Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Todo mundo conhece alguém autossuficiente. Aquelas pessoas que “se acham” superiores e que não estão nem aí para o resto do mundo. É gente que adora parecer indiferente às coisas cotidianas que afetam os mortais comuns, como o sorriso de um bebê, a doçura de um cachorro ou a piedade diante de um morador de rua.
Nesta época de pandemia muita gente mudou o comportamento sensibilizado por experiências dolorosas consigo mesmo ou que envolveram familiares e amigos próximos. Costumo fazer uma analogia em relação às tragédias que a vida nos reserva com a figura de um espelho.
A dor se assemelha à imagem refletida de nós mesmos. É praticamente impossível passar diante de um espelho sem reparar na própria imagem. Mesmo que de soslaio, “com o rabo do olho”, todos caem na tentação de conferir o visual.
Quando vou ao shopping observo o comportamento dos frequentadores. Além de ser um aficionado por gente, uso este hábito como laboratório para as reflexões que trago aqui, através de minhas mal traçadas linhas, dando pitacos da vida alheia.
As vitrines das inúmeras e vistosas lojas servem à visualização da própria imagem. Lembram o mito de Narciso, personagem da mitologia grega, um forte símbolo de vaidade, citado muito na psicologia, filosofia, letras de música, artes plásticas e literatura. Além de ter uma beleza estonteante que despertava a atenção de homens e mulheres, Narciso era arrogante e orgulhoso.
Ao invés de se apaixonar por outras pessoas que o admiravam ele ficou apaixonado por sua própria imagem ao vê-la refletida numa lago. A morte de Narciso é controversa. Dizem alguns que morreu de desgosto por não conseguir possuir a própria imagem que admirava. Outra versão diz que afogou-se ao tentar tocar a própria imagem no lago que a refletia.
Assim como é impossível mentir ao travesseiro ao final do dia, diante do espelho vislumbramos a nossa imagem verdadeira, sem maquilagem, mentiras, desculpas e subterfúgios para fugir à verdade. Espelho e travesseiros, objetos simples do nosso cotidiano, servem para mostrar nossas fraquezas que o dia a dia por vezes omite. Noutras, “esquecemos” porque nos convêm.
Gostando ou não do que o espelho mostra, lá estamos nós, com defeitos, virtudes, temores, planos que, em resumo, são balanços diários que fazemos sem nos dar conta.