dom, 23 de março de 2025

Variedades Digital | 22 e 23.03.25

FUTEBOL: PAIXÃO SEM SENTIDO. MAS É PAIXÃO!

Buenas!,

 

Nesta semana, depois de quase dois anos, frequentei um estádio de futebol. Não há porque guardar segredos, não sou comentarista esportivo, portanto confirmo os boatos que andam circulando na mídia internacional que fui ao gigante da Beira-Rio, o estádio do Sport Clube Internacional, time para o qual torço desde a tenra infância. Sofri como dantes da pandemia, xinguei o juiz, obviamente, e também alguns jogadores. Um deles, logo em seguida, calou minha boca ao fazer um golaço. Chamei-o de craque, por supuesto, elogiando-o como se fosse um gênio.

 

Contraditório, não há como negar, mas tentarei justificar. Peço compreensão, apaixonado leitor, mesmo daqueles que não comungam de tanta paixão pelo esporte, que dizer uma tão fleumática quanto a demonstrada pela prática futebolística.

 

O Futebol superou a política e a religião ao tornar-se a verdadeira paixão nacional, não só do brasileiro, mas de várias nacionalidades. Na Argentina e Uruguai cultivam o esporte bretão desde a tenra infância, como nosotros. Quando criança, não havia terreno baldio que não fosse ocupado por uma horda de meninos tentando chutar uma objeto arredondado, muitas vezes feito de material improvisado, para dentro de uma meta, seja ela de madeira ou formada por um par de chinelos rotos.

 

Quem nunca gritou “Pega! Passa! É minha!”, não importando se em língua portenha ou em um português rasteiro? Nos recreios escolares de escolas públicas, o ápice era quando o professor, após dividir os grupos entre colorados e gremistas, dava um balão na bola e o pátio transformava-se em uma batalha campal em que todos saem encharcados de suor, joelhos esfolados e dedões destroncados. Garanto-lhes, geração Z em diante: saímos dali com cicatrizes, mas com o caráter pronto para a forja da vida.

 

Desde a idade mais remota, quando ainda não sabemos muito bem o que queremos da vida, já sabemos para que times iremos torcer pelo resto da existência. Todo homem com passado tem uma foto no berço com o uniforme do time de  coração, do seu pai, obviamente. Hoje, com o advento dos celulares, há livros inteiros! Ali, tenham certeza, foi cimentada a pedra fundamental de nossa escolha futebolística. E ai de quem mudar!

 

Eu tenho um irmão que optou pelo co-irmão, um único e renegado irmão, que se deixou influenciar por um primo e abandonou a escolha do berço feita pelo seu pai e avô. Não foi deserdado, ainda… Há quem escolha para nome do filho, do próprio filho, a alcunha de algum dos craques de seu time. Imaginem se esse nominado rebento um dia renegar o time da família, como meu irmão o fez, para desgosto do lado masculino da família?

 

E não é só para a família, o futebol é relevante para a nação. Ele conseguiu nos fazer superar o famoso “complexo de vira-latas”. Certamente já ouviram essa expressão, mas não lembram sua origem, deixem-me refrescar suas memórias. “Desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo”, afirmou genialmente Nelson Rodrigues às vésperas da copa do mundo de 1958. “Por complexo de ‘vira-latas’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo.” Afirmou em uma de suas maravilhosas crônicas acerca do futebol e suas cercanias.

 

Ampliando o conceito, vemos que esta sensação de inferioridade que de tempos em tempos toma conta do Brasil, conseguiu ser superada pela primeira vez com a conquista do primeiro título mundial com Pelé, Garrincha e companhia. Após a vitória, que ele acompanhou pelo rádio, o mais importante dramaturgo brasileiro escreveu que “É chato ser brasileiro!”. E o disse porque o futebol nos encheu de um orgulho nacionalista e educativo: “sujeitos que não sabiam se gato se escreve com ‘x’ iam ler a vitória no jornal.” E foi além: “graças a esses jogadores o Brasil descobriu a si mesmo.” Filosófico, nosso cronista, filosófico…

 

Outro exemplo que demonstra a relevância do quanto o futebol pode mexer com vidas e com uma nação, saibam que o governo militar de Médici quis utilizar a vitoriosa seleção de 1970 para promover seu governo. Dizem que o técnico João Saldanha, que reuniu o melhor time de todos os tempos e o classificou para a copa do mundo, deu lugar a Zagallo após determinação do próprio presidente!

