Após uma articulação de mais de 20 anos, o Rio Grande do Sul foi declarado, pela Organização Mundial de Saúde Animal, zona livre de febre aftosa sem vacinação, em maio deste ano, abrindo novos mercados para a carne gaúcha. Uma das exigências para que esta certificação mundial ocorresse seria a melhoria dos serviços de fiscalização agropecuária nas fronteiras do RS. Diante disso, foram criados dois programas sanitários de vigilância permanente pela Secretaria Estadual de Agricultura, o Sentinela, que cobre toda extensão de fronteira com o Uruguai e a Argentina; e o programa Guaritas, que realiza a fiscalização na fronteira do Rio Grande do Sul com Santa Catarina.

Gado de corredor
Durante as ações que ocorrem de forma permanente, os fiscais apreenderam no dia 07/08/2021, 11 fêmeas bovinas que estavam soltas na estrada, na localidade de Capão do Inglês/Estrada da linha, caracterizando potencial risco sanitário, haja vista, que transitam pela estrada entre os dois países. Os animais foram recolhidos para depósito na unidade da Fepagro, de Hulha Negra (BR 293), cumprindo os ritos descritos no decreto 52434.
O proprietário acabou contatando a Inspetoria de Defesa Agropecuária do município, na terça-feira, 10 de agosto, pagou multa e se responsabilizou por encaminhar os animais para alguma propriedade.
Segundo o fiscal agropecuário, Francisco José Coelho, chefe do Bloco B2, no primeiro ano de atividades do programa, as abordagens em relação aos animais soltos nas estradas eram mais de conscientização aos produtores e proprietários. “Essa ação era mais de orientação antes. Agora, após o novo status não pode ter mais animais de corredor. Principalmente aqui em Sant’Ana do Livramento, que é região de fronteira com o Uruguai, que tem status sanitário diferente do nosso. Então, não podemos ter mais esses animais no corredor sejam eles de qualquer espécie, pois eles acabam colocando em risco o nosso rebanho”, disse.


Barreiras e orientação
Em outra atividade dos fiscais foi realizada uma barreira na BR 293, próxima à RS -183, Estrada do Passo da Guarda onde foram abordados veículos particulares, caminhões de transporte de animais, cargas vivas e inspeção a produtos de origem animal.
Um ano em números
O programa Sentinela completa um ano em maio de 2021 percorrendo a fronteira do Brasil com o Uruguai e a Argentina e garantindo a segurança sanitária do rebanho gaúcho – livre de febre aftosa sem vacinação. Nesses 12 meses, as equipes percorreram cerca de 54 mil quilômetros e fiscalizaram 29.530 bovinos, 5.730 ovinos e 1.230 equinos.
As multas chegaram a R$ 2 milhões e o custo estimado para os produtores que não atendiam as normas é de R$ 3,2 milhões – soma das multas e dos animais abatidos.
O programa começou em 8 de julho de 2020 e durante esse período o teor das ações foi mudando. “Neste um ano de atividades, percebemos uma evolução nos achados e na forma de atuação do Sentinela. As frentes mais trabalhadas no programa foram a fiscalização da criação irregular de animais na faixa de domínio, muito presente na fronteira com o Uruguai, e que teve uma redução drástica, e a movimentação irregular de animais, que também registrou uma diminuição. Além disso, há ainda o contrabando de cargas vivas e de produtos de origem animal, registrado na fronteira com a Argentina, que continuamos investigando com uma ação integrada das áreas de segurança”, analisa o coordenador do programa Sentinela, Francisco Lopes.
O trabalho de inteligência, com a utilização de ferramentas como a análise de rede de movimentação animal, realizado em parceria com a Universidade Estadual da Carolina do Norte e patrocinado pelo Fundesa, permite que se possa apresentar um trabalho de fiscalização que otimiza os recursos e presta um serviço de defesa sanitária animal eficiente, através da escolha de propriedades chaves e rotas preferenciais.
Novo status
Desde que a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) oficializou o Rio Grande do Sul como zona livre de febre aftosa sem vacinação, em 27 de maio deste ano, o papel do programa se tornou ainda mais relevante.
“O Sentinela entrou como uma importante ferramenta para a substituição da vacinação de febre aftosa, atacou fortemente as áreas de maior risco de introdução do vírus no Estado, conforme apontado pelo estudo de análise de risco elaborado pelo Departamento de Defesa Agropecuária (DDA) em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul”, afirma Francisco Lopes, coordenador do programa. Lopes projeto que para o próximo ano o Sentinela vai focar ainda mais nas atividades prévias de análise de dados e inteligência em parceria com os outros órgãos.
Além das seguintes ações:
- 2.852 ações de educação sanitária
- 1,18 mil veículos fiscalizados
- 308 barreiras realizadas
- 371 autuações emitidas
- 232 propriedades fiscalizadas
- 398 abates sanitários
FOTOS MATIAS MOURA/AP