sex, 13 de setembro de 2024

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Os sete de Chicago

Após comentar sobre o filme com o maior número de indicações, Mank, e falar sobre o grande vencedor da noite, com três prêmios principais, Nomadland, agora, discorro sobre um filme que não foi premiado na cerimônia. É interessante fazer a análise, enquanto indicados ao festival, daquele filme que, apesar de contar com seis indicações, não venceu nenhuma. Seria esse o filme mais fraco dos indicados? Acredito que responder essa pergunta com sim ou não, é muito superficial. Os votantes do Oscar entenderam, em suas respectivas categorias, que outros filmes desempenharam melhores resultados. Ao meu ver, Os Sete de Chicago encontra um equilíbrio fílmico interessante e difícil de alcançar. É um filme com uma montagem bastante dinâmica e que nos localiza muito bem nas cenas. Penso, dessa forma, que não sair com nenhuma estatueta, de forma alguma, diminui seu grau de competência.

Baseado em uma história real, o longa acompanha a manifestação contra a guerra do Vietnã que interrompeu o congresso do partido Democrata. Ocorreram diversos confrontos entre a polícia e os participantes. No total, dezesseis pessoas foram indiciadas pelo ato. No ano de 1968, diferentes grupos contrários à Guerra do Vietnã se reuniram em um grande protesto em Chicago, local em que acontecia a Convenção Nacional Democrata – evento que anunciou a candidatura de Hubert H. Humphrey à presidência. As coisas saíram do controle, houve tumulto e alguém tinha que pagar por isso, pelo menos era esse o interesse do Estado. A decisão do governo foi acusar um seleto grupo de pessoas de conspiração em um julgamento que entrou para a história do país. O filme não se propõe a meramente contar o fato histórico e sequer se aprofunda nisso, afinal de contas não se trata de um documentário, mas uma abordagem fílmica sobre o fato, com o tom cinematográfico que o diretor e roteirista Aaron Sorkin entendeu que era a sua linguagem. Não procura nenhum tom documental, mas ficcional, uma abordagem interessante para retratar um momento específico da história americana.

Acredito que essa escolha segura da direção faz o filme tão atraente para quem assiste, pois essa abordagem conecta os espectadores, pois é uma abordagem simples. Mesmo não sendo inovador, não é de forma alguma desleixada, muito pelo contrário. Como o diretor também é o roteirista da obra, ele conhece muito bem as amarras que construiu no roteiro, e isso fica evidente para o público que acompanha. O filme trata do julgamento das pessoas que foram acusadas e foca na defesa dessas pessoas perante um Estado que se uniu para condena-las. Lembrou de alguma situação? Pois então, passados mais de cinquenta anos do julgamento, as formas inquisitivas de tratar os acusados ainda existe e dá margem para interpretações conflituosas e muitas vezes errôneas. Sorkin tem a sensibilidade de não tratar qualquer um dos acusados como protagonista, sequer o advogado que os defende é protagonista. Os personagens responsáveis pela acusação e pelo julgamento também não. Ou seja, todos são coadjuvantes perante aquele fato histórico e por conta da trama desenvolvida e esse equilíbrio é bem-vindo para contar a história.

Com tantos personagens é preciso destacar o trabalho do elenco. A grande maioria se sai muito bem ao interpretar seus personagens. Começando pelo trabalho impiedoso de Frank Langella, como juiz. O consagrado ator de 83 anos entrega a performance de um juiz totalmente parcial e que enoja os operadores do direito, praticamente impedindo qualquer possibilidade de um julgamento justo. O tom adotado pelo ator é quase surpreendente de tão bem construído, pois suas camadas não se limitam às meras decisões do julgamento, ele é muito profundo. Yahya Abdul-Mateen II carrega uma das cenas mais brilhantes e bem desenvolvidas do filme. O ator com sua expressividade e talento demonstra com seu personagem o que a grande maioria dos acusados sofrem em judiciários racistas. Jeremy Strong interpreta o personagem mais carismático da trama e apesar de ter pouco tempo em tela, sempre que aparece é inteligente e imponente. Mark Rylance como defensor dos acusados é sutil em suas expressões e consegue equilibrar isso com a grande força que um advogado enfrentando um julgamento tão desonesto precisa demonstrar. Há ainda outros atores que complementam a gama de personagens importantes dessa trama, mas o melhor deles, sem dúvida nenhuma, é Sacha Baron Cohen. Conhecido pela irreverência de personagens como Borat, aqui ele demonstra toda a genialidade que possui, um personagem completo e que conduz a trama, seus olhares, seus tons, e sua força são tão contundes que não há como não notar seu destaque perante os demais. Os Sete de Chicago é um grande filme e mereceu suas indicações.

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