 

Gastar dinheiro com futebol, perder tempo discutindo se foi ou não impedimento, se o moderníssimo VAR acertou ou errou, é algo tão irracional quanto discutirmos a atual dicotomia política entre esquerda e direita – que pouco tem de um e de outro – que toma conta do país. Lembram das disputas entre maragatos e chimangos na política do Rio Grande do Sul de outrora? A disputa aparenta ter sido transferida para o futebol, sem espadas ou adagas, apesar de raras exceções.

 

A coisa é tão sem sentido, que a maioria dos torcedores ficam mais felizes com o seu contendor derrotado, mesmo que não seja pelo seu time. Muitos, quando perguntados qual a preferência, escolhem ver o inimigo declarado na rua da amargura do que ver o seu time campeão, tal o nível de contradição que domina o não tão consciente espírito esportivo do futebol.

 

O que podemos dizer diante de tamanha e complexa dicotomia competitiva? Despendemos tempo, dinheiro e, muitas vezes, nossa saúde, em prol de uma entidade que nunca irá nos pertencer. Um torcedor raiz se sente proprietário do clube e até amigo de personalidade que embolsam toneladas de dinheiro num mês que muitos não verão em 472 vidas. O português Cristiano Ronaldo, por exemplo, é a personalidade mais famosa do mundo nas redes sociais, superando astros do cinema e de outros esportes.

 

            Como agir racionalmente diante disto? Onde é que encontramos sentido no movimento que nos move para a frente da tevê ou para um estádio tarde da noite para torcer, vibrar, gritar, xingar e depois fazer chacota do adversário nas redes sociais?

 

E quem disse que paixão tem de fazer sentido?…

Buenas!,

 

Nesta semana, depois de quase dois anos, frequentei um estádio de futebol. Não há porque guardar segredos, não sou comentarista esportivo, portanto confirmo os boatos que andam circulando na mídia internacional que fui ao gigante da Beira-Rio, o estádio do Sport Clube Internacional, time para o qual torço desde a tenra infância. Sofri como dantes da pandemia, xinguei o juiz, obviamente, e também alguns jogadores. Um deles, logo em seguida, calou minha boca ao fazer um golaço. Chamei-o de craque, por supuesto, elogiando-o como se fosse um gênio.

 

Contraditório, não há como negar, mas tentarei justificar. Peço compreensão, apaixonado leitor, mesmo daqueles que não comungam de tanta paixão pelo esporte, que dizer uma tão fleumática quanto a demonstrada pela prática futebolística.

 

O Futebol superou a política e a religião ao tornar-se a verdadeira paixão nacional, não só do brasileiro, mas de várias nacionalidades. Na Argentina e Uruguai cultivam o esporte bretão desde a tenra infância, como nosotros. Quando criança, não havia terreno baldio que não fosse ocupado por uma horda de meninos tentando chutar uma objeto arredondado, muitas vezes feito de material improvisado, para dentro de uma meta, seja ela de madeira ou formada por um par de chinelos rotos.

 

Quem nunca gritou “Pega! Passa! É minha!”, não importando se em língua portenha ou em um português rasteiro? Nos recreios escolares de escolas públicas, o ápice era quando o professor, após dividir os grupos entre colorados e gremistas, dava um balão na bola e o pátio transformava-se em uma batalha campal em que todos saem encharcados de suor, joelhos esfolados e dedões destroncados. Garanto-lhes, geração Z em diante: saímos dali com cicatrizes, mas com o caráter pronto para a forja da vida.

