primeiro professor de música, o segundo, um rico herdeiro).

Haviam exposições de esculturas e de pinturas, como as de Anita Malfatti na entrada do saguão. Enquanto as pessoas subiam as escadas, Mário ficava a recitar poemas, mesmo que os ouvintes não lhe dessem a atenção adequada, o importante era marcar presença e ocupar território. Heitor Villa-Lobos regeu uma pequena orquestra de fraque e… chinelos de dedos. Muitos acharam aquilo um acinte, outros viram nisso um requinte de brasilidade. Na verdade, ele estava com o pé inchado, uns falam em gota, outros em um corte. 

Em suma, durante a semana, composta por três noites, eles foram vaiados em várias apresentações, noutras tantas receberam aplausos, conquistando o seu objetivo primário: perturbar os alicerces da tradição acadêmica (ia usar o termo contemporâneo “causar”, mas ainda não estou preparado para tanta modernidade). 

Uma frase dita pelo mesmo Mário de Andrade, afirma: “não sabemos muito bem o que queremos, mas sabemos muito bem o que não queremos.” Não queriam repetir o passado, principalmente, o formulismo dos parnasianos, a linha poética preferida dos leitores de então, principalmente da elite carioca, a detentora (até então) da cultura no país – o Brasil sempre foi fraco de promoção e desenvolvimento cultural, mas não de artistas!

Talvez por isso mesmo, por não termos uma linha artística bem definida, fora a promovida pelos órgãos situados na capital que já citei, os jovens paulistas tentaram preencher esta lacuna. Aliás, muitos deles passaram temporadas na Europa, alguns estudando, alguns somente flanando, por cidades como Paris

 A cidade-luz concentrava, após o findar da I Grande Guerra Mundial, a maior concentração de intelectuais por metro quadrado do mundo. 

Lá, muitos jovens tentavam angariar seu espaço, apresentar sua arte, conquistar o quinhão da arte, como Picasso e outros tantos conseguiram no início do século XX. Com eles, os paulistas aprenderam que a principal ferramenta para demarcar território é uma só: inovação! Se o que criamos com isso será o melhor dos mundos, não os preocupava, o mais importante era inovar.

Quais foram as grandes obras que dali surgiram? Macunaíma, do próprio Mário, romance controverso, de linguagem modernista, mas extremamente divertido. Obras como a de um Erico Verissimo ou Jorge Amado, que vieram depois, não se deixaram influenciar pelos paulistas, mas sim, pelas obras de cunho regionalista que já pipocavam antes do movimento de 1922.

Talvez, por isso mesmo, temos de lembrar que, em geral, a arte, aquela grande, que deixa marcas profundas, costuma ser silenciosa. Seria bem legal, mas Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael, apesar de viverem na mesma cidade, nunca fizeram uma semana promocional de suas ideias artísticas, cada qual fez, isto sim, suas obras. Coisa pouca, não é? 

Já os futuristas, que propunham uma revolução artística no início do séc. XX, esses sim trabalhavam em grupo. E o que restou de relevante do que fizeram? O movimento em si, a vontade de mudar, inovar, criar, exatamente como nossos conterrâneos paulistas. 

A semana foi relevante, não tanto assim quanto defendiam os paulistas e sua valorosa campanha publicitária, mas extremamente necessária. A proposta de uma renovação da arte, mesmo que sem muito rumo, ajudou o Brasil a entrar no circuito cultural mundial. 

Inclusive, centenários leitores, sabiam que a pintura O Abopuru, de Tarsila de Amaral, a mais famosa obra de arte que surgiu pós-semana, em 1928, hoje está em um museu argentino?

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