qua, 17 de abril de 2024

Aplateia Digital | 13 e 14.04.23

Última Edição

TRABALHO ENOBRECE… QUEM MESMO?

Buenas!

           Em pleno século XXI termos um dia específico para comemorar o dia do trabalho é algo um tanto desnecessário, pensaria um extraterrestre. Porém, se ele fosse nativo, saberia que esse artigo é tão raro e (desculpem a redundância expressiva) necessário à sobrevivência humana.

           Afinal, desde que entramos em idade apropriada para atividades laborais, precisamos estar preparados para a labuta. Claro, nem todos, pois alguns são privilegiados por famílias abastadas e podem estudar até o findar da carreira acadêmica, enquanto outros tantos, a maioria, como eu, tem de começar desde cedo a ajudar os pais na manutenção da subsistência familiar ou de suas despesas pessoais.

           Em um passado não tão distante, as crianças desde cedo iam para o campo ajudar seus pais a lavorar ou ordenhar, dependendo das condições geográficas e sociais. Não por acaso, o termo “proletário” foi cunhado para isso mesmo, designar aquele que depende dos filhos (e os fabricava em profusão para tão nobre missão) com o objetivo de dar conta de suas atribuições diárias.

           Dizem que o trabalho enobrece o homem, expressão deveras antiga, mas não muito valorizada por essas terras. Meus parcos leitores, perdoem esse cronista, pois irei generalizar um tanto, pois afirmo que nem todos são nobres assim. Uma bela parcela da população tem um perfil que difere, por exemplo, de um alemão. Lá, ele levanta às 6h da manhã e diz para sua fräulein: preciso arrumar um trabalho! Aqui, o bom brasileiro levanta após às 11h, toma café e resmunga com sua mulher: preciso dar um jeito de ganhar uma grana!

           Muitos que aí estão preferem isso mesmo, “ganhar”, o que difere muito da expressão “conquistar”, pois não gostam de enfrentar filas por empregos, artigo tão raro, mais ainda em tempos de comércio fechando suas portas devido à crise que segue par e passo nossa pandêmica política administrativa. Desconhecem, ou ainda, evitam as dificuldades para conquistar um trabalho, além dos riscos de contaminação por esse vírus tão medonho.

           Não falarei do brasileiro que rala dia e noite, mas do malandro. Sobre ele recomendo um romance da metade do séc. XIX: “Memórias de um sargento de milícias”, de Manuel Antônio de Almeida, um petardo na cultura brasileira, não só daquele tempo, leiam! Contudo, quero comentar um conto de Machado de Assis, tão educativo como tudo que ele escreveu. Aliás, vou abrir um parênteses: Machado não tinha de ser leitura obrigatória somente na escola, deveria ser exigido diariamente em órgãos públicos e privados, inclusive no meio político. O chefe deveria chegar no último dia do mês e sabatinar: – Quem acha que Capitu traiu, passa para cá; quem acha que não, passa para lá. Agora, vamos debater essa questão! Garanto que teríamos servidores com maior coerência e lucidez tomando decisões nesse país. Fecha parênteses.

           O conto “Suje-se gordo!”, publicado no final de 1800, é narrado em primeira pessoa por um homem que comenta sessões em que participou como jurado para decisões judiciais. No primeiro caso, um dos jurados, o Lopes, comenta sobre um acusado de desviar um valor irrisório de seu trabalho que: se vai sujar-se, “suje-se gordo!” Tanto eu quanto o narrador não entendemos muito bem o que ele queria dizer, afinal, o acusado não negava o desvio, mas afirmava ter agido de má fé por necessidade maior.

           Anos depois, participando de novo corpo de jurados, ele reconheceu o antigo colega de júri que apresentou a tese profética sentado agora na cadeira dos réus. Era acusado de um desvio de 110 contos de réis, uma fortuna! Durante o julgamento, Lopes manteve a postura altiva, negando sempre o crime, apesar das provas alegando o contrário. Sabem quem foi condenado? O primeiro, que lamentava o pequeno delito. O segundo, suspeito de ter se “sujado gordo!”, foi absolvido.

Ainda bem que não há mais pessoas arquitetando falcatruas no Brasil, né? Ops, eu leio jornais há décadas e sei que o brasileiro, em sua maioria, é trabalhador. Porém,  em uma significativa parcela, há aqueles que, dependendo da oportunidade, deixam aflorar o famoso “jeitinho brasileiro”. E isso não é de hoje, desde o descobrimento existem e abusam dessa índole, haja vista a quantidade de políticos que,  quando investigados, caem nas redes policiais. Esses representam o pior do brasileiro, cometem crimes hediondos, quando desviam verbas de escolas ou da saúde em plena pandemia que está demolindo as economias privadas e públicas.

           Então,  se trabalhar enobrece o homem, sugiro seguir essa linha, todos, inclusive e principalmente os maus representantes de nossa classe política. Nunca esquecendo que nós é que selecionamos quem está lá, tomando as decisões.

Aliás, uma forma de ajudar nessa seleção e, com isso, faço nova referência literária, recomendo ao eleitor aprender a “ler” os políticos como um livro, não só os avaliar pelas “capas” das redes sociais e por sua bela conversa pré-eleições, rapidamente esquecidas após a conquista do mandato.

       Recomendo, inclusive, que sejam sabatinados mensalmente sobre a leitura de uma boa e bela obra machadiana, por exemplo, ou outro dos grandes mestres de nossa abastada literatura brasileira. Garanto que teriam maior capacidade de gestar nosso futuro se fizessem debates mensais para saber se Capitu traiu ou não Bentinho, entre outros dilemas literários.

 

“A repetição de erros e estratégias não vai nos levar a caminhos diferentes”, afirma Lorenzoni na Federasul

No Tá na Mesa – reunião almoço da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul – desta quarta-feira (17), a pauta foi Impostos e seus Impactos sobre a Renda dos Gaúchos. Aberto pelo presidente da Federasul, Rodrigo Souza Costa, o evento teve na sequência a participação do presidente da Assembleia Legislativa em exercício, Paparico Bacci, e dos deputados Rodrigo