 

Desde a idade mais remota, quando ainda não sabemos muito bem o que queremos da vida, já sabemos para que times iremos torcer pelo resto da existência. Todo homem com passado tem uma foto no berço com o uniforme do time de  coração, do seu pai, obviamente. Hoje, com o advento dos celulares, há livros inteiros! Ali, tenham certeza, foi cimentada a pedra fundamental de nossa escolha futebolística. E ai de quem mudar!

 

Eu tenho um irmão que optou pelo co-irmão, um único e renegado irmão, que se deixou influenciar por um primo e abandonou a escolha do berço feita pelo seu pai e avô. Não foi deserdado, ainda… Há quem escolha para nome do filho, do próprio filho, a alcunha de algum dos craques de seu time. Imaginem se esse nominado rebento um dia renegar o time da família, como meu irmão o fez, para desgosto do lado masculino da família?

 

E não é só para a família, o futebol é relevante para a nação. Ele conseguiu nos fazer superar o famoso “complexo de vira-latas”. Certamente já ouviram essa expressão, mas não lembram sua origem, deixem-me refrescar suas memórias. “Desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo”, afirmou genialmente Nelson Rodrigues às vésperas da copa do mundo de 1958. “Por complexo de ‘vira-latas’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo.” Afirmou em uma de suas maravilhosas crônicas acerca do futebol e suas cercanias.

 

Ampliando o conceito, vemos que esta sensação de inferioridade que de tempos em tempos toma conta do Brasil, conseguiu ser superada pela primeira vez com a conquista do primeiro título mundial com Pelé, Garrincha e companhia. Após a vitória, que ele acompanhou pelo rádio, o mais importante dramaturgo brasileiro escreveu que “É chato ser brasileiro!”. E o disse porque o futebol nos encheu de um orgulho nacionalista e educativo: “sujeitos que não sabiam se gato se escreve com ‘x’ iam ler a vitória no jornal.” E foi além: “graças a esses jogadores o Brasil descobriu a si mesmo.” Filosófico, nosso cronista, filosófico…

 

Outro exemplo que demonstra a relevância do quanto o futebol pode mexer com vidas e com uma nação, saibam que o governo militar de Médici quis utilizar a vitoriosa seleção de 1970 para promover seu governo. Dizem que o técnico João Saldanha, que reuniu o melhor time de todos os tempos e o classificou para a copa do mundo, deu lugar a Zagallo após determinação do próprio presidente!

 

Gastar dinheiro com futebol, perder tempo discutindo se foi ou não impedimento, se o moderníssimo VAR acertou ou errou, é algo tão irracional quanto discutirmos a atual dicotomia política entre esquerda e direita – que pouco tem de um e de outro – que toma conta do país. Lembram das disputas entre maragatos e chimangos na política do Rio Grande do Sul de outrora? A disputa aparenta ter sido transferida para o futebol, sem espadas ou adagas, apesar de raras exceções.

 

A coisa é tão sem sentido, que a maioria dos torcedores ficam mais felizes com o seu contendor derrotado, mesmo que não seja pelo seu time. Muitos, quando perguntados qual a preferência, escolhem ver o inimigo declarado na rua da amargura do que ver o seu time campeão, tal o nível de contradição que domina o não tão consciente espírito esportivo do futebol.

 

O que podemos dizer diante de tamanha e complexa dicotomia competitiva? Despendemos tempo, dinheiro e, muitas vezes, nossa saúde, em prol de uma entidade que nunca irá nos pertencer. Um torcedor raiz se sente proprietário do clube e até amigo de personalidade que embolsam toneladas de dinheiro num mês que muitos não verão em 472 vidas. O português Cristiano Ronaldo, por exemplo, é a personalidade mais famosa do mundo nas redes sociais, superando astros do cinema e de outros esportes.

 

            Como agir racionalmente diante disto? Onde é que encontramos sentido no movimento que nos move para a frente da tevê ou para um estádio tarde da noite para torcer, vibrar, gritar, xingar e depois fazer chacota do adversário nas redes sociais?

 

E quem disse que paixão tem de fazer sentido?…

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