Posso dizer com toda a tranquilidade que 2019 foi um grande ano para o cinema. Filmes poderosos foram lançados naquele ano. Depreende-se da lista de indicados a categoria de melhor filme no Oscar: Parasita, Coringa, O Irlandês, Era uma vez em Hollywood, 1917, História de um Casamento, Jojo Rabbit, Adoráveis Mulheres, Ford vs Ferrari. Ainda aqueles que mereciam indicações importantes e não foram lembrados: O Farol, Joias Brutas, Meu Nome é Dolemite, Rocketman, Dois Papas. Foi uma ano incrível para a Disney com lançamentos como: Toy Story 4, Malévola – Dona do Mal, Star Wars – A Ascensão Skywalker, Rei Leão, Vingadores – Ultimato. Enfim, a lista poderia se estender um pouco mais, mas só pra deixar evidente como aquele ano representou muita qualidade e nos presenteou com grandes obras. Uma delas foi justamente o filme que desejo comentar. Retrato de Uma Jovem em Chamas é um dos filmes mais belos que vi em toda a minha vida, lançado em 2019, da diretora francesa Céline Sciamma, é um filme carinhoso com seus detalhes, além de uma forma muito particular de contar sua história.
Na trama, na França do século 18, Marianne (Noémie Merlant) é contratada para pintar o retrato da jovem Héloïse (Adèle Haenel). A mãe de Héloïse contrata Marianne pois sua intenção é enviar a obra para um possível pretendente de sua filha como forma de convencer o tal rapaz de se casar com sua filha. Héloïse, porém, reluta, e não deixa que ninguém a veja e com isso, impede que qualquer pintor consiga traduzi-la para tela. Marianne, então, precisa se disfarçar, e se passa por dama de companhia de dia, para conhecer Héloïse, conhecer os detalhes de seu corpo, enquanto, à noite, pinta de memória, escondida no seu quarto de hóspede, o retrato de Héloïse. Essa ideia é tão simples e ao mesmo tempo conta com tamanha complexidade de emoções. Veja que há um conflito entre mãe e filha que divergem sobre esse noivado que a mãe deseja impor à filha. A relação entre as protagonistas que deveria ser profissional, passa a ser emocional e ainda há toda inserção da arte e como ela influencia diretamente nos sentimentos.
Não consegui encontrar palavras para acompanhar o título desse texto, pois tudo é tão equilibrado e delicado nesse filme, que qualquer possível destaque que eu encontrasse que tenha me impactado mais, seria desonesto com todos os demais. A diretora conduz a história com um tom de mistério. É sensual sem precisar exibir, é romântico sem precisar exibir, e sem se exibir ainda demonstra uma fotografia linda, com cenas deslumbrantes, retratos de uma ambientação de época simplesmente fantásticos. O filme parece se manifestar de forma tão natural, que sentimentos amorosos fortes e importantes também são acompanhados com ternura no decorrer das cenas. A atuação das atrizes que desempenham os personagens principais é simplesmente magnífico. O tom que a diretora encontrou e conseguiu extrair das duas e a forma como ambas demonstram seus sentimentos a partir da lógica do filme e evoluem no decorrer da história, traz essa sensação de naturalidade que toda a aura do filme foi capaz do compor.
Meu último parágrafo só pode ser um simples pedido: assista ao filme. Não conseguiria ser justo com a obra com minhas palavras. Esse é um daqueles filmes perfeitos para um clube de cinema, no qual várias pessoas assistem e depois se reúnem para estudar e apreciar as perspectivas de cada um, tamanho são os elementos que compõem essa obra. O romance vivido pelas personagens transmite ótimas sensações ao espectador, ao mesmo tempo que é possível reconhecer tanto o drama ali vivido, como a virtude de terem podido viver os momentos que viveram. A pintura, outra forma belíssima de arte, é trazida para esse filme com a delicadeza possível. Por vezes a vida nos presenteia com pessoas que ficarão por um breve momento em nossas vidas e mesmo desejando que aqueles momentos se repetissem e durassem para sempre, a memória sempre será eficaz em lembrar pessoas importantes que passaram por nossas vidas e foram capazes de nos transformar.
