ter, 10 de dezembro de 2024

Variedades Aplateia | 30 e 01.12.24

Com o frio intenso, dobra o número de moradores de rua a procura por uma vaga no Albergue

Cláudia Santanna, coordenadora do CREAS. Foto: Marcelo Pinto/AP.

Coordenadora do CREAS fala sobre o Albergue e pessoas em situação de rua contam um pouco da sua história

Uma situação que para alguns chama atenção, para outros passa despercebido. Tanto em cidades grandes, quanto em cidades pequenas, a história se repete. Tem pessoas que estão em situação de rua, dormindo nas ruas, sob marquises, em praças, locais degradados, como prédios e casas abandonadas com pouca ou nenhuma higiene.
O que motivou elas a terem essa opção de vida foram as diferentes vivências e diversas razões. De acordo com uma pesquisa Nacional sobre População em Situação de Rua, realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social, quanto aos motivos que levam as pessoas a morar nas ruas, os maiores são: alcoolismo ou uso de drogas, perda de emprego e conflitos familiares.
A maior parte dos que vivem na rua são homens. Sabe-se que morar nas ruas não é uma condição fácil, há que lidar com uma séria de questões: violência, saneamento básico, higiene, falta de alimentação, a precariedade e o abandono de uma vida confortável em geral.
Com a intensidade do frio, o número de pessoas que procura o Albergue Municipal em Santana do Livramento quase duplica. No local, os moradores de rua contam com banho, janta, pernoite e café da manhã.
Segundo Cláudia Santanna, coordenadora do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), no inverno são abrigadas aproximadamente 25 pessoas entre homens e mulheres e a maior parte deles são homens. Para ter acesso ao abrigo, eles têm que pegar uma autorização valida por três dias no CREAS, localizado na Travessa Antônio Bacedas, nº 90.

Perda de vínculo com a família

A maioria das pessoas que estão nessa situação já romperam os vínculos familiares, seja em função da dependência química ou outros motivos. “Nós tentamos a reinserção, levamos para o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD), são internados na ala psiquiátrica, fazem a desintoxicação durante 21 anos, são encaminhados para fazendas terapêuticas para fazer o tratamento, mas a grande maioria não chega a ficar um mês e retornam para o albergue”, comenta Cláudia.
Além disso, não conseguem continuar o tratamento, difícil de aderir, ainda mais quando falta o apoio familiar.

Benefício eventual

Muitas pessoas estão vindo para Santana do Livramento e são de cidades bem próximas. Com o benefício eventual pedem a passagem para o município, algumas alegam que é na busca por emprego e querem conhecer a Fronteira. Isso dificulta o trabalho de acolhimento do CREAS, porque não se sabe o histórico, sem documentos, e fica difícil conseguir, principalmente quando vem de fora do Estado. Durante esse tempo até fazer o credenciamento delas no Departamento, ficam perambulando pela cidade.

Dependência química

Um ponto que dificulta é que muitos são usuários de álcool e outras drogas. A orientação é não deixar entrar no albergue quando estão alcoolizados, por questão de segurança do próprio usuário e dos demais da casa, mas com esse frio não tem como deixa-los na rua, é uma situação difícil ficar ao relento, então o albergue recebe eles mesmo assim, explica Cláudia.

Porque moram na rua

Dilmar Correia, 55 anos, mora na rua porque teve problemas com a família, deixou a casa para a filha e a esposa. “Essa vida é horrível, sem palavras, e sem palavras não se faz um livro e nenhuma versão no país inteiro”, comenta entristecido.
“O albergue é uma coisa boa, nós tomamos banho, jantamos, olhamos televisão e deitamos. Todos respeitam as regras”, conta José Daniel Ferreira, 27 anos, que desde os 12 anos mora na rua, mesmo sua família sendo uruguaia não convive mais com eles. “Agora no inverno é pior, principalmente um amigo nosso morreu de frio. Tomei o mundo por conta desde pequeno e essa vida é complicada para quem não sabe levar”, comenta.
“A ideia do albergue é boa, já utilizei muito, mas agora não mais, durmo em baixo de uma casa abandonada. No abrigo nós tomávamos banho e tudo direitinho”, explica Luis Henrique Arce, 40 anos, que tem quatro filhas em Rivera. “Coloquei toda minha família fora, é difícil essa vida, tem que saber conversar e com quem conversar. Tenho andado mal, passo até frio”, diz.

Albergue Municipal está localizado na Rua Salgado Filho. Foto: Marcelo Pinto/AP.
Luis Henrique Arce, José Daniel Ferreira e Dilmar Correia,
moradores de rua. Foto: Matias Moura/AP.
Cláudia Santanna, coordenadora do CREAS. Foto: Marcelo Pinto/AP.

Por: Lauren Trindade – [email protected]

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