qui, 25 de abril de 2024

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Boate Kiss: “Agradeço ter saído viva”

Oito anos após a tragédia, sobrevivente fala sobre o dia que ficou marcado em sua vida
Santa Maria (RS) - Um ano do incêncio na Boate Kiss durante show na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. Entrada da boate (Wilson Dias/Agência Brasil/Arquivo)

Passados oito anos desde o trágico incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, que vitimou 242 pessoas e deixou 680 feridos, a santanense Simone Nicolini, sobrevivente da tragédia, relembra como foram os momentos após o incêndio e mostra as marcas que essa fatalidade deixou. Quase uma década depois, os quatro réus do caso ainda aguardam o júri popular, que não tem data para acontecer. Na melhor das hipóteses, ocorrerá em algum momento no segundo semestre deste ano.

João Victor Montoli – Como foram os primeiros dias após a tragédia?
Simone Nicolini – Os primeiros dias após a tragédia foram marcados por uma ambiguidade de sentimentos. A cidade que me acolheu tão bem para os estudos, chorava e silenciava. Meu coração sofria, por tantas imagens que aceleravam os meus pensamentos. Ao mesmo tempo, tentava de certa forma, agradecer pela oportunidade de ter conseguido sair bem daquele lugar. Sentia alívio, por mim e pelos amigos que estavam comigo, que nos salvamos. Não conseguia equilibrar sentimentos, até hoje quando lembro, não consigo… Fiz acompanhamento psicológico e médico. O Dr. Tiago Lopes me acompanhou e não tive sequelas significativas. Com muito apoio da minha família, amigos, consegui encontrar algum tipo de conforto para aquele momento. Senti muito pelas famílias que perderam seus filhos, agradeci por abraçar a minha. Apoiei-me mais ainda na minha fé. Foi difícil.

João Victor Montoli – Passados oito anos desde o dia do incêndio, como está sendo conviver com essas lembranças?
Simone Nicolini – As lembranças existem sempre. Não tem como esquecer, eu moro em Santa Maria e frequentemente passo pela Rua dos Andradas, local em que está o prédio da Kiss. Confesso que todo mês de janeiro, a vivência é mais intensa, a gente revive toda situação novamente, a cidade se mobiliza para homenagens e orações, clama por justiça, o jornalismo recorda. Ainda em algumas rodas de conversa, o assunto surge.

João Victor Montoli – Qual a sua opinião sobre a demora do processo que ainda se arrasta pela Justiça?
Simone Nicolini – Independente do resultado que virá deste processo jurídico, não irá devolver as pessoas amadas. Porém, trata-se de uma forma de respeito, de honrar e ter justiça, uma vez que, erros existiam dentro do estabelecimento e os frequentadores não tinham conhecimento sobre isso. Afinal, ninguém vai a algum lugar sabendo que tem riscos, né? A Justiça precisa acontecer justamente como forma de atentar e fazer com que tragédias como essa não aconteçam mais. Como mencionei, não irá trazer as pessoas amadas de volta, mas vai acalentar um dor, talvez acalmar um coração, encerrar uma situação, dar um destino também ao prédio do local, porque do jeito como está, causa sofrimento.

João Victor Montoli – O que ficou guardado como lição deste momento?
Simone Nicolini – A essa pergunta poderia me perder em linhas ao escrever, poderia expressar cada sentimento meu. Posso afirmar que depois do acontecido me transformei em uma nova Simone, meus valores ficaram ainda mais intensos, minha fé também. Sempre fui muito da família, mas fiquei ainda mais. Não poderia exemplificar em uma lição, mas sim em situações que devemos sempre encarar de forma melhor, vivendo cada dia bem, procurando fazer o bem, a vida é muito breve, um sopro. Não vale a pena, tanta preocupação, tanta briga, precisamos viver bem, precisamos estar próximos de quem a gente ama. Agradecer muito e que Deus cuide de nós!
Além de Simone, outros santanenses sobreviveram a tragédia e dois infelizmente perderam a vida no sinistro: Pedro Falcão Pinheiro e Dionatha Kamphorst.