Pelo segundo ano consecutivo as festas de final de ano serão comemoradas sob o signo da pandemia. Ao longo de todo – mais de 20 meses – este período de anormalidade acredito que a solidariedade tenha aflorado com maior intensidade na maioria das pessoas.
Antes da crise sanitária era comum a realização de campanhas beneficentes quase que exclusivamente nesta época do ano. Era resultado dos comerciais chorosos de rádio e de tevê que levavam a um exame de consciência para ajudar.
Vejo muitas pessoas buscando apoio para famílias carentes. Fazem isso não apenas através da doação de comida, mantimentos, roupas e calçados. Mas conversando, tentando ajudar na busca de emprego ou de colocação informal para tentar uma renda mínima.
Tenho amigos que focam na ajuda de crianças de rua que vendem balas na sinaleira. Este é o quadro mais dolorido desta pandemia. É impossível não ficar tocado com os indiozinhos que habitam a Rua da Praia, ponto tradicional do centro de Porto Alegre. Elas passam o dia no chão, brincando com carrinhos sem roda, bonecas sem braços, comendo o que os transeuntes descartam. Dói profundamente assistir a isto!
Este período de balanço, descanso e projeção de meta para o novo ano que chega é assim mesmo. Permeado por um turbilhão de sentimentos, pelo menos é assim comigo. Sensações de euforia e de disposição para mudanças adiadas há muito tempo se alternam com momentos de reflexão, tristeza, frustração e, é claro, depressão, reflexo com o resultado final da análise anual.
Viver é aprender. É absorver resultado de episódios construtivos para evitar a repetição dos erros. A emoção – sempre ela! –, no entanto, compromete o uso diuturno da razão. Mas fazer o que? O ser humano é assim mesmo. Um duelo interminável entre cabeça e coração que produz o molho da vida, a partir do temperamento individual.
Família, amigos, afetos são ingredientes do cotidiano, pilares para enfrentar as agruras do ser humano. Muitas vezes um obstáculo que parece intransponível é superado pela palavra sincera de um parceiro experiente que está ao lado observando nosso drama.
Ser solidário não é fácil. Exige desprendimento e humildade, afeto e sensibilidade, esforço e dedicação. Mas tudo isso vale a pena!
Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]